Bastidores da eleição do Conselho de Cultura do Piauí

Primeiro, quero agradecer às pessoas que mantiveram contato e agradeceram, bem como, parabenizaram pela publicação de ontem sobre a eleição do Conselho Estadual de Cultura. Tivemos 100% de acerto sobre os conselheiros eleitos representando as ONGs. Quando publicamos o resultado antes mesmo de iniciar a votação, o fizemos com absoluta certeza de que a eleição já estava definida.

Nada de virtudes metafísicas. Ao contrário, foi o mais puro cartesianismo e pragmatismo político. Obviamente que divido os louros dos acertos com meus três outros parceiros, que levantamos todas as possibilidades, num exercício pra lá de divertido. Claro que vamos manter o sigilo das fontes e não vou declinar seus nomes por motivos apresentados na publicação de ontem.

Bastidores da eleição

A exposição midiática que a grande imprensa piauiense deu ao assunto acabou servindo para incendiar a eleição dos representantes das entidades ligados à Cultura. Os ânimos estavam exaltados nos corredores da Secult. Houve até discursos inflamados, daqueles bem panfletários. Alguns se dizem vitimizados porque o setor "virou um grande balcão de negócios".

Não tem nada disso. Exagero por parte de quem acabou sendo extremamente indelicado com os demais colegas. E não ganhou nada com isso. Ao contrário, provavelmente, perdeu os poucos votos que tinha. Pior, até mesmo a simpatia deve estar abalada. Como em toda eleição, é mais do que óbvio que os candidatos e eleitores conversem e se acertem em quem vão votar.

Ganha quem tem mais capacidade de convencer. Leva quem consegue amealhar mais prestígio. Elege-se quem domina a arte política. É tudo muito simples, mas, claro, com uma infinita dose de gerenciar vários predicados relacionados a uma longa história de luta e dedicação ao setor. Tem que gastar muita saliva e afinar os argumentos, como em toda eleição. No setor cultural, talvez até mais do que em outros.

Os ataques por parte de um dos candidatos gerou um diálogo com outra concorrente e ficou aquele climão pesado. Houve acusações veladas de roubo. Claro que não se pode admitir uma situação dessas. Talvez a falta de experiência tenha levado alguns a um estágio de exaltação. A paixão estava à flor da pele. Mas em política, inclusive a cultural, tem que ter e manter o sangue frio. "Fique peixe, mermão!", disse um participante ao extremista, tentando acalmá-lo.

Lari Sales, a campeã de votos (reprodução/internet)

Após a apuração, houve muita entregação de votos. Descobriu-se grande parte de quem votou em quem. E as traições que ocorreram. Alguns que já davam como certa uma quantidade de votos, foram cobrar suas promessas e gerou um clima bem constrangedor. Mas logo foi abafado e transformado pelo bom humor. O que não cultivou raiva, vai virar folclore de eleição, que fica na memória como momentos de diversão. Casos que serão contados nas mesas de celebração, ganhando tom de anedota.

Contabilização dos votos

Não vou aos pormenores numéricos. Vamos nos ater apenas aos eleitos e tentar interpretar como conseguiram e conquistaram seus eleitores. Para a surpresa de todos, a atriz Lari Sales, presidente do Sated, foi a mais votada. Sabíamos que ela estava cotadíssima para ser um dos três vitoriosos, mas não a campeã de votos. Claro que não foi uma grande diferença, mas dá pra ver como o pleito foi melindroso.

Então, foram eleitos Lari Sales, César Crispim e João Vasconcelos. Lari Sales ficou com 12 votos. César Crispim e João Vasconcelos empataram. Cada um garantiu 11 votos. Todos ligados diretamente ao teatro. O que prova, mais uma vez, que o pessoal da ribalta sabe mesmo fazer política. São craques em campanha e conquistas de votos e eleitores.

O domínio dos artistas da encenação tem muito a ver com política e eles sempre levam, historicamente, a melhor. Daí surgem os questionamentos, mas bom seria se e outros segmentos se exemplassem e não ficassem usando a vitimologia por seu resultados frustrados. 

A lição que fica aos demais setores é que política tem a ver com palavra, com linguagem, com trama e com cênica. Se não conhecer razoavelmente estes pilares, a chance de obter resultados positivos em eleição vai estar no colo da sorte. E a dona sorte prefere os que a buscam com conhecimento.

Na quarta colocação ficaram empatados com 5 votos, Gílson Caland e Jonas Silva, representando a Cooperativa Capivara e a Academia de Letras da Confederação Valenciana, respectivamente. Como não há critérios de desempate e precisa-se definir o suplente, vai acontecer mais uma eleição, única e exclusivamente para decidir o reserva. A parada está difícil para Caland, principalmente depois dos bastidores eleitorais de ontem. Jonas Silva deve ser o suplente eleito.

Análise dos votos dos eleitos

Se a gente for bem criterioso, não é complicado enxergar que quem realmente deu as cartas foi César Crispim. Partindo com oito votos, representados pelas ONGs que tinha em mãos, o ator e produtor saiu de Floriano com a vitória debaixo do braço e com a possibilidade de eleger mais dois. Como sabíamos que João Vasconcelos estava pactuado com Crispim, ambos já tinham assegurado pelo menos mais um voto, na troca de seus sufrágios. Ou seja, chega-se ao número de nove.

