A tragédia como força motriz para profundas mudanças

Ontem, 29, no início da noite, o Hospital de Urgências de Teresina confirmou a morte encefálica do paciente Francisco das Chagas Araújo Costa Júnior, o produtor cultural Júnior Araújo. Mas, desde segunda-feira, 27, já sabia que a situação era praticamente irreversível. O boletim de entrada de Júnior no HUT trazia uma informação que nos chamou a atenção.

O documento afirmava que o jovem deu entrada no hospital com "midríase fixa bilateral". A expressão técnica médica, nas condições em que ficou o corpo do produtor em decorrência do "acidente" automobilístico no final da noite de domingo, 26, era um forte sinal de óbito. O organismo jovem estava seguro pelos aparelhos, mas, de fato, só um milagre do comandante do universo para reverter o quadro.

Ciente disso, iniciou-se silenciosamente conversações para transformar em ações que hão de acontecer a partir de hoje. Nas redações jornalísticas, além da intensa cobertura para manter a população mobilizada, a estratégia é depurar este momento doloroso, enlutado pela tragédia de duas vidas ceifadas no auge da juventude, em paradigma de luta para a sociedade ultrapassar comportamentos que não condizem com o tempo em que vivemos.

Cartaz da campanha que mobiliza o país: #nãofoiacidente


Não foi acidente

Desde 2011 existe um movimento nacional que está em campo para mudar a legislação e torná-la mais rigorosa em casos de acidentes de trânsito em que o condutor, dirigindo sob o efeito de bebida alcoólica, seja enquadrado no crime de homicídio com dolo eventual, nos casos semelhantes ao dos membros do movimento Salve Rainha.

Além disso, trabalha-se para que qualquer condutor que seja flagrado conduzindo veículo sob efeito do álcool seja preso, com uma série de consequências que possam servir de exemplo para inibir ações desta natureza. A implementação da Lei Seca vem ganhando força com a mobilização da sociedade e, especialmente, pelas famílias e amigos das vítimas destes sinistros, que não podem mais ser amenizados ou atenuados.

Nas redes sociais, a hashtag #nãofoiacidente vem crescendo com os endêmicos casos e o apoio de campanhas de conscientização para mudar um velho hábito do brasileiro, que já passou do tempo de parar definitivamente: beber e dirigir. A associação mortal de álcool e direção leva ao HUT, em média, 84 indivíduos acidentados por dia, segundo o diretor do hospital, Dr. Gilberto Albuquerque.

Post endêmico na social media

Somente neste ano, a Secretaria de Segurança do Piauí aponta para a triste estatística de quase 80 pessoas mortas no trânsito por acidentes em que o fator álcool foi definitivo. Casos como os dos jovens irmãos Bruno Queiroz e Júnior Araújo são mais comuns do que se imagina. Graças a superlativa cobertura midiática que o caso vem recebendo é que se toma noção da dimensão espantosa e catastrófica de fatos desta natureza.

No Brasil, cerca de 35 mil pessoas morrem anualmente vitimadas por aquilo que não podemos mais chamar de acidente. É homicídio sim. E doloso. Porque quem assume o volante de um veículo alcoolizado deve também assumir todos os riscos e a responsabilidade penal em casos de mortes no choques de carros, motos, atropelamentos de ciclistas e pedestres e/ou quaisquer outras modalidades que terminem fatalmente da pior maneira.

Experimente colocar em um site de pesquisas a expressão "não foi acidente" e veja como é relevante o número de grupos que estão organizados para fazer uma mudança na lei, envolvidos em campanhas educativas e mobilizados de diversas maneiras para que o trânsito seja cada vez mais seguro. E mais ainda, que a preservação da vida seja a maior vitoriosa nesta grande luta. Abaixo, o documentário que esclarece didaticamente todo o movimento.


Veículos de comunicação em campanha pela vida

Os jovens jornalistas piauienses vêm se desdobrando nas redações e nas ruas para investigar a fundo todos os detalhes do sinistro do último domingo, onde o jovem Moacir Moura da Silva Júnior, condutor do veículo Corolla, na cor preta, colheu violentamente o fusca onde estavam Bruno, Júnior Araújo e Jáder Damasceno.

Um verdadeiro show de cobertura, que materializa por meio de fatos toda a indignação e revolta de grande parte da sociedade, que não suporta mais assistir passivamente jovens e promissoras vidas serem arrebatadas prematuramente. Já circulam imagens do momento exato do crime. Encontrou-se uma testemunha fundamental para esclarecer às autoridades o que ocorreu na noite do último domingo e, incansavelmente, continua-se a vasculhar tudo o que for possível para que a impunidade não seja a tônica desta triste história.

Simultaneamente a dor das perdas, toda esta mobilização que deixa as redes sociais repletas de belas mensagens em torno da memória de Júnior Araújo, principalmente, a TV Antena 10, em parceria com Agências de Propaganda, pôs em andamento uma grande campanha publicitária para mudar este cenário desolador. Não é possível que vamos ter que derramar mais lágrimas e entre lamúrias apenas lamentar a partida de tão preciosos talentos.

Jornalistas e sociedade não admitem a impunidade

Certamente é o ponto de partida que vai contagiar outros veículos de comunicação e a sociedade como um todo. A morte dos meninos do Salve Rainha não vai ficar impune. A comoção que abate toda a sociedade piauiense não vai ficar apenas entre lágrimas que escorrem, mas a ação proativa há de servir como lição para que mudemos de atitude e consequentemente mude-se este cenário lastimável, visando alterar futuras rotas de colisão e evitando que ocorram casos com outras vítimas.


Salve Rainha, Rei, Princesas, Príncipes e plebeus

No ano passado, estive em uma das festas dominicais Salve Rainha, que aconteceu sob a ponte Juscelino Kubitscheck. Fui ver de perto a vibe e a grandiosa mobilização de cabeças pensantes da contemporânea cena artístico-cultural mafrense. Fiquei impressionado com a diversidade que estava concentrada harmoniosamente, aquecida pela energia de pessoas descoladas e pelo calor que emanava do concreto às margens do Rio Poty.

Quando estava saindo, procurei fazer uma estimativa do público presente naquela noite de domingo, por volta das 22h. Calculei que havia cerca de 7 mil pessoas, no mínimo. Uma sensação de bem-estar, de vida pulsante, de gente pensante, de paz e amor vibrantes. É apenas justiça afirmar que o idealismo inovador e empreendedor de Júnior Araújo e sua turma mudou o cenário dos domingos teresinenses, antes inertes e tediosos.

A cidade está cheia de coletivos que vêm fazendo um trabalho primoroso na mobilização pela preservação do patrimônio arquitetônico, pela construção de novas oportunidades e espaços para a circulação de artistas, suas obras, bem como toda a gama que dá liga a um movimento que muda o eixo do protagonismo cultural, anteriormente apenas nas mãos do poder público. Tudo acontecendo de forma mágica, com a força do ativismo que traz a reboque a luta contra toda forma de preconceito, fomentando uma sociedade mais justa e igualitária.

Imagem que está disseminada nas redes sociais

O Salve Rainha é o mais vistoso deles e o que consegue reunir o maior número de participantes no mesmo lugar. Este belíssimo legado desfraldado como bandeira multicolorida dá seu primeiros passos. O legado construído até aqui pela força catalisadora de Júnior Araújo deve ter prosseguimento. A mínima homenagem que podemos render a este jovem que partiu tão cedo é fortalecer o movimento. Quem sabe todas as mudanças claras e embutidas nesta construção possam servir para reformatar uma sociedade mais aprimorada em seus reais valores.

Júnior nos deixa uma grande lição. Do meio de uma demolição, de um prédio abandonado ou de um vão de uma ponte, a vida pode surgir potencializada como algo a ilustrar e fazer brilhar o que temos de melhor. Em nossas diferenças há plenas oportunidades para construir fundamentos para sermos mais tolerantes e desfilarmos toda a beleza que carregamos em nosso íntimo. Seduzindo toda uma sociedade com arte, bom gosto e a expressão maior para o exercício do amor. Não é sonho, delírio nem fantasia: "...acredita que acontece!"

A tragédia deve servir para mudar hábitos mortais

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Como fica a política piauiense após o afastamento de Dilma?

A ressaca grassa de norte a sul do país. Para uns, a consequente sede e o delirium tremens, mas dulcíssimo, temperado pela vitória em taças de cristal, borbulhando champagne da Borgonha do lagar de uvas pinot noir. Para outros, o sabor amargo com gosto de cabo de guarda-chuva a impregnar a boca pela mais rasteira das aguardentes de alambiques improvisados e cana de terra pobre em npk.

Mel e fel foram servidos em um lauto banquete no menu diverso em bandejas de prata, observadas pelas paredes azul royal do Senado Federal, afastando a presidente e alçando o vice ao posto maior da República. Sob o efeito embriagado da democracia, alguns bradam que é golpe. Obrigados a engolir a massacrante vitória pela admissibilidade do impeachment, a dor de cabeça tornou-se mais forte ao amanhecer do dia.

