ALGUÉM SE BENEFICIA POR TRÁS DA CHACOTA

Ao votar por chacota, eleitor pode estar sendo usado (Foto: Marri Nogueira/Ag. Senado)

Qualquer cidadão em pleno gozo de seus direitos políticos pode se candidatar a um cargo eletivo, desde que esteja filiado a um partido que chancele sua candidatura. A democracia que vigora no Brasil permite que pessoas dos mais variados perfis disputem mandatos numa eleição. No poder legislativo, por exemplo, temos figuras de todo tipo. Rico, pobre, zeladores, semianalfabeto, palhaços, professores, padres, pastores, estudantes, jornalistas, etc.

Essa pluralidade nas Câmaras Municipais, nas Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional, no meu entender, é positiva, afinal, a representação política não pode estar concentrada numa única casta. No entanto, é preciso chamar atenção para alguns pontos: nos últimos anos, partidos têm adotado como estratégia lançar nomes pitorescos ou figuras públicas com "alguma fama" para atrair votos e conseguir legenda para outros candidatos.

Diante do descrédito da maioria dos políticos tradicionais, uma grande parcela da população acaba votando nessas figuras. É um voto de protesto, um voto de chacota e zoação. A grande verdade é que nesses casos o eleitor pensa que está "tirando onda", mas está mesmo é atendendo a interesses de políticos tradicionais. O voto "tiração de onda" é um filé para caciques que usam nomes famosos com algum interesse próprio ou do seu grupo político.

Traduzindo em miúdos, o eleitor acha que está fazendo vantagem, mas, na verdade, está sendo usado. O protesto contra políticos tradicionais é só uma ilusão que muitos caem facilmente. Em Teresina, o nome de uma personagem famosa das noites da cidade foi posto como pré-candidata a vereadora. O anúncio dominou imprensa, redes sociais e bastidores da política. Se considerarmos o efeito Tiririca, a badalada pré-candidata tem chances na capital.

Como dito no início deste artigo, não se questiona o direito de nenhum cidadão ser candidato e nem tampouco a pluralidade nas casas legislativas. O que se deve prestar atenção é aos interesses por trás dessas candidaturas e como elas podem beneficiar terceiros. Na maioria dos casos, os mentores dessas jogadas políticas não param um minuto sequer para pensar na atuação dessas figuras caso elas venham a ser eleitas. O lado qualitativo não importa.

No Brasil, a grande maioria dos políticos vive mais preocupada com eleição do que com o efetivo exercício do mandato. Quem incentivou a candidatura de Tiririca, por exemplo, certamente não tinha a intenção de levar para o Congresso Nacional uma figura em que se vislumbrava atuação qualificada e com boas ideias, embora não se faça aqui nenhum julgamento do desempenho do palhaço em seus mandatos na Câmara dos Deputados.

A reflexão que se faz é para o fato de que essas candidaturas, em sua maioria, são gestadas por políticos tradicionais para atrair votos para suas chapas e ajudar a eleger outros nomes. Seria injusto fazer juízo de valor meramente pela atividade que um candidato desempenhe ou tenha desempenhado no passado [desde que não tenha sido ilícita, claro]. O que se alerta é para a prudência de analisar quais interesses estão por trás desse tipo de candidatura.

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