O MEDO TOMA CONTA DOS RINCÕES

O crime tem encontrado vida fácil no interior (Foto: Reprodução/Internet)

Durante o feriadão do Carnaval, recebi pedidos para que fizesse alguma publicação sobre a violência que toma de conta do interior do Piauí. Os pedidos vieram de São Raimundo Nonato, município localizado a 530 km de Teresina. Talvez por eu ser natural daquela região, fizeram o pedido a mim. Que a violência no Piauí é algo preocupante, não é nenhuma novidade. Em nosso Estado, a bandidagem parece encontrar facilidades em muitos aspectos.

Em São Raimundo, lugar conhecido pelo Parque Nacional da Serra da Capivara, a população vive assustada com as constantes ocorrências de crimes. Na madrugada da última segunda-feira (4), a cidade voltou a ficar apavorada com mais um assassinato: um homem voltava do trabalho com a esposa em uma moto, no caminho ele foi perseguido por assaltantes que andavam em outra moto. Flávio Ribeiro, 40 anos, levou cinco tiros e morreu no local. A mulher dele, Elizete Reis dos Santos, 42 anos, foi baleada e transferida para Floriano.

O casal havia trabalhado até a meia-noite em uma pizzaria de São Raimundo Nonato e voltava para casa, localizada já no vizinho município de Bonfim do Piauí. O crime aconteceu ainda em território sãoraimundense. Nesses primeiros meses de 2019, a região já registrou outros assassinatos, além de várias outras ações violentas como assaltos. Conforme os relatos da população, a maioria dos casos permanece sem elucidação e a violência só cresce.

Outro fator que também tem assustado os moradores da região é o avanço desenfreado da droga, até mesmo nas comunidades rurais. Sobre esse assunto, já escrevi recentemente. Na propaganda oficial, muito se vê discursos sobre investimentos na Segurança Pública, mas a população infelizmente não tem sentido os efeitos disso. A sensação no interior é de que a situação só piora e que a tranquilidade de outrora vai ficar apenas na lembrança.

Andar por uma estrada vicinal no interior, ir a um forró na zona rural ou deixar um veículo estacionado a noite na porta de casa já não é algo que se faça com muita confiança. Mulheres com medo de serem violentadas na rua não é mais coisa de cidade grande. Ser morto por um motivo banal na volta do trabalho, como aconteceu com Flávio Ribeiro, menos ainda. Com contingentes policiais reduzidos, viaturas sucateadas e sem ações de inteligência policial, a população vive cada vez mais à mercê do crime nos rincões piauienses.

Vista aérea da cidade de São Raimundo Nonato (Foto: André Pessoa)

Está mais do que na hora da Segurança Pública não ser tratada como trampolim político. É preciso que os investimentos e a força do Estado seja sentida de verdade. Discursar e falar que o piauiense é um povo batalhador, uma gente guerreira, não basta. É preciso garantir proteção a esse povo, pois há algum tempo ele está perdendo para aqueles que optaram pelo crime. É urgente que o Estado olhe para a situação das pequenas e médias cidades.

Em maio de 2018, uma jovem de 22 anos trafegava entre São Raimundo e São Lourenço do Piauí. A distância entre as duas cidades é de 26 km. No caminho, foi perseguida por dois homens numa moto. Eles a ameaçaram com uma arma, obrigaram a entrar no mato e a estupraram. Depois da violência, abandonaram a vítima e fugiram levando a moto e os pertences. Nesse caso, diferente da maioria, dois suspeitos foram presos três meses depois.

Da parte do Estado, não se tem notícia de nenhum plano ou política de segurança voltada para conter o avanço do crime e das drogas nas pequenas cidades. É preciso intensificar as ações de prevenção aos crimes e a fiscalização para botar na cadeia quem distribui drogas no interior. Em alguns casos, qualquer roda de conversa nas esquinas das pacatas cidades dá conta de quem supostamente são essas pessoas. No entanto, a polícia parece não saber.

O drama dos moradores da região de São Raimundo Nonato é o mesmo enfrentado pela população de diversas regiões do Piauí. Infelizmente, a onda de insegurança se avoluma num ritmo extremamente maior do que a evolução do Estado no tocante à segurança pública. É preciso entender que uma cidade como São Raimundo Nonato até tem nome de santo, mas ele não fará milagre para conter a violência se o Estado não deixar de ser inoperante.

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