Como prometi no texto anterior, é hora de conjecturar os reflexos à política piauiense com a mudança de cenário. Pra começar, os papéis foram invertidos. Quem era governo é oposição. E quem era oposição agora é governo. Lembrando que o PP e o PSD trocaram de lado antes. Antes até da votação na Câmara Federal. Só para configurar o posicionamento de agremiações com representatividade no Congresso.

Themístocles Filho (PMDB) e Wellington Dias (PT)


Quem sai fortalecido?

Com Michel Temer na presidência, o PMDB é o partido que mais ganha força política. João Henrique e Henrique Pires foram alçados a uma posição extremamente confortável pela proximidade com o novo mandatário presidencial. Mas o poder está centrado em quem tem mandato e comanda a casa legislativa piauiense. Leia-se com clareza: Themístocles de Sampaio Pereira Filho. Ou simplesmente Theté - codinome carinhoso que tratam os íntimos.

O deputado Themístocles Filho é a figura política de maior poder no Piauí, dividindo o cetro com o governador Wellington Dias. Além da presidência da Alepi, torna-se o interlocutor que pavimenta a ponte de acesso ao presidente com maior desenvoltura. Como chefe do legislativo mafrense, pondera as ações do governo. Sem a concernência dele, WD teria dificuldades de manter a governabilidade.

O PSB é o partido de maior número de parlamentares federais. De 10 deputados, três são do partido socialista: Átila Lira, Rodrigo Martins e Heráclito Fortes. Este último, é apontado como o grande articulador junto aos demais parlamentares como o estrategista que elaborou a chegada de Temer ao Palácio do Planalto. É liderança em ascensão, com grande chances de assumir a presidência da Câmara em nova legislatura, caso Waldir Maranhão não se sustente.

Heráclito Fortes tem motivos de sobra para fustigar os petistas. Vitimado pela perseguição implacável das lideranças do PT como questão de honra em inviabilizar sua candidatura no pleito de 2010, quando lançou-se ao Senado, amargou a derrota. Depois de 4 anos no limbo político, sem mandato, conseguiu eleger-se novamente. Agora simboliza com perfeição a expressão "a vingança é um prato que se serve frio". 

Por tabela, o ex-governador Wílson Martins (PSB), também amealha pontos no jogo político com a mudança no poder central. Vitimado pela não eleição ao Senado em 2014, é exemplo similar ao de Heráclito. Também foi acossado pelo Partido dos Trabalhadores, apontado como traidor. Atualmente é procurado para assumir cargo federal de escalões inferiores no governo Temer, mas, deve declinar e aguardar um próximo pleito para voltar à berlinda.

Júlio César (PSD) deixou para os momentos finais para definir seu voto na Câmara, valorizando-se. Na cerimônia de "posse" do presidente em exercício, estava firmemente ao lado da mesa, apoiando-se nela. Certamente deve ampliar o poder do partido no Piauí, com indicações de cargos federais na nova composição. Distribuição encimada pela matemática relativa e proporcional ao apoio dado.

O senador Ciro Nogueira (PP), que sempre esteve ao lado de Dilma, agora está de braços dados com o presidente em exercício. Na banca das negociações, seu partido levou o Ministério da Saúde, um dos mais disputados e outros cargos de grande monta no segundo escalão. Ainda é cedo para avaliar, mas, provavelmente, aumentou o quinhão no cômputo geral da representatividade política.

Ciro Nogueira (PP) deve manter a aliança com WD


Quem sai enfraquecido?

Com o afastamento de Dilma, o PT é o mais penalizado. O rompimento colocou o Partido dos Trabalhadores como líder da oposição ao governo de Temer. O dinamismo da política é tão potente que num passe de mágica o poder esvai-se das mãos como grãos de areia da praia. Isolada, a agremiação da presidente vai viver um calvário político sem precedentes.

Há um grupo numeroso de representantes políticos, com e sem mandato, que alimentam uma onda desde antes da reeleição de Dilma. O antipetismo é uma realidade dura que os filiados e simpatizantes do PT vêm enfrentando e vão enfrentar. Para muitos, enquanto seus principais líderes não estiverem inelegíveis, não vão descansar. 

É um posicionamento extremista alimentado pela dicotomia política direita versus esquerda. Muitas vezes, assistimos a imagens, especialmente nas redes sociais, de posturas que beiram à sandice perversa da ignorância orquestrada pelo extermínio ideológico de um grupo em benefício de outro. Todos saem perdendo, mas os partidos de esquerda mais ainda. Vão precisar se reinventar para manterem-se representativos no panteão partidário.  

O enfrentamento puro e simples ao movimento antipetista vai apenas endurecer a luta. Sábios seriam se recuassem estrategicamente. Talvez seja o momento de reagrupar, repensar, replanejar e partir para uma reconquista do eleitorado. Com plataformas de bandeiras políticas renovadas, oxigenando as lideranças, em busca de novos simpatizantes, podem retomar sua importância no cenário nacional. Literalmente mudando a cara do partido para garantir sua sobrevivência.  

Entre os líderes, o deputado Assis Carvalho deve perder bastante espaço. Além de seus indicados a cargos federais, o comando da bancada piauiense deve sair de suas mãos. Mais do que normal. Como é que um parlamentar que afirma categoricamente que "não reconhece governo golpista", referindo-se a Temer, pode ser o líder dos parlamentares piauienses? Todos os caminhos apontam para o deputado Átila Lira como o novo líder da bancada.

O deputado Marcelo Castro, mantendo-se fiel à presidente Dilma até o seu último instante, perde espaço no governo Temer. Seus indicados nos cargos federais já sofrem represálias. Para compensar, o governador WD tenta garantir-lhe posições no governo estadual. Mas o deputado peemedebista não vai acomodar-se com facilidade na saída traumática. Depois de uma quarentena, o PMDB deve conceder-lhe o "perdão". 

Elmano Ferrer, que anunciou que votaria a favor da admissibilidade do impeachment, capitulou após um recepção fervorosa de petistas ao desembarcar no aeroporto de Teresina. Sob acusações de golpista e traidor, teve sua imagem massacrada pela filmagem viralizada nas redes sociais. O senador voltou atrás e votou contra o impedimento de Dilma. Há quem diga que após acertar-se em acordo político visando a prefeitura de Teresina. 

Contudo, a visibilidade de Elmano fica arranhada pela dúvida que pôs na confiança de sua palavra. O "véin", que recebeu todo o apoio do grupo de WD nas eleições de 2014, saiu de azarão a eleito com folga sobre seu principal adversário na disputa ao Senado, Wílson Martins. A dívida de gratidão foi cobrada veementemente no episódio que passa a história. Pode vir à tona a qualquer momento se fraquejar na votação final do impeachment

João Henrique Sousa está cada vez mais articulado


Pacto pela governabilidade

O governador Wellington Dias tem dois anos e meio de mandato pela frente. Sua posição é delicadíssima. Toda a sua inteligência de estrategista político vai ser posta à prova. Com a reconfiguração do cenário, qualquer passo deve ser bem estudado. O terreno mudou. O partido que representa está em momento de provação profunda. 

Parte de sua militância está com a faca nos dentes e quer vingança. No mínimo, a retirada impiedosa dos que votaram contra Dilma. Mas em política, não é de rompante e posições fronteiriças que se vive. Muito menos se sobrevive em ambiente hostil, com adversários numerosos, partindo para uma briga movida pela desforra.

Mais do que nunca, WD deve mostrar duas de suas evidentes virtudes: o diálogo e a articulação. Enquanto a raia miúda pinta a cara para ir à guerra, o governador deve estar esfriando a cabeça para pensar melhor, encontrar o momento oportuno para fumar o cachimbo da paz com seus novos adversários e refazer as alianças.  

Muito acima das questões partidárias está a governabilidade. Um pouco mais adiante, encontra-se a reeleição. Ou não. Do que adianta sair em defesa cega da presidente afastada, distendendo mais ainda as relações, perdendo a sustentabilidade político-econômica de seu governo e inviabilizando um novo mandato em 2018?

Dias é um homem de partido. Com certeza vai conservar firme a defesa da presidente, mas há de encontrar o meio-termo para uma postura ponderada em que o Estado do Piauí não saia perdendo com suas atitudes. Sua capacidade de diálogo com opositores é um trunfo. Sua articulação e bom trânsito com todas as forças políticas o credenciam a tirar de letra as dificuldades tingidas pelas contingências.

WD deve reconstruir o PT


O PT piauiense pode ser o bom exemplo

Quando o ex-presidente Lula procurava um sucessor, o nome de WD foi ventilado muitas vezes para ser o escolhido. Nos dias que antecederam o afastamento da presidente, em análise com outros colegas, lembramos do fato e consideramos que se Wellington fosse o escolhido para suceder Lula, certamente o PT não viveria este momento de ruptura. Pois o que lhe sobra em diálogo faria a diferença no colóquio com o Congresso. O que faltou à presidente. 

