Um bom Brasil pra você também

O Brasil virou de pernas pro ar nos últimos dias. Mudanças profundas. Bem ao nosso brazilian way of life: de preferência, nos acordos e conchavos. Sem nem um tiro, que não seja bala de borracha. Sem sangue. Sem excessos. Muitos protestos, sim. Mas todos dentro da normalidade. Nada que uma chiringada de spray de pimenta não resolva. 

O cetro do poder central mudou de mãos. A população dividida, sem saber quem fica e quem sai, mostrou sua preocupação. Na base da pirâmide, a inquietação redundava em variações sobre o mesmo tema: os benefícios sociais. "E o bolsa família?"; "E o Minha Casa, Minha Vida?"; "E o Fies?" - os programas que mudaram a cara do Brasil. Facilitando o acesso a bens de consumo aos menos abonados.

No discurso de "posse" do presidento (sim, por que não?) em exercício, Michel Temer, ouviu-se tudo o que o povão estava querendo saber. A operação Lava Jato, segue firme e forte. Esperamos que sim. E sacou velhos anseios dos mais politizados: um novo Pacto Federativo e a tão aguardada reforma da Previdência. 

A firmeza das palavras de um homem talhado para exercer o poder deixou claro e evidente que a postura que sugere a liturgia do cargo mais importante da República está "muito bem, obrigado!" A fineza e elegância de Michel estampava o momento construído pela ex-oposição. De antigos jogadores de pedras, passaram a telhado com a assinatura da notificação do afastamento da presidenta Dilma.

O que esperar para o Brasil?

Com a reforma ministerial, Temer agrada a muitos. A engenharia política para reduzir os 39 ministérios de Dilma dá a dica que ele sabe de fato gerir seus pares. Expertise de longas datas, determinadas pela convivência como tribuno na Câmara Federal, vai precisar dela para aprovar as mudanças de um governo com cara de reformador.

Foi na fonte e acertou-se com os velhos caciques. Sem eles, o clã deságua. Com eles, navega serenamente. Refletidos em seus ministros, estão as forças que representam mais fortemente as tendências no parlamento. Disso ele entende como poucos. E com o auxílio de seus conselheiros mais próximos, não terá grandes resistências. Especialmente considerando que os que votaram a favor da admissibilidade do processo de impeachment de Dilma estão a seu favor.

Os dividendos e as custas do poder assumido, com a caneta fortalecida, tem o traquejo que era ausência ululante na administradora afastada. Diálogo talvez tenha sido o termo mais repetido entre suas palavras. Muitas conversas para acertos a promover um governo que tem que fazer o dever de casa. Recitando uma frase que disse ter visto em posto de gasolina: "Não me fale em crise, trabalhe". A alegoria tinha que ter uma referência indireta à Petrobras e, obviamente, aos desmandos "propináticos" e "pixulecóticos" que renderam argumentos à derrubada da presidenta.

Aposto sem assombros que o presidento Michel Temer vem que vem com tudo. Mesmo com 7 citados na Lava Jato em seu staff, não há entre eles réus nem muitos menos algum que tenha sido conduzido coercitivamente. Não há mulheres nem negros. Mas quem disse que não estão representados? E é realmente necessário estarem nas esferas de poder administrativo para obrigatoriamente garantirem seus direitos? Se fosse assim, todos os problemas que orbitam estariam sanados no governo passado, que teve quase 13 anos para fazer, entre outras coisas, a tão sonhada reforma agrária.

Michel Temer, presidente em exercício (reprodução/internet)

A pasta da Educação foi fundida com a Cultura. É preocupante? Sim! Mas vamos ver o que acontece. O MinC foi muito bom, mas apenas no governo Lula. Há quase 6 anos vem definhando com cortes sistemáticos de verbas. A PEC 150/2003 nunca foi aprovada, porque não era prioridade para o governo. Quem não for do ramo, pesquise. Era um ponto fundamental para a Cultura ter realmente capacidade de ser transformadora neste país. O máximo que o segmento recebeu nas diretrizes orçamentarias da União foi quase 1%, no primeiro governo de Luiz Inácio. De lá pra cá, vem apenas decrescendo.

Sobrarão argumentos para apontar defeitos e resistências a quaisquer deslizes fazendo volume nas gargantas oposicionistas. Cada um faz o seu dever. Há quem governa e há quem se oponha. Apenas mudou de lado. Mas não foi eleito pelo povo. Alto lá. Não enganem a si nem aos outros. Os mesmos votos que elegeram Dilma, trouxeram Temer à vice-presidência. A chapa foi constituída pelos dois. Há quem diga que se fossem apenas os dois sozinhos na arena, talvez ele arrebanhasse muito mais sufrágios. 

Temer só tem esta chance. Dois anos, seis meses e vinte dias. Este é o prazo para realizar uma imensa demanda de interesses que lhe garanta a projeção de um nome de seu partido ou da coalizão de agremiações que representa para viabilizá-lo no próximo pleito. Alguém duvida que ele não estará empenhado em fazer um governo popular? Creio firmemente que sim. Não vai deixar passar a oportunidade única de estampar seu nome à posteridade pelo viés das grandes realizações.

O mercado vai se acalmar. Os números que esfacelam a economia entrarão num escopo mais digerível. Em menos de um ano, com as medidas que promete fazer, estaremos com índices mais favoráveis. Com o desemprego em redução, o dólar em patamares mais manejáveis e a inflação sob o controle do coeficiente de um dígito, e baixo. A ponto de muita gente, principalmente o povão, não sentir a menor falta de quem se foi. Porque certamente não voltará. No próximo texto, vou lançar um olhar para as consequências ao panorama político piauiense. 

Favas contadas

Brasileiro de boa cepa. Aquele ou aquela que quer o bem do Brasil, sabe que o governo Dilma não tinha saída que não fosse a que consumou-se no início da manhã de hoje. A peça jurídica que defende o impeachment é frágil sim. Mas não é fantasiosa. Está fundamentada suficientemente para garantir seu afastamento. 

Sem o Congresso, não se governa. Dilma foi uma grande invenção que foi bem longe. Arquitetada por Lula, sem talento para o trato político, patinou, escorregou e caiu exatamente onde lhe faltava traquejo, o diálogo com parlamentares e sua consequente construção da viabilidade de votação positiva de matérias de interesse do governo nas duas casas legislativas do país. 

Ela é guerreira. Foi preparada para grandes lutas, mas não para lidar com lideranças e construir pontos comuns de interesse no trottoir, no jogo de cintura e na sedução necessárias para governar. Presidência da República é para quem tem perfil de negociador. Para quem tem a capacidade de resiliência sim, mas de muita criatividade, elegância e boas maneiras para atender com fidalguia a todos, inclusive os adversários. Jamais para quem está a postos para o enfrentamento. 

A confecção das alianças políticas se dá em um plano de alto nível das relações humanas. É preciso ter tirocínio e perspicácia em gradiente muito superior da maioria das pessoas. O marketing pode até dar visibilidade. As palavras de um discurso escrito facilitam o feedback da mensagem. O media trainning pode render um bom desempenho em frente às câmeras. Mas é o face to face que é primaz para sustentar uma relação política de confiança mútua. Vira a página. E como diz o presidento em exercício: "Um bom Brasil a todos!"  

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