Nas últimas semanas jornalistas estão recebendo a informação de que a deputada federal Margarete Coelho pode deixar o Progressistas para seguir na base do governador Wellington Dias (PT). Na última segunda-feira (26), durante o evento em que seu nome foi disponibilizado para a disputa de governador em 2022, Ciro Nogueira foi categórico ao assegurar que a deputada estará com ele na campanha, apesar dela não estar presente ali. É muito menos afinidade e muito mais matemática: fora do PP, Margarete dificilmente vai ser reeleita.
Estar em cima do muro é conveniente para Margarete e para Ciro. Ela se fortalece até onde der, e Ciro impede que algum adversário ganhe musculatura. Na prática, a permanência de Margarete no governo só enfraquece o governador Wellington Dias (PT). É só fazer as contas, e desse tipo de conta o petista entende.
SEM PAIXÃO, VAMOS AOS FATOS
Vamos fazer alguns cálculos com números redondos para facilitar o raciocínio.
Em 2010, a deputada federal progressista Iracema Portella teve 91 mil votos. Em 2014, foram 30 mil votos a mais, numa soma que chegou a 121 mil votos. Nessas duas eleições, foi a única eleita pelo PP.
Em 2018, a estratégia de Ciro era aumentar sua influência em Brasília e conseguir duas cadeiras na Câmara Federal para o PP. Então ele redistribuiu colégios eleitorais de Iracema para Margarete e para Mainha.
Iracema foi reeleita com confortáveis 96 mil votos e Margarete chegou à Câmara Federal com 76 mil votos. Ter sido vice-governadora de Wellington durante 4 anos não a elegeu naquela época, por qual motivo indicar o comando da Secretaria do Meio Ambiente no Piauí faria mais por ela? A SEMAR comandada pela irmã de Margarete é apenas a 15ª entre 22 secretarias do governo e ainda assim não controla mais do que 0,5% do orçamento estadual.
Lá em 2018, sendo a penúltima deputada federal eleita em sua coligação. A maior votação dela foi em Teresina, 17 mil votos capitaneados pelo então prefeito de Teresina Firmino Filho (PSDB), fruto de um acordo direto com o senador Ciro Nogueira. São mais de 22% dos votos que ela teve. Com a morte de Firmino já vai ser difícil juntar esse pessoal todo outra vez, imagine saindo do PP para ficar com do governo que, em tese, esse eleitorado desaprova e enxerga como adversário. Não tem muita chance de dar certo.
Em alguns municípios, quase toda a votação de Iracema foi direcionada à Margarete: em Altos, por exemplo, Iracema teve 988 votos em 2014, mas em 2018 foram apenas 101, enquanto Margarete teve 1.249 votos.
Em outros municípios, a votação foi dividida entre as duas, como é o caso de Campo Alegre do Fidalgo, onde Iracema teve 1.356 votos em 2014. Em 2018, Iracema teve 814 e Margarete teve 431. Somadas, as duas tiveram 1.245. Já em Monte Alegre do Piauí, a soma da votação de Iracema (31 votos) e de Margarete (1.181 votos) é praticamente a exata votação que Iracema teve na eleição anterior, 1.213 votos. Estes são apenas alguns exemplos.
QUESTÃO PRAGMÁTICA
Se Margarete Coelho -- ou qualquer jornalista -- fizer as contas do que ela perde ficando com Wellington, vai entender que o caminho é ficar no PP. Se Wellington fizer -- e já deve ter feito -- as contas do que ele ganha se Margarete ficar no governo, vai entender que já passou da hora de mandá-la embora.
Só pra constar, Wellington ofereceu a SEMAR para Wilson Martins quando o acordo com o PSB foi fechado há duas semanas. A irmã de Margarete só continua secretária porque o ex-governador preferiu a Defesa Civil.
Às vezes, canta Marisa Monte, a pessoa realmente não sabe o que fez pra merecer o que tem, por que ninguém dava nada pela pessoa e quem dava, a pessoa não tava a fim. Mas o final é feliz.
Ainda bem.
Comente aqui