Creio que WD vai ser resiliente o suficiente para superar este momento instável e proteger a governabilidade. Sua perspicácia política será capaz de encontrar o ponto de convergência de interesses do Estado, reunindo em torno de si, mais uma vez, a articulação e confiança de seus pares. Além de manter o Piauí ileso às consequências mais contundentes da crise político-econômica, vai assegurar seu nome e garantí-lo viável à reeleição. Alguém duvida? 

Entretanto, o governador não estará dando as cartas sozinho. Vai ter que dividir o comando do jogo, especialmente com Themístocles. Ambos são excelentes negociadores. Em 2018, um vice do PMDB em chapa com WD para a disputa ao governo é tão forte que não pode ser considerada mera especulação. Quem sabe o vice seja o próprio Theté. 

O pragmatismo político de Wellington já deve considerar o não retorno de Dilma. O sucesso do governo do PT do Piauí pode ser a tábua de salvação do partido, visando uma reconstrução em nível nacional. Uma administração bem-sucedida há de tornar-se o princípio de referência para a transformação da agremiação neste salto que se faz necessário. Dos erros, aproveita-se a oportunidade, a lição para o acerto.

  

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Um bom Brasil pra você também

O Brasil virou de pernas pro ar nos últimos dias. Mudanças profundas. Bem ao nosso brazilian way of life: de preferência, nos acordos e conchavos. Sem nem um tiro, que não seja bala de borracha. Sem sangue. Sem excessos. Muitos protestos, sim. Mas todos dentro da normalidade. Nada que uma chiringada de spray de pimenta não resolva. 

O cetro do poder central mudou de mãos. A população dividida, sem saber quem fica e quem sai, mostrou sua preocupação. Na base da pirâmide, a inquietação redundava em variações sobre o mesmo tema: os benefícios sociais. "E o bolsa família?"; "E o Minha Casa, Minha Vida?"; "E o Fies?" - os programas que mudaram a cara do Brasil. Facilitando o acesso a bens de consumo aos menos abonados.

No discurso de "posse" do presidento (sim, por que não?) em exercício, Michel Temer, ouviu-se tudo o que o povão estava querendo saber. A operação Lava Jato, segue firme e forte. Esperamos que sim. E sacou velhos anseios dos mais politizados: um novo Pacto Federativo e a tão aguardada reforma da Previdência. 

A firmeza das palavras de um homem talhado para exercer o poder deixou claro e evidente que a postura que sugere a liturgia do cargo mais importante da República está "muito bem, obrigado!" A fineza e elegância de Michel estampava o momento construído pela ex-oposição. De antigos jogadores de pedras, passaram a telhado com a assinatura da notificação do afastamento da presidenta Dilma.

O que esperar para o Brasil?

Com a reforma ministerial, Temer agrada a muitos. A engenharia política para reduzir os 39 ministérios de Dilma dá a dica que ele sabe de fato gerir seus pares. Expertise de longas datas, determinadas pela convivência como tribuno na Câmara Federal, vai precisar dela para aprovar as mudanças de um governo com cara de reformador.

Foi na fonte e acertou-se com os velhos caciques. Sem eles, o clã deságua. Com eles, navega serenamente. Refletidos em seus ministros, estão as forças que representam mais fortemente as tendências no parlamento. Disso ele entende como poucos. E com o auxílio de seus conselheiros mais próximos, não terá grandes resistências. Especialmente considerando que os que votaram a favor da admissibilidade do processo de impeachment de Dilma estão a seu favor.

Os dividendos e as custas do poder assumido, com a caneta fortalecida, tem o traquejo que era ausência ululante na administradora afastada. Diálogo talvez tenha sido o termo mais repetido entre suas palavras. Muitas conversas para acertos a promover um governo que tem que fazer o dever de casa. Recitando uma frase que disse ter visto em posto de gasolina: "Não me fale em crise, trabalhe". A alegoria tinha que ter uma referência indireta à Petrobras e, obviamente, aos desmandos "propináticos" e "pixulecóticos" que renderam argumentos à derrubada da presidenta.

Aposto sem assombros que o presidento Michel Temer vem que vem com tudo. Mesmo com 7 citados na Lava Jato em seu staff, não há entre eles réus nem muitos menos algum que tenha sido conduzido coercitivamente. Não há mulheres nem negros. Mas quem disse que não estão representados? E é realmente necessário estarem nas esferas de poder administrativo para obrigatoriamente garantirem seus direitos? Se fosse assim, todos os problemas que orbitam estariam sanados no governo passado, que teve quase 13 anos para fazer, entre outras coisas, a tão sonhada reforma agrária.

Michel Temer, presidente em exercício (reprodução/internet)

A pasta da Educação foi fundida com a Cultura. É preocupante? Sim! Mas vamos ver o que acontece. O MinC foi muito bom, mas apenas no governo Lula. Há quase 6 anos vem definhando com cortes sistemáticos de verbas. A PEC 150/2003 nunca foi aprovada, porque não era prioridade para o governo. Quem não for do ramo, pesquise. Era um ponto fundamental para a Cultura ter realmente capacidade de ser transformadora neste país. O máximo que o segmento recebeu nas diretrizes orçamentarias da União foi quase 1%, no primeiro governo de Luiz Inácio. De lá pra cá, vem apenas decrescendo.

Sobrarão argumentos para apontar defeitos e resistências a quaisquer deslizes fazendo volume nas gargantas oposicionistas. Cada um faz o seu dever. Há quem governa e há quem se oponha. Apenas mudou de lado. Mas não foi eleito pelo povo. Alto lá. Não enganem a si nem aos outros. Os mesmos votos que elegeram Dilma, trouxeram Temer à vice-presidência. A chapa foi constituída pelos dois. Há quem diga que se fossem apenas os dois sozinhos na arena, talvez ele arrebanhasse muito mais sufrágios. 

Temer só tem esta chance. Dois anos, seis meses e vinte dias. Este é o prazo para realizar uma imensa demanda de interesses que lhe garanta a projeção de um nome de seu partido ou da coalizão de agremiações que representa para viabilizá-lo no próximo pleito. Alguém duvida que ele não estará empenhado em fazer um governo popular? Creio firmemente que sim. Não vai deixar passar a oportunidade única de estampar seu nome à posteridade pelo viés das grandes realizações.

O mercado vai se acalmar. Os números que esfacelam a economia entrarão num escopo mais digerível. Em menos de um ano, com as medidas que promete fazer, estaremos com índices mais favoráveis. Com o desemprego em redução, o dólar em patamares mais manejáveis e a inflação sob o controle do coeficiente de um dígito, e baixo. A ponto de muita gente, principalmente o povão, não sentir a menor falta de quem se foi. Porque certamente não voltará. No próximo texto, vou lançar um olhar para as consequências ao panorama político piauiense. 

Favas contadas

Brasileiro de boa cepa. Aquele ou aquela que quer o bem do Brasil, sabe que o governo Dilma não tinha saída que não fosse a que consumou-se no início da manhã de hoje. A peça jurídica que defende o impeachment é frágil sim. Mas não é fantasiosa. Está fundamentada suficientemente para garantir seu afastamento. 

Sem o Congresso, não se governa. Dilma foi uma grande invenção que foi bem longe. Arquitetada por Lula, sem talento para o trato político, patinou, escorregou e caiu exatamente onde lhe faltava traquejo, o diálogo com parlamentares e sua consequente construção da viabilidade de votação positiva de matérias de interesse do governo nas duas casas legislativas do país. 

Ela é guerreira. Foi preparada para grandes lutas, mas não para lidar com lideranças e construir pontos comuns de interesse no trottoir, no jogo de cintura e na sedução necessárias para governar. Presidência da República é para quem tem perfil de negociador. Para quem tem a capacidade de resiliência sim, mas de muita criatividade, elegância e boas maneiras para atender com fidalguia a todos, inclusive os adversários. Jamais para quem está a postos para o enfrentamento. 

A confecção das alianças políticas se dá em um plano de alto nível das relações humanas. É preciso ter tirocínio e perspicácia em gradiente muito superior da maioria das pessoas. O marketing pode até dar visibilidade. As palavras de um discurso escrito facilitam o feedback da mensagem. O media trainning pode render um bom desempenho em frente às câmeras. Mas é o face to face que é primaz para sustentar uma relação política de confiança mútua. Vira a página. E como diz o presidento em exercício: "Um bom Brasil a todos!"  

