Improviso pra convocar e rugido pra motivar

A poesia está além de letras, linhas e entrelinhas. O poema que nos escapa e vai ao papel é uma ínfima parte do todo que vemos e contemplamos. A poesia está nas coisas e nos seres. Impossível decantar em palavras o voo de peixe no oceano ao fim de tarde apenas com vocábulos, por exemplo. Ademais, são tentativas em postar de forma sensível, que cabe aos poetas, a busca por formatar as belezas e outros tantos de encantos ou dores que estão por aí a nos inspirar e ensinar.

O Dia Nacional da Poesia, celebrado hoje, 14 de março, é uma referência ao gênio da poesia escrita brasileira, Castro Alves. O genial baiano nasceu para o ofício. Um artesão das palavras, desde cedo, precocemente mostrou sua intimidade com as letras e nos deixou pérolas fantásticas de muitas vertentes para nortear a todos os que amam essa sublime forma de arte.

Abaixo, um poema de Alves, escolha minha entre tantos. Você perguntaria: por que não colocou “O Navio Negreiro”? Poderia ser, talvez a obra-prima do trovador que ficou conhecido como “O poeta dos escravos”, pela sua dedicação ao tema e luta antiescravagista. Mas, pelo mesmo motivo, escolho uma que é tão libertadora quanto a do navio. Nestes mares bravios que atravessamos, nada mais oportuno do que um poema em que Castro, estudante de direito em Recife, mostrou sua verve de militante das causas coletivas.

Improviso

(À mocidade acadêmica)




Moços! A inépcia nos chamou de estúpidos!


Moços! O crime nos cobriu de sangue!


Vós os luzeiros do país, erguei-vos!


Perante a infâmia ninguém fica exangue




Protesto santo se levanta agora,


De mim, de vós, da multidão, do povo;


Somos da classe da justiça e brio,


Não há mais classe ante esse crime novo!




Sim! mesmo em face, da nação, da pátria,


Nós nos erguemos com soberba fé!


A lei sustenta o popular direito,


Nós sustentamos o direito em pé!

Deixo uma pequena contribuição poética. Partindo de uma figura de linguagem, a aliteração, algo bem curtinho para colaborar com o momento. A aliteração poética é um recurso usado para dar ênfase em parte ou no todo de um poema, afim de mostrar a força sonora da onamatopeia – o som das coisas ou dos seres.

O poeminha abaixo é para ser dito/recitado rapidamente seguidas vezes. Só assim consegue-se a percepção e intenção do mesmo. Lembrando o rugido do rei das selvas, com a pronúncia caprichada do “r”, faz-se presente pela repetição sequenciada, numa tentativa de dar alma à composição. Salve Castro Alves! Viva a poesia!

Leão

Urge

Agir

O que surge

A juba

Ajuda

A quem ruge


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