Memória Fotográfica: o assento inusitado do pensador

A fotografia está a 9 dias de completar 9 anos. Está datada de 24 de abril de 2007. A figura em destaque é o diretor e autor teatral, Arimatan de Sousa Martins, nosso geniozinho dos palcos. Ari, como o chamamos carinhosamente no universo das cênicas, é um dos homens mais inteligentes do estado. Sua espirituosidade e agilidade com a linguagem é algo impressionante. Não conheço ninguém que tenha uma velocidade de pensamento tão acelerado.

Com uma capacidade de fazer leituras bem-humoradas de quase tudo, ninguém escapa de sua vivaz construção e desconstrução através de trocadilhos e piadas feitas de chofre. Mas é ninguém mesmo. Nem ele (gaitadas). Ou seja, é diversão garantida estar perto desta criatura de grande cultura, conhecimento profundo das artes em geral e realizador de bens culturais com grande originalidade. Em suas montagens pelo grupo Harém, já desenvolveu produtos artísticos que estão consagrados e com lugar certo na história das artes cênicas piauienses.

"Raimunda Pinto, Sim Senhor!", de Francisco Pereira da Silva; "O Auto do Lampião no Além", de José Gomes Campos; "O Vaso Suspirado", também do campomaiorense Chico Pereira; "O Cavalinho Azul", de Maria Clara Machado; "A Lenda do Vale da Lua", de João das Neves; são algumas das montagens lindíssimas que têm o toque mágico de sua direção, que certamente o põe entre os maiores de sua época, em nível nacional. Tão bem executadas, que emocionam profundamente, fazendo o miocárdio bater mais forte.

Afora outras muitas direções de shows, espetáculos de humor, performances, Ari sempre surpreende pela capacidade de superar com seu rigor de qualidade. Uma certeza que temos de algo em que esteja envolvido é de que vai sair alguma coisa muito interessante, criativa e bela. Seu rigor estético é de um refinamento primoroso, mesmo quando trabalha com o mínimo, conseguindo extrair o máximo. 

Não perdendo em nada ao olhar agudo e crítico de tudo o que o rodeia, não cede facilmente a acabamentos cáusticos. Até o assimétrico, enviesado e desconstruído ganha linhas harmoniosas sob sua batuta. Ele realmente nasceu para o que faz, como já revelou que teatralizava e brincava de circo com seus irmãos desde criancinha, em Floriano, sua terra natal. Tenho muito orgulho de dizer que sou seu amigo e desconfio que a recíproca seja verdadeira (risos).

Na foto, tirada por mim, descansava enquanto aguardávamos um show musical de alguma estrela nacional. Salvo engano, Caetano Veloso. O local, também se não me falha a memória, é o Atlantic City, em Teresina. O capacete em que Ari está sentado era do Emanuel Andrade, o Manu - ator e cenógrafo. 

Ari estava absorto em seus pensamentos. Olhava uma banda local que se apresentava e não esboçava nenhuma reação, quieto. Percebi a composição bacana multicor de calça e capacete, além da emblemática pose, lembrando "O Pensador" de Rodin. Armei a máquina, a velha cybershot Sony, compus a imagem, chamei-o e cliquei. Gosto muito dessa foto. 

Arimatan Martins, autor e diretor teatral (Willian Tito)

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