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Morgana e o Transtorno do Ciúme Iminente

Ela padecia de TCI, Transtorno do Ciúme Iminente. Ainda pouco conhecida entre as patologias clínicas de amores mal resolvidos, vagava em seus labirintos sem lenitivo nem consolo. A criatividade em urdir provável traição de seu amado fazia o juízo rodar mais que os casais nos áureos tempos das valsas vienenses. Era um presente sem passado, que deixava marcas profundas a um futuro descolorido. Traumas produzidos sem motivo, cortantes, dos quais não sabia escapar.

A cegueira da desconfiança de Otelo por Desdêmona, incentivada por Iago, era branda na construção do mito da perfídia clássica eternizada por Shakespeare. Ela não precisava de ninguém a incentivar qualquer suspeição. Do veneno que impregna a alma pelo ciúme, era geradora e consumidora, autossuficiente. Em alimentação permanente, mantinha-se intoxicada pelo receio que seu amor se apegasse a outra.

Cartaz do filme Otelo, da obra de William Shakespeare e direção de Kenneth Branagh (reprodução/internet)

Morgana passava noites insones ao lado de seu escolhido. Olhava-o em sono profundo e projetava em seus devaneios quais artimanhas ele estaria escondendo para não pacificar seus pressentimentos. Era movida pela intuição doentia. Uma bússola avariada que a fazia dar voltas em círculos em torno de seu coração combalido. As batidas seguiam em descompasso, levando-a por caminhos tortuosos e ermos.

O desgaste da relação, motivado por desentendimentos constantes em torno do medo de ser enganada, filtrou as cobranças. Ela silenciara. Considerou não mais aborrecê-lo com perguntas acusadoras. Antes do acordo, a ciumenta partia agressivamente em inquisições de detalhes existentes apenas em sua mente perturbada pela gelosia, como dizem os catalães, ascendentes de sua família Cardona.

Samir amava-a profundamente. Nunca a traíra. Apenas uma vez chegou em casa com um perfume feminino impregnando a camisa. Era inocente. Fora vítima do ardil feminino. Uma "zinha", como classificava Morgana, atirou-se nos braços de seu amado, mal-intencionada. Ele era um homem arrebatador. Do tipo que acendia paixões na fila do supermercado. Não era a beleza que o destacava. Apenas masculinidade sobrando por todos os poros.

Era isso que roubava-lhe a paz. Morgana estava certa do potencial sedutor de seu partner. Apaixonada até o último fio de cabelo, sabia do que ele era capaz de fazer a um miocárdio desprevenido. As amigas não a visitavam mais. Somente se Samir não estivesse em casa. A maioria foi reprimida ao ser flagrada em olhares fortuitos ao alvo de seu zelo enfermo. A descompostura afastou até as mais chegadas. Amizades forjadas na infância não resistiram à moléstia enciumada.

Às vezes, Samir era cruel. Ciente que ela não mais demonstrava os sintomas traiçoeiros em sua frente, deixava falsas pistas para medir o grau de TCI. "Esquecia" nos bolsos das calças pequenos papéis em branco. Nada escrito. Mas era o suficiente para o sinal de alerta exasperar o coração maltratado. Morgana cheirava o objeto. Olhava frente e verso várias vezes. Punha contra a luz. Queria encontrar uma pista oculta existente apenas em seus delírios. Uma mensagem cifrada, talvez. Como era sofrida.

"Ciúme em dose leve, tempera a relação." (reprodução/internet)

As senhas compartilhadas das redes sociais, telefones e outros aparelhos faziam parte do pacto de confiança imposto por ela. Ainda assim, não se dava por contente. Supunha que Samir apagasse os recados antes de chegar em casa. Dava incertas no escritório do arquiteto para pegar o celular e vasculhá-lo em busca de fotos e outros possíveis vestígios que sanasse o desejo de saber o que não queria. Tudo em vão.

A amante era ela. Exclusivamente. A dedicação a mantinha cada vez mais criativa. O leito era aquecido com novidades. Sempre havia algo a surpreender o bem amado. Novas técnicas para prolongar o prazer. Comidinhas afrodisíacas renovavam o cardápio e roupas insinuantes incendiavam a relação. Morgana era bela. A balzaquiana mantinha uma silhueta inspiradora. Pele, cabelos, mãos e pés irretocáveis. Cuidava-se detalhadamente. Não dava oportunidade ao azar.

Mas tudo tem limite. Certa vez, Samir a pegou com a mão no ralo de seu banheiro privativo do trabalho. Ajoelhada no box, a caliente esposa recolhia tufos de cabelos. Comparava-os entre os dedos, selecionando fio a fio para encontrar algum que não fosse o dele. Foi a gota d'água. 

O Transtorno do Ciúme Iminente era humilhante. Furtara seu brio. Assaltara sua dignidade. Do monstro que criara por dentro, sobrara a casca de uma linda mulher. O amor é um espetáculo como o nascer do sol. A paixão arde como fogo em uma noite sem lua. Mas o ciúme corrói como ácido sulfúrico, devorando tudo o que encontra pela frente. Como dizia Alceu Valença em "Romance da Bela Inês": "O ciúme é a véspera do fracasso. O fracasso provoca o desamor."

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Obra de Rubens Lima será reunida em CD e DVD

O médico Rubens Lima vai ter sua obra incensada como merece. Os amigos do Doutor estão reunindo gravações de canções que ele interpretou de artistas piauienses para lançar um CD. Segundo o médico Viriato Campelo, a coletânea está em fase de pesquisa, que deve redundar em pelo menos doze fonogramas. O resgate póstumo faz parte de uma sequência de homenagens que os amigos vão prestar, deixando à posteridade boa parte de seu trabalho artístico.

Viriato Campelo, médico e produtor cultural (Willian Tito)

Além do CD, que ainda não tem título específico, o DVD com o show em que Rubens celebrou seus 40 anos de atividades dedicadas à arte também será prensado para posterior apresentação. Ainda em processo embrionário, a reunião de boa parte dos feitos do cantor Lima tem data apenas prevista para ser lançada. Provavelmente até meados de julho a teremos disponível, conforme adianta Campelo.

Canções de Geraldo Brito, Magno Aurélio, Carlos Galvão, Edvaldo Nascimento, Cruz Neto, Rubinho Figueiredo, George Mendes, Paulo José Cunha, entre outros, devem figurar no disco. O perfil de Rubens teatrólogo também será lembrado. Em novembro, mês em que o artista completaria 65 anos, uma de suas peças, que marcou época na cena mafrense, deve ser remontada. "Mata-me com teus beijos" vai ganhar um remake.  

Na mesma época, os amigos de Rubens Lima devem realizar um grande show, com participação de nomes que sempre estiverem próximos ao artista, para celebrar seu aniversário. Todos os eventos, CD, DVD, peça e show serão realizados no Theatro 4 de Setembro. Uau! Que notícia alvissareira, que damos em primeiríssima mão! Lima merece todas as loas. Os que ainda não conhecem sua obra terão uma ótima oportunidade de selar acesso a um lado fino e cool do crème de la crème, com marca registrada de piauiensidade. 

Rubens Lima, médico, cantor e teatrólogo (reprodução/internet)

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TV Antena 10 reforça time de jornalistas visando as eleições

A TV Antena 10 investe no time de jornalistas para reforçar sua equipe, visando as eleições municipais deste ano. O novo contratado, que estreou na noite de hoje, 18, foi o veterano jornalista piracuruquense, Francisco Magalhães. Sendo que o novo contratado é fundador da emissora, onde estreou em 1989. Com o quadro "Ligeiro Bala", Magalhães vai focar em política, mas vai abordar os principais assuntos em destaque.

Com a visão crítica e aguda da realidade social, Francisco vem somar com sua vivência nas redações. A estrada é longa, com passagens por diversos veículos de comunicação. O comentarista traz na bagagem a experiência em todas as modalidades de jornalismo, seja na cátedra ou na prática. Além de professor do curso de Comunicação Social da UFPI, Magalhães passou por rádio, jornal, portal e TV.

Francisco Magalhães e Arnaldo Ribeiro, em dobradinha no Cidade Alerta

A TV Antena 10 já está ultimando toda a estratégia de cobertura das eleições deste ano. O Vota Piauí, traz entre seus principais programas os já festejados: Sabatina Antena 10 e Fogo Cruzado, que renovam e inovam a forma de apresentar contundentemente os candidatos aos eleitores. Além de um grande time de repórteres, em sua maioria bem experientes, agora reforça a equipe com um portentoso time de comentaristas, que se destacam pela qualidade.

Magalhães deve manter um ritmo de duas a três intervenções no programa Cidade Alerta, apresentado por Arnaldo Ribeiro, campeão de audiência no horário. Ganham os telespectadores, que agora contam com mais um jornalista de grande envergadura a destrinchar os fatos do cotidiano, bem como desvendar e decifrar a melindrosa pauta política.

