VOCAÇÃO PARA A POBREZA

Rebanho de caprinos do PI é o terceiro maior (Foto: Gustavo Almeida/PoliticaDinamica.com)

Historicamente o Piauí figura entre os estados mais pobres do Brasil. Nas últimas três décadas houve avanços significativos, mas nada que nos tirasse das últimas posições em alguns dos principais indicadores econômicos e sociais. Apesar de alguns saltos, ainda somos um estado pobre, deficiente em infraestrutura e em geração de oportunidades de renda.

Mas essa realidade poderia ser diferente. Em meio à pobreza, é fácil encontrar desperdícios de oportunidades. Um dos grandes problemas do Piauí, além da pobreza, é a incapacidade de gerar riqueza aonde existe potencial. Quando aparece alguém para aproveitar, geralmente é da iniciativa privada, a exemplo do avanço na produção de energias limpas e do agronegócio da região do Cerrado. No que depende da parte governamental, o ritmo é lento.

Uma das regiões que mais sofre com carências e falta de oportunidades é o semiárido, secularmente castigado pela seca. Em pleno século XXI, ainda falta até mesmo água em muitas localidades. Em outras, onde existe água armazenada em reservatórios, não existem adutoras para levar o líquido até a população. Além disso, faltam oportunidades de emprego.

Mas é justamente no semiárido onde podemos encontrar exemplos do desperdício de oportunidades. Tomemos como exemplo o grande rebanho de ovinos e caprinos daquela região, um potencial que poderia ser vetor de desenvolvimento. O Brasil possui um dos maiores rebanhos de caprinos e ovinos do mundo e é justamente a região do semiárido, nas divisas de Bahia, Piauí e Pernambuco onde existe a maior concentração da espécie no país.

O município de Dom Inocêncio, distante 615 km de Teresina, possui o maior rebanho de caprinos do Piauí e o 21º maior do Brasil. Isso mesmo: apenas 20 municípios do país têm mais caprinos do que Dom Inocêncio. Segundo dados mais recentes da Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM), feita pelo IBGE em 2018, o município possui 82.387 cabeças de caprinos. Além disso, Dom Inocêncio ainda tem o 3º maior rebanho de ovinos do Piauí e 50º do Brasil.

Vale apontar que bem ao lado de Dom Inocêncio está Casa Nova, município da Bahia que lidera disparado os rankings de maior rebanho de caprinos e ovinos no Brasil. Por lá, são 510 mil cabeças de caprinos e 442 mil ovinos, segundo a mesma pesquisa do IBGE feita em 2018.

Semiárido possui grande potencial com rebanhos (Foto: Gustavo Almeida/PoliticaDinamica)

Também no semiárido piauiense está a carente Jacobina do Piauí, onde a população enfrenta dificuldades e os índices de desenvolvimento humano e econômico são pífios. Com pouco mais de 5 mil habitantes, Jacobina tem o maior rebanho de ovinos do estado e o 38º do país. Pertinho dali fica Paulistana, com o 2º maior rebanho de ovinos do Piauí e o 41º do Brasil.

A carne é um dos produtos mais consumidos no mundo inteiro. Além dela, podemos apontar a utilidade do couro e outros derivados desses animais. Assim, é difícil imaginar como uma região com tanto potencial [o rebanho é só um exemplo] não consegue se desenvolver a contento. É difícil compreender como o poder público não cria políticas eficientes para driblar a falta de oportunidades no semiárido mesmo com tamanho potencial bem ali.

Enquanto isso, vemos Governo do Estado chorando miséria e prefeitos que não sabem viver sem o dinheiro do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Não se espera que essa parte do semiárido vire potência econômica com os maiores rebanhos de caprinos e ovinos do país, mas também não se admite que ela passe por tantas dificuldades em meio a um potencial em baixo do seu nariz. Às vezes, o Piauí parece mesmo ter é vocação para a pobreza.

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