Não percam as contas. Somos de humanas, mas não faltamos as aulas das operações básicas da álgebra. Também sabia que João Vasconcelos estava fazendo o lobby para Lari Sales, ou seja, podemos transferir os mesmo nove votos para ela. Se Lari sabia que receberia os votos de João e Crispim, obviamente, ela também votaria neles. Sobe-se os votos para 10. Cada um deles, apenas entre eles, já tinham garantido 10 votos e estavam numericamente eleitos.

Mas vamos prosseguir. Quem garantiu o voto de número 11? O representante do grupo Harém, Aírton Martins, que também participou diretamente da articulação para a eleição dos três do teatro, partiu para o voto útil e assegurar a eleição, definindo-a. Já que tinha 22 votos em disputa, quem levasse a metade estava garantido. Martins abriu mão de votar em si mesmo e descarregou seu voto nos três eleitos. O que explica que Aírton saiu do pleito sem nenhum sufrágio em seu favor. Elevamos a conta para 11 votos em Lari, Crispim e João.

Por que Lari levou um voto a mais? Saber eu sei. Mas não devo declinar o nome. Seria muito desgastante para o eleitor de Lari Sales. Nos bastidores não é segredo. Quem quiser realmente descobrir, com alguma investigação, vai chegar ao nome. Mas, posso dizer de que setor veio. O que já é uma boa pista. Alguém do segmento da música votou em Lari Sales e ela levou o voto de número 12, sendo a campeã da eleição.

Quem são os indicados do governo?

Continua a novela e a grande incógnita. Só vamos saber mesmo quando o governador Wellington Dias enviar a relação com os três nomes. Ontem, declinamos os três possíveis indicados. O professor Cinéas Santos, que falou para quem quisesse ouvir que não queria mais voltar ao conselho, talvez tenha usado da psicologia invertida de negar para voltar à cadeira nos braços do povo. Manobra que não deu certo para Jânio Quadros, provavelmente, dará para ele.

Itamar Silva, indicado da Alepi ao CEC (reprodução/CEC)

Vamos aos fatos. Santos é amigo pessoal do governador a longas datas. Eles tem uma estreita ligação literária. Wellington Dias, o artista, o escritor, tem em Cinéas o seu grande guru das letras. Seus dois livros publicados, "Macambira" e "Tiradas do Tio Sinhô", um de contos e o outro de crônicas, respectivamente, têm participação em toda a obra, desde a sua composição até a edição, do Dom Quixote de Caracol.

Para quem diz não querer voltar ao Conselho, Cinéas está agindo romantizadamente, negando para garantir a atenção e a confirmada simpatia de sua excelência. Ontem à tarde, durante a visita de WD às obras do Theatro 4 de Setembro, Cinéas foi visto e fotografado conversando de pé de orelha com o grande chefe do executivo estadual. Eu vou ficar muito surpreso se Cinéas Santos não estiver na lista do governador para o CEC. Mas é muito mesmo.

Como publicamos ontem, mantemos a previsão do escritor e advogado, presidente da Academia Piauiense de Letras, Nélson Nery. Falamos do escritor de Dom Inocêncio, Marcos Damasceno, mas creio que ele já corre por fora. Como a professora Dione Morais não conseguiu eleger-se pela cota das entidades e a constituição do CEC está masculinizada por demais, ela deve ser indicada pela força do deputado Fábio Novo.

Sabe-se da simpatia de Fábio pela professora e o argumento de aumentar a participação feminina no Conselho é muito boa. Aliás, é um argumento ótimo. E lógico, também pelas suas virtudes como professora do curso de Ciências Sociais da UFPI. Assim deve fechar o número de mulheres no CEC em três: Dora Medeiros pela Alepi, Lari Sales pelas ONGs e Dione Morais pelo governo.

O terceiro nome da Alepi que ficamos devendo ontem, já está confirmado. José Itamar Guimarães Silva, formado em história e com uma longa lista de serviços prestados ao governo estadual e à PMT, mantém-se no CEC. Creio que não teremos muitas surpresas. Fechando assim os nomes dos indicados e eleitos ao CEC para o exercício do próximo triênio.

Posse do CEC

A data, ainda não totalmente confirmada, deve acontecer no próximo dia 21. Uma grande festa está em andamento para a entrega das obras do Complexo Cultural Club dos Diários / Theatro 4 de Setembro. Foi em 21 de abril de 1894, há 122 anos, que aconteceu a primeira apresentação artística no sacro tablado do mais requisitado espaço das artes mafrenses.

Com mais uma obra pronta e entregue à comunidade, o secretário de Cultura, deputado Fábio Novo, renova sua boa aferição com a classe artística. O homem da Secult é praticamente uma unanimidade. Há pouca ou quase nenhuma resistência à sua gestão. E agora com a garantia de um conselho totalmente de sua confiança, segue firme e forte para fazer história no comando da cultura do Piauí.

Nos próximos dias, vou publicar um histórico de seus feitos até aqui. Com menos de um ano como secretário, Novo já deixou sua marca de competência. Ele sabe muito bem o que está fazendo. Consciente de seu dever e grande conhecedor das políticas públicas para a Cultura, vem dando de olé nas gestões anteriores. Se seguir assim, passa a ser a referência histórica de como se gerencia o segmento com eficácia. Quem é do ramo, aplaude!

Wellington Dias e Fábio Novo em visita às obras do Theatro 4 de Setembro (foto: Jardenya Bezerra)

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