Em sua estreia na noite de hoje, o jornalista de Piracuruca abordou os bastidores da votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff e as suas consequências para o estado do Piauí. Ainda mostrou sua visão sobre a violência, quando a população decide fazer "justiça" com as próprias mãos. A dobradinha Arnaldo Ribeiro / Francisco Magalhães - Campor Maior / Piracururca, dois grandes comunicadores do norte do Piauí, que vêm acrescentar à programação televisiva no início da noite e elevar o nível da comunicação piauiense.

Magalhães e Ribeiro, reforçando a audiência da TV Antena 10

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"Crise de Riso" é a boa pedida para deixar o fim de semana mais leve

Da crise ninguém escapa, mas há escolha. É tanta confusão que a nação está atravessando. É crise política, econômica, moral, ética, institucional...mas há uma crise boa. O humorista Dirceu Andrade está em cartaz no Theatro 4 de Setembro este fim de semana. Hoje, sábado, e amanhã, domingo, sempre às 20h, tem "Crise de Riso".

Dirceu Andrade em cena no espetáculo "Crise de Riso" (assessoria)

O espetáculo, o mais novo na grande carreira do humorista, traz como pano de fundo os reflexos do que vivemos. Claro que a leitura é com o supra sumo do bom humor. Fui assistir e adorei. Ri muito e saí leve, porque o riso tem essa capacidade terapêutica de nos deixar pra cima e confiantes. São cerca de duas horas sublimando as dificuldades com o melhor remédio pra tudo: o bom e velho riso.

Andrade inicia o espetáculo de cara limpa, no melhor estilo stand up comedy, em seguida, vai desfilando seus personagens e imitações. A imitação que faz do apresentador da TV Antena 10, Mariano Marques, é impagável. Faz com perfeição uma das grandes figuras contemporâneas da sociedade piauiense. Ele simula o programa no ar, ao vivo, inclusive com os intervalos. Adriano Marcos agradou até o original. Olha os dois aí na foto abaixo.

Apresentadores Mariano Marques e Adriano Marcos (Dirceu Andrade)

Dos tempos bicudos em que estamos inseridos, ninguém pode escapar, mas a gente pode escolher como atravessar este deserto. Creio que umas boas doses de bom humor são fundamentais para suportar a crise. Com riso fica bem melhor. Com a capacidade ímpar de fazer sorrir de Dirceu Andrade, melhor ainda. Vale a pena confeRIR!

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Memória Fotográfica: o assento inusitado do pensador

A fotografia está a 9 dias de completar 9 anos. Está datada de 24 de abril de 2007. A figura em destaque é o diretor e autor teatral, Arimatan de Sousa Martins, nosso geniozinho dos palcos. Ari, como o chamamos carinhosamente no universo das cênicas, é um dos homens mais inteligentes do estado. Sua espirituosidade e agilidade com a linguagem é algo impressionante. Não conheço ninguém que tenha uma velocidade de pensamento tão acelerado.

Com uma capacidade de fazer leituras bem-humoradas de quase tudo, ninguém escapa de sua vivaz construção e desconstrução através de trocadilhos e piadas feitas de chofre. Mas é ninguém mesmo. Nem ele (gaitadas). Ou seja, é diversão garantida estar perto desta criatura de grande cultura, conhecimento profundo das artes em geral e realizador de bens culturais com grande originalidade. Em suas montagens pelo grupo Harém, já desenvolveu produtos artísticos que estão consagrados e com lugar certo na história das artes cênicas piauienses.

"Raimunda Pinto, Sim Senhor!", de Francisco Pereira da Silva; "O Auto do Lampião no Além", de José Gomes Campos; "O Vaso Suspirado", também do campomaiorense Chico Pereira; "O Cavalinho Azul", de Maria Clara Machado; "A Lenda do Vale da Lua", de João das Neves; são algumas das montagens lindíssimas que têm o toque mágico de sua direção, que certamente o põe entre os maiores de sua época, em nível nacional. Tão bem executadas, que emocionam profundamente, fazendo o miocárdio bater mais forte.

Afora outras muitas direções de shows, espetáculos de humor, performances, Ari sempre surpreende pela capacidade de superar com seu rigor de qualidade. Uma certeza que temos de algo em que esteja envolvido é de que vai sair alguma coisa muito interessante, criativa e bela. Seu rigor estético é de um refinamento primoroso, mesmo quando trabalha com o mínimo, conseguindo extrair o máximo. 

Não perdendo em nada ao olhar agudo e crítico de tudo o que o rodeia, não cede facilmente a acabamentos cáusticos. Até o assimétrico, enviesado e desconstruído ganha linhas harmoniosas sob sua batuta. Ele realmente nasceu para o que faz, como já revelou que teatralizava e brincava de circo com seus irmãos desde criancinha, em Floriano, sua terra natal. Tenho muito orgulho de dizer que sou seu amigo e desconfio que a recíproca seja verdadeira (risos).

Na foto, tirada por mim, descansava enquanto aguardávamos um show musical de alguma estrela nacional. Salvo engano, Caetano Veloso. O local, também se não me falha a memória, é o Atlantic City, em Teresina. O capacete em que Ari está sentado era do Emanuel Andrade, o Manu - ator e cenógrafo. 

Ari estava absorto em seus pensamentos. Olhava uma banda local que se apresentava e não esboçava nenhuma reação, quieto. Percebi a composição bacana multicor de calça e capacete, além da emblemática pose, lembrando "O Pensador" de Rodin. Armei a máquina, a velha cybershot Sony, compus a imagem, chamei-o e cliquei. Gosto muito dessa foto. 

Arimatan Martins, autor e diretor teatral (Willian Tito)

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O que muda na eleição em Teresina com o impeachment de Dilma?

A partir da próxima segunda-feira, 18, se o cenário se puser do jeito que está sendo desenhado em nível nacional, uma nova variante entra como fator determinante no resultado da eleição municipal, em Teresina. Caso a Câmara Federal consiga aprovar a autorização do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o efeito dominó também vai derrubar por terra o valor de líderes locais e seu poder de barganha no enfrentamento ao atual prefeito da capital. E alçar outros a patamares elevados de valoração.

Com a saída recente dos últimos partidos da base de apoio do poder central, sobrando apenas PCdoB, PSOL, parte do PDT, um voto ou outro do PP e PSD; e o PT, lógico, os oposicionistas afirmam categoricamente desde ontem, 13, que já têm mais que os 342 votos necessários para derrubar o governo. Algumas apostas mais generosas preveem que o placar pró-impedimento supere a casa dos 380 parlamentares.

A postura de grandes nomes do governo é de uma admissibilidade velada da derrota. Resignados, preparam as estratégias para a batalha seguinte, no Senado. Enquanto isso, no Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência, o trânsito intenso de tribunos clarifica que o ritual do beija mão está consignando a provável mudança do comando no gerenciamento do poder executivo.

Firmino apostou certo?

Há mais de uma semana tornou-se pública a aliança para a provável chapa de reeleição na capital. PSDB e PMDB estão juntos e misturados. Firmino e Luís Júnior partem na frente, definindo a pré-candidatura. Um reflexo notável do encaminhamento das consequências dos fatos nacionais, reacomodando a cena política local com algum adiantamento. Alguém visualizou o horizonte como uma águia premonitória?

Firmino Filho e Luís Júnior

Temer assumindo a condução do país, o PMDB torna-se a noiva predileta em todas as composições. Os peemedebistas entram na condição de melhores aliados para a marcha em direção à vitória em Teresina. Tucanos devem ocupar o novo governo central com maior força e serão imprescindíveis para construir uma confortável governabilidade. Desenha-se na união das duas siglas a pedra fundamental do novo pacto governista. O ponto de convergência da nova força também foi pressentida para o enlace em Teresina?

Tudo leva a crer que sim. O pragmatismo de Firmino aliado aos estratagemas de Themístocles Filho compuseram a chapa lançando um olhar bem distante de arroubos futurológicos. Ao contrário, foi o mais puro faro das previsões dos comportamentos arquitetados pelos deuses e semideuses do Olimpo brasiliense. É a resultante da visão de raio x político, apurado com muitos anos de vivência na lida partidária. Talvez uma analogia com exame mais emblemático e eficiente, uma ressonância magnética que traz imagens para um diagnóstico perfeito da futura eleição.

O PT emplaca algum vice?

Se a presidente realmente for afastada para responder ao processo de impedimento no Senado, o valor do PT numa composição de chapa oposicionista muda completamente. Os prováveis adversários de Firmino sabem disso e não vão arriscar compor, mesmo com o apoio incondicional do governador. Até porque o próprio WD também estará em busca de apoio para garantir o seu governo.

Wellington foi privilegiado em seus dois primeiros mandatos como governador por ter o alinhamento com os do presidente Lula, que exercia o poder simultaneamente. O Piauí recebeu um grande volume de recursos sustentados pela amizade sólida dos dois líderes. Com a presidente Dilma, Dias não goza da mesma simpatia e vem enfrentando dificuldades da mesma forma ou até pior do que um aliado comum e não um correligionário. E não é qualquer partizan, mas aquele que deu a maior diferença proporcional de um estado para eleição de Rousseff.

