O sabiá

Tenho uma porção de poemas ainda não publicados. Aguardo o momento oportuno para ingressar no universo literário, mas por outra modalidade que não a poesia. Depois ela terá a sua vez. Um dos livros inéditos de poemas chama-se “Os Animais”. Provavelmente será através dele que hei de ingressar neste campo tão belo.

Mais do que cantar a fauna de forma direta, a intenção é traçar as analogias que nos liga a ela. De uma forma ou de outra, no exercício de contemplação da natureza, de onde partiram juntas e irmanadas a poesia e a filosofia, estamos usualmente na comparação e em busca de encontrar o ponto comum com o que observamos.

Um eterno laboratório, mais conhecido como vida, nos oportuniza a olhar o sublime nos detalhes que passam ao largo no dia a dia. Uma manobra da sensibilidade artística que favorece trazer ao papel o que normalmente foi distanciado pelo pragmatismo a que somos submetidos na luta pela sobrevivência.

Na imagem, uma variação da espécie objeto do poetador. Uma ave típica brasileira, mas com diferenças bem visíveis pelas regiões de sua ocorrência. A foto mostra um sabiá-barranco. O mais conhecido deles é o sabiá-laranjeira, que tem a parte inferior mais avermelhada. Longe de ser um ornitólogo, apenas aprecio os canoros, que me encantam também pelos ouvidos.

O Sabiá

Um sabiá assobia,

Pássaro sabe que passará

Oscula solfejos,

Chilreia soluços

Dos alados, ecos escoam

Canoros ressabiados revoam fuga

Gaiolas passarinham

Engolem sem pena

Timbre novo de melodia plena

Caem em visgoverbo que desvia e guia

Passarinho faz ninho prisioneiro

Em cativeiro, a sina oficia,

Sozinho de tristeza pia

Em poema de ornitologia

Poeta é isca,

Entretanto, se licencia e arrisca:

“Pranto é antologia,

Enquanto canto,

Alivia”

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