Projeto Seis e Meia voltou na hora certa

Quem foi ao Theatro 4 de Setembro na noite desta terça-feira, 18, teve o prazer de um encontro com o que há de melhor na música. Com o retorno do Projeto Seis e Meia, quem tem o bom gosto musical foi brindado carinhosamente com uma sequência de canções que fazem bem ao corpo e a alma.

Uma imensa fila que ia até ao meio da Praça Pedro II se formou pelos ouvintes da boa música para uma audiência de todas as faixas etárias. Desde adolescentes até portadores de cabelos grisalhos em consonância com a idade avançada. Quando foi aberta pontualmente às 18h30, a casa ficou completamente lotada no primeiro piso e com muita gente aboletada nos pisos superiores.

Para fazer jus ao retorno triunfal do projeto que sempre manteve público fiel, toda a pompa e circunstância que exigia o momento. O Cerimonial do Palácio do Karnak comandou a solenidade com a oficialidade merecida. A vice-governadora, Margarete Coelho, beletrista e entusiasta das artes e da cultura, representou o govenador do Estado.

João Vasconcelos, Fábio Novo e Margarete Coelho (foto/Marcos Montelo)

O secretário de Cultura, Fábio Novo, e o diretor do Complexo Cultural Clube dos Diários e Theatro 4 de Setembro, João Vasconcelos, compuseram as autoridades em destaque na solenidade conduzida pelo mestre de cerimônias e ator, Fábio Costa.

Em sua fala, o comandante do órgão cultural anunciou as próximas atrações do projeto até o final do ano, que eram aplaudidas a cada citação. Vem aí Elba Ramalho (11/09), Ângela Rô Rô (06/10), Cauby Peixoto (17/11) e Martnália (17/12). As atrações locais não foram anunciadas, mas, certamente, vão disputar uma grande oportunidade de figurar entre nomes incontestáveis.

Na cerimônia rápida, a vice-governadora assinalou a importância do projeto para o calendário cultural do Estado, destacando o encontro de grande artistas de projeção nacional com a prata da casa, ao tempo em que parabenizou o trabalho realizado pelo secretário e sua equipe, que realmente merece a devida vênia.

Os shows – Rubens Lima faz as honras da casa

Acompanhado pelos músicos Fábio Mesquita (teclado), Paulo Dantas (contrabaixo) e Bruno Moreno (bateria), Rubens Lima mostrou sua versatilidade ao vocalizar nos standards nacionais e internacionais.

Iniciando por Cole Porter, Night and Day, deu o tom do repertório selecionado para agradar a gregos e troianos saudosos do projeto. Na mesma leva, antes do boa noite, mandou um Tom Jobim para conquistar a plateia, que correspondeu cantando afinadamente Corcovado.

“Um cantinho, um violão, esse amor, uma canção para fazer feliz a quem se ama” pôs um coral surpreendente protagonizar a interação com o cantor, que caiu nas graças da plateia. Em seguida, Caetano Veloso, Muito; Beatles, Something; Johnny Alf, Eu e a Brisa; Chico Buarque, Futuros Amantes; George Gershwin, Summertime; Djavan, Capim.

Rubens Lima (foto/Marcos Montelo)

E mais uma vez, o maestro brasileiro fez a plateia cantar mais que Rubens Lima, que ficou a comandar o coral improvisado em Chega de Saudade, de Tom e Vinicius. “Pois há menos peixinhos a nadar no mar do que os beijinhos que darei na sua boca” saiu em uníssono e fizeram o altar para o grand finale.

Como começou, Lima encerrou. Cole Porter, mas, com outra canção sensacional, I’ve got you under my skin. Muito à vontade no palco, Rubens ensaiou até uns passos na versão sambeada de Capim. O arranjador Fábio Mesquita, preciso, capitaneou a banda de craques. Na sensibilidade jazzística, o set list tomou um ar de alto nível, preenchendo o espaço, aparentando uma big band.

O cantor, veterano dos palcos mafrenses, honrou a casa e deu as boas vindas para a atração principal com uma performance satisfatória, mas um pouco tímida para quem o conhece há mais tempo. Entretanto, a interatividade com a plateia tirou qualquer diferença no desempenho da voz potente e bem colocada que estamos acostumados a ouvir.

Leila, um vinho raro

Após um rápido intervalo para rearrumar a disposição dos instrumentos no palco e os técnicos de som e luz, Leila entrou em cena às 20h06 com a batida do playback da canção que nomeia seu novo álbum, Por onde eu for, de autoria de Adriana Calcanhoto.

Com 35 anos de estrada, Pinheiro, tal qual um vinho raro, faz do tempo tempero que matura seus encantos. A voz poderosa tomou conta e deixou a saudosa audiência em silêncio, apreciando-a devotamente, como quem saboreia um cálice de um legítimo Borgonha da melhor safra pinot noir.

Leila Pinheiro (foto/Marcos Montelo)

A entrega na interpretação, com uma carga dramática superlativa enlevou a todos. Com a temática do amor como centro de seu repertório, avisou que era uma prato cheio para quem estava bem acompanhado, mas um tormento a agravar a dor de cotovelo.

Sua verdade canora destilou a potência por compositores como Gilberto Gil, Zé Kéti, Guilherme Arantes, Zélia Duncan (várias), Flávio Venturini, Mílton Nascimento, deixando seus fãs quietinhos, numa vibração contrita de quem tem profunda admiração.

Sem excessos, com a firmeza da aplicação de tremolos e vibratos na medida certa, ia embevecendo a todos e arrancando lágrimas dos mais sujeitos a emotividade do que é sublime. Ela estava afim de mostrar sua maturidade enquanto cantora e artista, premiando a quem assistiu com um presente inesquecível.

Leila Pinheiro (foto/Marcos Montelo)

Variando entre o teclado e o violão, acompanhou-se de sucessos consagrados e canções mais recentes numa sequência equilibrada, selecionando as músicas em total domínio na perícia da instrumentista e a eficiência da cantora que sabe a força da modulação mágica de sua abençoada voz.

Assessorando sua atuação, o gestual complementava o tom intimista das composições em movimentos estudados e colocados numa encenação acurada. Tudo em cima. Sem defeitos. Nem grandes efeitos. Marcante na singeleza de seu timbre e de sua verve tonificada de uma exímia conhecedora dos instrumentos que a trouxeram ao estrelato.

Leila Pinheiro (foto/Marcos Montelo)

No bis, que não demorou mais que uma sequência de aplausos insistentes da plateia toda de pé, o primor de Walter Franco, Serra do Luar/Coração Tranquilo. Para deixar todos exultantes, Besame – acompanhada em coro com toda a afinação. Vitoriosa de Ivan Lins, com uma citação instrumental de Depende de Nós, do mesmo compositor, até ela levantar-se e encerrar com a mesma canção que começou o show.

Uma noite magistral, marcante e memorável. Para ser guardada com carinho no fundo do peito e lembrar saudosamente ao ouvir novamente quaisquer uma das músicas que foram apresentadas em próxima audição. O Projeto Seis e Meia voltou na hora certa. Aplausos calorosos aos artistas e a todos os envolvidos na produção de tão belo espetáculo. Um deleite! 

Leila Pinheiro (foto/Marcos Montelo)

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