Firmino Filho e Themístocles Filho

Wellington, nestes dias, conseguiu a chancela de encaminhamentos de verbas do governo federal no valor de 320 milhões de reais. Mas o repasse precisaria ser aprovado no Senado. Como não vai conseguir que isso aconteça antes de segunda-feira, será como um cheque sem fundos de um falecido. É pouco provável que receba. Se Dilma sair, Dias vai enfrentar pela primeira vez o que é ser oposição ao governo central. De uma história sempre favorável de alinhamento, vê-se na posição desconfortável de guerrear sozinho. Será um grande teste para provar sua capacidade administrativa.

Quem dá as cartas?

Sempre considerando a hipótese do afastamento da presidente, a liderança mais poderosa do território piauiense estará no Palácio Petrônio Portella e não mais no Karnak. O presidente da Alepi vai tomar o cocar e conduzir das margens do Rio Poty a distribuição das cartas no jogo político. Juntamente com João Henrique de Almeida Sousa, fazem a dobradinha de maior acesso a Michel Temer.

João Henrique, com sua conhecida amizade e grande confiança conquistada com Michel, deve estar figurando entre os mais cotados nomes para assumir um Ministério com grande poder e visibilidade. O ex-presidente da Funasa, Henrique Pires, também homem de confiança de Temer, alijado em condições que indicam retaliação ao desembarque do PMDB e especificamente ao vice-presidente, no mínimo, volta triunfantemente de onde saiu. Ou então pode engajar em cargo de maior destaque.

Se tudo o que está se anunciando realmente acontecer, não só Firmino Filho leva grandiosa vantagem para reeleger-se, como a concorrência ao governo do Piauí, em 2018, também será decidida entre os dois partidos. Isto é, se a operação Lava Jato não continuar fazendo estragos, que podem chegar a terras mafrenses e alcançar lideranças locais com poder de mando. E em nível nacional, não atingir os que devem figurar no Palácio do Planalto e casas legislativas, mudando mais uma vez todas as figuras da República. Como a política é dinâmica, sim, tudo pode acontecer, inclusive nada.

Michel Temer e João Henrique (reprodução/internet)

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Memória Fotográfica: calçando o palhaço e fazendo graça

Um simples par de sapatos de palhaço. Memória fotográfica e afetiva. Os sapatos abaixo já estiveram em muitos pés de atores fazendo papéis de personagens diversos. Estreou no Theatro 4 de Setembro, em 1994. E lá se vão 22 anos. A peça era "O Agente Tetra Entra em Campo". No elenco: Dirceu Andrade, Amauri Jucá, Wílson Silva, Marcel Julian, Roberto Portela, Pedro Costa e eu. Direção de Arimatan Martins.

Foi minha estreia no teatro. Calçando estes sapatos, fiz um personagem que abria a peça, conduzia a sonoplastia e fazia intervenções com frases que pontuavam o espetáculo em uma mesa de som atrás da plateia, no primeiro piso. Era o Clownsom. Uma mistura de inglês e português que descrevia o personagem, que era um arremedo, na verdade. Mas foi muito significativo para mim. O enredo da peça tinha como centro da trama o personagem Zé Bandeira, desenvolvido por Dirceu Andrade.

O Brasil tinha ganhado a Copa do Mundo nos EUA. A taça do mundo estava em tournée pelo Brasil, visitando as capitais e principais cidades. Zé Bandeira, um personagem criado para peças publicitárias das Lojas Jelta, fazia o anti-herói, torcedor apaixonado da seleção brasileira, justo, honesto, simpático e de grande apelo popular.

Foi acusado de roubar a taça. E estava sendo procurado pela polícia. Na verdade, era um clone (Amauri Jucá), desenvolvido em laboratório por um cientista do mal (Marcel Julian). Zé Bandeira e seu fiel escudeiro, Ontóim (Pedro Costa), tinham que encontrar o verdadeiro culpado e entregá-lo às autoridades. Ainda haviam mais dois personagens clownescos, interpretados por Wil e Roberto. Arrumavam objetos de cena e cenários, totalmente feitos por malas de todos os tamanhos. Era um espetáculo infantil cheio de truques e muito divertido. Circulou bastante.

O sapato ainda serviu durante muitos anos ao personagem Goiabinha, o palhaço da peça "Raimunda Pinto, Sim senhor!", de Francisco Pereira da Silva, montada pelo grupo Harém. Marcel Julian e Amauri Jucá fizeram o personagem e também usaram o sapato. De pé em pé, muitas ribaltas foram caminhadas pelos pés de personagens por um único par de sapatos. Uma bela e longa estrada. Certamente já foi aposentado, consumido pelos anos e muitas andanças. Fiz a foto de um dispositivo móvel.

Os personagens Clowsom e Goiabinha andaram com este sapato de palhaço (Willian Tito)

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Aplausos intensos ao mestre e doutor Rubens Lima

Muitos textos ainda vão ser escritos em memória de Rubens Lima, o médico psiquiatra, o dramaturgo, o cantor. Despretensiosamente, também quero deixar umas palavras tentando compreender sua importância para a arte e a cultura mafrense. Nem de longe pretendo construir algo que traga da sua biografia a dimensão de seu legado como agente cultural. Creio que ainda vamos levar um bom tempo para entender isto totalmente.

Há algo bem mais forte a revelar de sua essência, que trafegou em caminhos vários da arte piauiense. Muitas vezes, menos como agente, embora tenha sido assim que tenha se projetado, mas, especialmente, mais como esteio e orientador de muitos outros artistas. Um porto seguro onde sempre poderia se recorrer, seja pela consulta informal de males que afligissem o corpo e a alma e, principalmente, como norteador de caminhos no tráfego de construção artística.

Para ser porto é preciso ser sólido, mas, leve

Era da natureza de Lima a busca pela fonte. Ir de encontro à raiz que segurava tudo o mais que houvesse por cima. A clareza das coisas como produto da compreensão do todo a que se dedicava era evidente, para poder se aferir, se referir e ser referência. Uma certeza cristalina de alguém que estudou com profundidade a essência das coisas, desmistificando-as e traduzindo em suas mínimas partes para certificar a grandeza do real e imenso quebra-cabeças da vida, tornando-a simples.  

William Shakespeare, referencial do artista Rubens Lima (reprodução/internet)

Rubens, ouso dizer, procurou existir despropositadamente, enquanto artista, e esse era o fundamento intenso de sua poesia como viajor da nau chamada vida. O prazer de estar, sempre foi mais forte que a busca da sensação de ter ou ser alguma coisa ou alguém. No mínimo, concorre com a notável leveza de sua presença, formatando o porto onde outros navegantes vinham trazer seus veleiros em segurança como guarida, para refazerem-se e seguir seus trajetos mar adentro.   

De Melodia a Porter

Desde adolescente acompanho a carreira musical de Lima. E lá se vão mais de trinta anos. Sobre sua atividade como dramaturgo, pouco conheci. Embora tenha observado que sua ligação com os fazedores de teatro sempre tenha sido muito estreita. Da presença em ensaios e avant-premières de montagens cenográficas e uma sólida amizade com outros grandes artistas das cênicas, como José da Providência, e Arimatan Martins, que também foi seu pupilo. 

Uma coisa que me chamou a atenção da primeira vez que fui em sua casa, no Centro da capital, há mais vinte anos, foi a destacada presença dos três volumes que compõem a obra completa de William Shakespeare, na versão erudita. A notória encadernação em capa verde e papel de bíblia, da editora Nova Aguilar. Uma pista clara da importância do autor, que a mim é testificadora dos estudiosos. E quando é algo que vem embalado na versão luxuosa, mais ainda. Aí só os amantes do gênio se dão ao desfrute. Poucas vezes encontrei pessoas que possuíssem e conhecessem, de fato, a obra, e nesta versão, em especial, menos ainda. 

Talvez uma ponte de sua ligação com outro gigante, Cole Porter. O compositor norte-americano que deixou grandes standards do cancioneiro yankee. Porter também tinha uma relação estreita com a obra do britânico mago dos sonetos e peças teatrais. Da qual se serviu para compor e trazer às suas letras a intenção e a intensidade da busca em conhecer a alma humana, com seus desejos, suas frustrações, seus sonhos e uma vida norteada pela paixão de viver. É por aí que se fortaleceu a empatia, suponho.

Mas, bem antes de Porter tornar-se objeto de busca e formatação de produto artístico na carreira de Lima, sempre o relacionei com Luiz Melodia. A primeira vez que o vi cantando foi uma bela composição do Negro Gato. A música "Só" (vídeo abaixo) é e sempre será a cara de Rubens, pelo menos para mim. Creio que ele selecionava seu repertório com algo que o envolvia bem mais que a beleza harmônica, de letra, mas de algo bem mais forte. A relação de Lima sempre foi de reconhecimento de alma com a arte e obra que se envolvia e deixava-se envolver, como todo grande artista.   


