NÃO É UMA POLÍTICA INSTITUCIONALIZADA QUE VAI DIMINUIR O FEMINICÍDIO, MAS VAI CONTRIBUIR, DIZ HALDACI REGINA

Coordenadora comenta destaque negativo do Piauí no mapa da violência contra a mulher (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)

Por Ananda Oliveira e Marcos Melo

A coordenadora estadual de Políticas para Mulheres Haldaci Regina comentou, em entrevista à imprensa na manhã desta segunda-feira (10), sobre as discussões dentro dos órgãos do governo estadual sobre estratégias de enfrentamento a crimes de feminicídio no Piauí.

Desde o estupro coletivo de quatro meninas em Castelo do Piauí, ocorrido em 2015 e onde uma delas veio a falecer, outros casos de violência contra a mulher foram registrados, com espantosa frequência e geralmente feitos com requintes de crueldade. O feminicídio tem se tornado, infelizmente, vocábulo comum nas páginas policiais. Mais do que isso, é um medo frequente das mulheres Brasil afora e no Piauí, é notório, não é diferente. O último caso de grande repercussão foi o assassinato da estudante Iarla Lima Barbosa, morta pelo namorado. Em nota, a CEPM-PI se pronunciou sobre o caso:

“Lamentamos que casos como esse ainda sejam justificados como um crime causado por ciúmes, um crime passional. Mulheres são mortas quase que diariamente por esse tal "motivo". Sendo que esse tipo de crime é fruto de uma cultura machista que coloca as mulheres como seres submissos e que devem estar sob posse dos homens. Devemos encarar esses fatos com total indignação. E nos unirmos para que mais mulheres não tenham suas vidas vilipendiadas por conta desse machismo enraizado que machuca, fere e mata. Nos solidarizamos com as famílias das vítimas e pedimos que as providências, quanto a punição do criminoso, sejam tomadas”.

Para Haldaci, é fundamental que se estabeleça uma rede de integração entre os órgãos da estrutura governamental. Educação, Saúde, Justiça e a própria Coordenadoria Municipal de Políticas para Mulheres, entre outros, são convidados a formar um verdadeiro movimento contra a violência e o feminicídio.

“De acordo com o que tem acontecido em relação às práticas de feminicídio no estado do Piauí, os dados tem apresentado que o Piauí é um dos estados com destaque negativo em relação ao aumento do número de feminicídios. A gente quer ter uma ação coletiva. O que podemos fazer enquanto política estadual pra gente diminuir [esses casos]?, questiona.

A coordenadora fala também da conscientização da sociedade como um todo em torno dessa causa e da contribuição que outros setores, como a imprensa, para que a situação mude. Para ela, apenas campanhas não dão conta de promover essa mudança na forma de pensar a relação entre homens e mulheres.

“Não é uma política institucionalizada que vai diminuir o feminicídio, mas vai contribuir. Há necessidade também que a própria sociedade se conscientize disso. Há necessidade que a gente trabalhe outra forma de educação, e não só a educação formal”, assinala.

NÚMEROS

Os dados negativos que Haldaci comenta mostram que nos últimos anos há um crescimento da taxa de feminicídios, a despeito de políticas públicas e leis que punem tais práticas, como é o caso da Lei Maria da Penha. De acordo com informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) apenas em 2014, segundo os registros do Ministério da Saúde, 59.627 pessoas sofreram homicídio no Brasil.

O Atlas da Violência 2016 afirma: “treze mulheres assassinadas por dia no Brasil. Esse é o balanço dos últimos dados divulgados pelo SIM, que tomam como referência o ano de 2014. Isso significa dizer que, no ano em que o Brasil comemorava a Copa do Mundo e se exibia ao mundo como nação cordial e receptiva, 4.757 mulheres foram vítimas de mortes por agressão”. Tais dados englobam não só o feminicídio, como crimes que afetam homens e mulheres, mas é elucidativo do crescimento da letalidade entre pessoas do sexo feminino.

Voltando ao caso que abre esse texto, é fundamental encontrar saídas para essa situação. Uma rede integradora da sociedade para conscientizar e combater tais crimes é, sem dúvidas, um bom começo.

Comente aqui