ORDEM DE SERVIÇO E NADA É QUASE A MESMA COISA

Wellington Dias, Wilson Martins, Dilma e Fernando Bezerra no dia em que ordem de serviço da adutora Padre Lira foi assinada (Foto: Moisés Saba)

No dia 18 de janeiro de 2013, a então presidente Dilma Rousseff (PT) veio ao Piauí. Na ocasião, ela esteve no município de São Julião, a 392 km de Teresina, e ali assinou algumas ordens de serviço. Entre as assinaturas estava a ordem para construção da adutora Padre Lira, que levará água da barragem Jenipapo até a cidade de Dom Inocêncio, um dos municípios mais castigados pela seca no semiárido do Piauí. Na época, o governador era Wilson Martins (PSB).

Foi uma alegria para o povo de Dom Inocêncio e o governo estadual fez muita propaganda. Eu ainda era estudante de jornalismo na Universidade Federal do Piauí (UFPI), estava no terceiro período do curso. Empolgado e ainda com um certo grau de ingenuidade com relação à coisa pública, escrevi um artigo sobre aquele fato. O texto foi publicado no espaço de opinião do jornal Meio Norte cerca de uma semana depois, em um dia de domingo.

No artigo, eu celebrava a ordem de serviço de uma obra muito sonhada pela população da minha terra e ainda destacava que o nome de Dom Inocêncio havia ganhado holofotes na imprensa. Num trecho, escrevi: "A maior autoridade da República não esteve em solo inocentino, mas deixou nele a alegria espalhada no rosto de cada sertanejo. A assinatura da ordem de serviço da adutora Padre Lira significou o início de um sonho dos moradores do ressequido município piauiense. Um sonho que agora começa a virar realidade".

Ledo engano. Passados mais de seis anos, a adutora nunca virou realidade. Até hoje, os moradores sonham com a conclusão da obra, que até foi iniciada, mas nunca chegou ao fim. O prazo inicial de conclusão era para 2014. Os recursos para a construção, superiores a R$ 16 milhões, são oriundos do Ministério da Integração Nacional, mas a execução da obra cabe ao governo do Estado do Piauí. O Instituto de Desenvolvimento do Piauí (Idepi) é o órgão responsável pelos serviços, responsabilidade que, na verdade, não existe.

Obra parou e foi esquecida no sertão (Foto: Gustavo Almeida/PoliticaDinamica.com)

Em 2016, já no Política Dinâmica, fiz matéria sobre o abandono da obra. Na época, o Ministério da Integração informou que os valores estavam sendo liberados conforme o andamento e que era preciso eu procurar o Governo do Piauí para saber porque a obra parou. O governo do Estado alegou, por sua vez, que as obras pararam porque a empresa responsável pelo fornecimento dos tubos tinha atrasado a entrega do material. Até hoje, a tão sonhada adutora segue sem conclusão. A Comunicação do governo de Wellington Dias (PT) já esteve por lá fazendo belas imagens para divulgar, mas a realidade não tem beleza.

Portanto, sempre que você ver ou ouvir propagandas de assinatura de ordem de serviço, desconfie, pois, elas não querem dizer muita coisa. Cito a adutora Padre Lira porque é da cidade onde cresci, mas poderia citar tantas outras. O Porto de Luís Correia um dia já teve sua ordem de serviço assinada, o Centro de Convenções de Teresina (que aos trancos e barrancos chega perto da conclusão) teve sua ordem de serviço. Riscar papel e aparecer na propaganda, todo político quer, mas ter responsabilidade com as obras, poucos têm.

No Piauí, se gasta absurdos com propaganda. Só isso já é, por si só, muito grave. Mas pior ainda é quando vemos que se propaga o que nem existe. O nosso povo leva "balão" quase todos os dias, mas antes de levar, a propaganda tem que rodar. É balão em dose dupla.

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