Arte na alma

Mesmo que ainda não entendesse, em minha tenra juventude, o mecanismo de busca do artista em trazer à tona o sentimento contido em uma obra artística, eu já sentia e pressentia quem se fazia grande com esta capacidade ímpar, mesmo que intuitivamente. O que é mais significante e vigoroso na trajetória de Rubens, para mim, é justamente esta capacidade e busca de uma vida toda. Lima sempre se ocupou de por alma em tudo o que cantava. Ele não pretendia fazer algo meramente técnico, também sim, mas, essencialmente, algo que pudesse ir de encontro a outras almas que lhe dessem atenção, numa transmissão direta. 

A verdade de seu canto estava aí. Por isso conseguia extrair tão fortemente a capacidade de encantar sua plateia, mesmo que o índice técnico não fosse recorrentemente superior. É como tirar o máximo do mínimo com o menor esforço e revelando tudo o que é grandioso. Estive muitas vezes entre os que, boquiabertos, foram vitimados pela impressionante capacidade e potente força metafísica de transferir na modulação, a mágica da mensagem com a essência do sentimento nela contida. Isto é só para os grandes, que trazem a arte na alma. 

Como dizia Porter, através da música onde encontrava maior identificação entre Lima e ele: "I've got you under my skin. I've got you deep in the heart of me. So deep in my heart, that you're really a part of me." À flor da pele, era essa a intensidade de suas intervenções no campo artístico. Olhar para Lima é não vê-lo totalmente, porque a profundidade em que se pôs é bem maior do que aparenta e está além do que podemos enxergar. E aqui não pretendo mais adentrar em sua grandeza. Como produto resultante de tudo o que um artista realmente quer, apenas reconheço sua envergadura e o aplaudo, intensamente. 


Precoce partida

Vasculhei a internet em busca de vídeos, principalmente, que pudessem comprovar muito do que procurei defender acima, mas, infelizmente, ainda não tem upado. Entretanto, creio que há muita coisa gravada. E, quem sabe, logo logo, alguém vai nos dar este benefício. Deixando disponível o legado de Lima, em parte. 

Aos 64 anos, Rubens partiu para uma nova jornada. Após enfrentar durante cerca de cinco anos as dificuldades com as limitações de um corpo que não correspondia mais à grandeza da alma. Para os dias de hoje, muito precocemente. A consciência que tinha do todo, também me faz crer que está contida uma velada escolha, que devemos respeitar, pois ele sabia o que estava fazendo.

Sempre lembrarei dele como alguém que deu um toque, quando solicitado. Que, por iniciativa, também orientava sem nenhuma pretensão professoral, compartilhando humildemente seu conhecimento. E de mais forte, o olhar sagaz e ao mesmo tempo terno das coisas e das pessoas. Algo aparentemente díspare, nele era harmonizado através do bom humor e de uma risada retumbante e contagiante. Vai em paz, mestre Doutor Rubens! 

Uma das últimas fotos de Rubens Lima cantando em público (Maneco Nascimento)

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Memória Fotográfica: a beleza de uma legítima rainha negra

Ruanda é um país situado no centro da África. Marcado por muitas disputas étnicas. Há uma guerra ancestral entre duas etnias: tutsis e hutus. Genocídio dos mais horrendos que se possa imaginar, com cenas tétricas. Só filmes sobre o tema, conheço cinco. Um dos mais marcantes é o "História de um Massacre". Nome, que apesar de forte, é bem mais digerível que o título original: "Shake Hands with the Devil: The Journey of Roméo Dallaire".

Independente da geopolítica africana, Ruanda é um país lindo. Suas diferenças políticas, não diferentes da maioria das nações do seu entorno na luta pelo poder, não tiram sua força nem de seu povo. Ruanda, cuja capital é Kigali, tem cerca de 12 milhões de habitantes, segundo o Censo de 2010. Localizada às margens dos grandes lagos africanos, mesma região onde foram encontrados os mais antigos fósseis hominídeos, pode se afirmar ser o berço do ser humano. 

Aproveito para trazer uma bela imagem e pouco comum nos dias de hoje. Uma legítima rainha negra da mama África. A última de Ruanda, Rosalie Gicanda. A foto, da década de 40, mostra a linda mulher, que se casou com o rei Mutara Rudahigwa (Mutara II), em 1942. É mais uma pra gente contemplar no Memória Fotográfica.

Rosalie Gicanda (reprodução/internet)

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Pelo fim do mimimi sobre a eleição do Conselho de Cultura

Algumas pessoas tem se ocupado de questionar o resultado e a forma como se deu a eleição dos representantes das ONGs para o Conselho Estadual de Cultura do Piauí. Tudo bem. Questionar é sempre legal. Ninguém é obrigado a aceitar tudo de bico calado. Ampliar o debate é muito interessante e sempre traz outros aspectos para somar ao contexto. 

Mas, tem algo que precisa ficar bem claro. Uma coisa é questionar, outra é ser leviano, fazendo ilações maliciosas e afirmando o que não sabe. Seja por ignorância, seja levado por outras pessoas que adoram ver o circo pegar fogo ou pela mais pura e simples maldade, daquelas patogênicas. Gente que sempre aposta no "quanto pior, melhor".

A eleição foi legal

Não há nada de errado com a eleição das ONGs para o CEC. Tudo transcorreu dentro da mais absoluta normalidade. O edital foi respeitado e cumprido à risca. Quem está nas redes sociais dizendo o que não sabe, talvez seja melhor se informar um pouco mais para evitar ser acusado de injúria, calúnia e/ou difamação. Falar pode e deve, porém, cuidado com as consequências.

Não há nenhum problema uma pessoa ter anuência sobre mais de uma ONG. Aliás, é só o que tem. Se tem é porque pode. E se pode, vá pesquisar o quanto isso dá trabalho, o quanto custa tempo, dedicação e muito suor. Não há nada de desonesto. É resultado de muitos anos de luta e preparo para ter o suporte necessário para realizar os bens culturais.

Outra coisa, se quiser questionar mesmo, tem uma forma mais eficiente. Procure os meios legais e fundamente suas alegações com provas. Quem sabe tenha mais êxito. Ficar no facebook destratando seja quem quer que seja e lançando o pomo da discórdia só deve ter um propósito: macular o processo, que foi totalmente limpo.

Sede do Conselho Estadual de Cultura do Piauí (reprodução/CEC-PI)

É muito mimimi de derrotado. E o pior, mais parece aquela dor de cotovelo de quem pouco ou nada faz para mudar as coisas. Lembrando muito mais aquele tipo de cachorro que ladra muito do lado de dentro do portão e depois que abre, fica abanando o rabinho, manso. Se quer mudar alguma coisa, seja mais prático. Estabeleça suas metas e vá em busca de realizá-las. Aposto que é mais honrado que ficar soltando veneno.

Fica o exemplo

Imagine o que é manter uma porção de ONGs funcionando. Com toda a documentação em dia. Com impostos e demais obrigações legais fielmente dentro do que diz a lei. Não deve ser tarefa nenhum pouco fácil. Tem que ter muita organização. Para quem milita dentro do setor cultural, sabe o quanto dá trabalho manter um grupo, manter uma obra artística, principalmente coletiva, em pé. Calcule uma ONG.

Se o César Crispim foi o fiel da balança nesta eleição do CEC, por parte das ONGs, o mérito é todo dele. Foi um trabalho de construção. São anos e anos malhando para realizar seu bens culturais. Quem é de dentro sabe o quanto ele é dedicado e trabalhador. Eu, que o conheço apenas de vista, acompanho com admiração os belos resultados que vem mostrando.

Não tenho procuração para defendê-lo. Nem ele precisa. Mas fica aqui o exemplo e o passo a passo para quem quiser disputar o CEC em um próximo pleito. Trabalhe. Construa seu grupo. Trabalhe. Mantenha-o sua equipe coesa, unida e produzindo sempre. Trabalhe. Organiza-se. Abra uma entidade. Trabalhe. Lute para manter sua ONG em ordem e em dia com seus deveres e obrigações legais. Trabalhe. Inscreva-se para eleição do CEC. Procure apoios e, quem sabe, eleja-se. Mas só na próxima. Porque essa já era. Fim de papo. 

Ah, a posse dos novos conselheiros está confirmada para o próximo dia 21, na Galeria de Artes Nonato Oliveira, no Club dos Diários. Todos estão convidados para a grande festa que acontece para celebrar a entrega das obras do complexo cultural. Evoé! 

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Memória fotográfica: a voz poderosa do cantor Gomes Brasil

A partir de hoje, vamos iniciar uma sessão nesta coluna. Quero trazer muitas fotos emblemáticas para a gente ficar olhando e tentar captar a energia de algum momento ímpar no Memória Fotográfica. Pode ser local, nacional, mundial e até extraterrestre, se conseguirem. Aceito sugestões. Podem enviar para o email da coluna: [email protected]

A de hoje, é do grande cantor Gomes Brasil. Uma criatura que gosto muito. Nos conhecemos há mais de 20 anos e mantemos uma amizade sólida. Somos até parceiros em algumas composições. Uma delas, gostamos muito e é quase impossível não a cantarmos quando nos encontramos. A autoria da canção, um reggae, estende-se ao querido Tom Zé de Abreu.

A foto abaixo foi tirada em uma festa promovida pelo Grupo Coisa de Nêgo. Lá naquela antiga sede que seus membros mantinham no Centro de Teresina. Na Rua Barroso, ao lado da Escola Estadual Zacarias de Góis, o Liceu Piauiense. Aconteceram noites magistrais de muita música, dança e encontros mágicos. A foto foi numa dessas noitadas encantadoras. Gomes estava sob uma latada coberta com lona. A chuva ia e voltava, mas não desanimava os festeiros.

A voz poderosa de Gomes é conhecidíssima. Já correu o mundo mostrando a potência de seu timbre inconfundível. Hoje reside no bairro Monte Castelo, na capital mafrense, seu nascedouro. Vai bem do mais poderoso grave a agudos impressionantes. Tudo através da intuição. Não se sabe de maiores conhecimentos técnicos. Se houver, muito pouco. O que faz tudo mais mágico e nos fortalece a certeza de que ele nasceu pra cantar. 

A foto foi tirada por mim, através de uma cybershot Sony, daquelas com poucos recursos. De vez em quando até rendia belas imagens. Essa é uma delas. Menos pela qualidade técnica e mais pelo flagrante do momento. Pegou na veia. A força da expressão repara as dificuldades de acabamento. Não tem photoshop. O ano eu não lembro, mas tem mais de 10 anos, com certeza.

Gomes Brasil, a voz poderosa do Piauí (Willian Tito)

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Ainda acredito que Cinéas vai aceitar

Esta humilde coluna está realmente prestigiada. Há um bom número de leitores que a acompanham e comentam quando nos encontramos. Outros, acabamos sabendo ao acaso. Há ainda os que aleatoriamente vêm aqui e deixam seus comentários. De uma forma ou de outra, sinto-me satisfeito pela atenção. No final da história, a única coisa que um escriba realmente quer é ser lido.

Não sei em que categoria o ilustre livreiro, poeta, empresário, editor, professor Cinéas Santos, se encaixa. Mas, de qualquer forma, mesmo que tenha sido de forma aleatória, quero agradecer pela leitura do texto publicado hoje: Bastidores da eleição do Conselho de Cultura do Piauí. Como vocês podem ler no final da página destacada no link, há um comentário do Dom Quixote de Caracol.

Transcrição de comentário de Cinéas Santos

Do jeitinho e no formato que foi escrito, sem tirar nem por, eis o que deixou no facebook da página desta coluna, o nobre professor Cinéas: "Tito,meu prezado,aos 67 anos de idade,posso orgulhar-me,entre outras coisas, de nunca ter pedido nada a político algum.Não iria começar a fazer isso agora. Deixei claro,em mais de uma oportunidade,que já cumpri o meu papel no Conselho.Quanto à conversa com o governador na porta do Theatro 4 de Setembro, foi apena para comunicar-lhe que, a pedido do Deputado Fábio Novo, fiz contato com o Dr. David Cortelazzi,proiprietário do REX,e meu amigo. Dr. David demosntrou o maior interesse em negociar o imóvel com o Estado. Como você pode ver, eu não estava pedindo nada,mas tentando fazer algo relevante para a cultura do Piauí. Confira, se o desejar, com Fábio Novo.Nada ale´m."

Print da caixa de comentários da coluna

Resposta ao comentário

Bem, com todo o respeito, agradecendo ao "meu prezado", ilustre professor Cinéas Santos, em lugar nenhum do texto há qualquer afirmação que o senhor foi ao governador na tarde de ontem, 7, que esteve em visita às obras do Theatro 4 de Setembro, para pedir alguma coisa para si. Nem mesmo pedir alguma coisa seja para quem for. Mas, mesmo que não tenha ido, que mal tem em pedir algo ao governador?

Mas acredito em suas palavras de um homem honrado do alto de seus 67 anos. Não há necessidade de ligar ao deputado Fábio Novo para confirmar o que escreveu. Suas palavras me bastam e creio realmente no que deixou escrito. Aproveito para dizer que comentei sobre sua presença na tarde de ontem no Theatro para ilustrar sua coesa relação de amizade e confiança com o governador. Quanto a isso, o senhor há de convir que não tem como negar. Sua amizade com Wellington Dias é estreita e de longos anos.

Cinéas não quer mais o Conselho

Sinceramente, se o senhor Cinéas Santos realmente não quer mais ser conselheiro de Cultura, só quem sai perdendo é o Piauí. De conhecimento enciclopédico, divertido, bem-humorado e sensato, tudo isso na mesma pessoa, será uma grande baixa para o órgão. Justamente agora quando vai passar a uma nova fase.

Os amigos Cinéas e Wellington (reprodução/internet)

Quando o CEC torna-se deliberativo, com a saída de Manoel Paulo Nunes, Cinéas passa a ser o decano da casa. Com grandes chances de ser o presidente dos conselheiros, vai deixar passar tão bela oportunidade? Sinto muito, meu prezado (devolvendo o cumprimento) professor, mas sua justificativa de "já cumpri o meu papel no Conselho" soa lamentavelmente para quem milita no segmento cultural. Que pena!

Espero que o senhor mude de ideia. Repense. Faça um sacrifício e doe um pouco mais de seu tempo, disposição e conhecimento privilegiado para a Cultura do Piauí. Esbelto, cheio de energia, no auge de sua capacidade criativa, cada vez mais evidente nos poemas que publica no facebook, que acompanho sempre e atentamente. Comandando um programa de TV, um dos melhores do meio cultural, e cada vez mais espirituoso, seria realmente lastimável não tê-lo no CEC.

Ainda acredito que Cinéas vai aceitar

Eu, se fosse o governador, certamente iria insistir para que o professor Cinéas Santos repensasse e aceitasse retornar ao Conselho de Cultura. Aliás, se eu conheço um pouco o WD, ele vai fazer isso. Se já não ou fez ou vem fazendo, vai fazer. Como dois e dois são quatro, aposto com quem quiser que o governador Wellington Dias vai convidar, ligar e repetir: "Meu irmão, vamos lá, preciso de você no Conselho".

E mais, diante de tanta insistência. Do governador. De muitas pessoas próximas a ele. Dos que fazem parte do grupo que promove o famoso sarau "Amigos do Cinéas". Até mesmo deste escrivinhadorzinho, ele vai acabar balançando. Quem sabe reconsidere sua conhecida postura intransigente de homem de uma palavra só e acabe aceitando. Quem sabe veremos o retorno triunfal de Santos ao CEC.

Cinéas Santos no programa "Feito em Casa", na TV Cidade Verde (reprodução/internet)

Ainda acredito que ele, mesmo com seu conhecido jeito turrão, vai acabar amolecendo e vai sim voltar atrás. Se o professor realmente afirmou que não quer mais compor o CEC, qual o problema de voltar atrás? "Deixei claro,em mais de uma oportunidade", pra mim isso é uma bobagem. Se disse, desdiga. Eu e mais um bocado de gente aposta que o senhor vai voltar a compor o CEC. E em nada vai ferir sua reputação e biografia se rever sua decisão.

Que história é essa sobre o Cine Rex?

Bem, no meio de toda essa história, tem outra que apareceu e agora causou um bocado de curiosidade. Tenho certeza que em todo mundo que vivencia o dia a dia da cultura mafrense, especialmente aqui na capital. O Cine Rex, pomposo espaço onde funcionou o antológico cinema, já foi de tudo nos últimos anos.

Também já esteve bem próximo de passar às mãos do estado. Existem vários projetos com finalidades diferentes para que o velho Rex torne-se de museu a escola de cinema. Entre os citados e mais um monte de possíveis outros fins, sempre emperrava quando o valor do imóvel era posto na mesa de negociações.

Lembro-me que há cerca de dez anos, o valor pedido pelo proprietário era de cerca de R$ 5 milhões. Uma grana preta naquela época. Quanto será que o dono do Rex deve estar pedindo atualmente? Deve ser bem mais. Muito mais. Bom, vou ficar devendo essa e vou logo me comprometendo que vou me esforçar para descobrir que história é essa. Se o Rex está sendo negociado com o Estado, vamos descobrir. Valeu, professor Cinéas, pela preciosa informação! Ah, já estou lançando uma tag: #aceitacineas

O imponente Cine Rex está em negociação com o governo (reprodução/Portal AZ)

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