“FINANCIAMENTO SEMPRE FOI ESSE”, DIZ JOÃO DE DEUS SOBRE CAIXA 2

Por Gustavo Almeida

João de Deus diz que sistema propicia a corrupção (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica)

O deputado estadual e líder do governo na Assembleia Legislativa do Piauí, João de Deus (PT), afirmou em entrevista ao Política Dinâmica que o atual modelo político do Brasil acabou propiciando os desmandos que estão sendo revelados pela operação Lava Jato. O petista diz que o financiamento empresarial, que era permitido, e o Caixa 2, são práticas históricas no país.

“O financiamento de campanha no Brasil sempre foi esse aí: empresarial e Caixa 2. Se você pegar os balancetes de contas de candidatos que tiveram quantidade enorme de votos e que não eram sequer conhecidos, que não tinham nenhum trabalho perante a sociedade, você vai se perguntar: que milagre é esse? Foi o dinheiro. Mas você pega a prestação de contas dele e está lá uma modesta prestação de contas. É uma prática histórica no Brasil”, disse.

Conforme o parlamentar, o modelo de financiamento empresarial empurrava a classe política para o caminho da corrupção. “Todo mundo saía batendo as portas dos empresários para pegar recursos para bancar suas campanhas. E está aí o porquê dessas surpresas que a gente tem no processo eleitoral, que não é democrático”, afirmou.

DELAÇÕES PREMIADAS
O deputado comentou o grande número de delações premiadas que têm revelado à sociedade brasileira a atuação obscura de políticos de quase todos os partidos. Ele lembrou que é preciso ter cautela, pois os delatores resolvem falar para se beneficiarem após serem presos. 

"Eu tenho muita cautela. A figura fazer delação premiada depois que já está com 2 anos presa ela é capaz de entregar até a própria mãe. A delação é a mais ampla possível e, aliás, tem uma série de outras delações para acontecer. No final acho que vai terminar pegando até o juiz Moro de tanta delação [risos]".

Deputado diz que políticos estão pressionados (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)

CLASSE POLÍTICA PRESSIONADA
O financiamento empresarial de campanha foi proibido, mas ainda ocorre disfarçado por meio do chamado Caixa 2, que são valores recebidos e não declarados. Apesar de lamentar os escândalos revelados pela operação, João de Deus vê o lado positivo dos últimos acontecimentos. Segundo ele, a classe política se vê obrigada a propor reformas no sistema eleitoral, inclusive com um novo modelo de financiamento.

“O que eu acho importante nesse processo é que a classe política agora está pressionada a apresentar uma proposta de reforma, porque esse modelo que está aí não funciona mais. Quem sabe nós possamos colher os frutos de um modelo que seja realmente democrático e dê oportunidades iguais a todos, do mais rico ao mais pobre”, falou.

ELEITOR VICIADO
O deputado destacou que a Justiça não deve conseguir julgar os processos de todos os políticos investigados até as eleições de 2018, mas lembrou que cabe ao eleitor fazer sua reflexão na hora de escolher os candidatos no ano que vem.

“De qualquer forma vai caber ao cidadão fazer sua análise de consciência. Na verdade nós estamos numa sociedade em que, infelizmente, até o eleitor está viciado. Ele quer votar, mas a primeira coisa que ele pergunta não é qual a proposta do candidato, mas sim quanto ele vai lhe dar. Claro que isso não ocorre com 100% dos eleitores, mas há um vício na sociedade brasileira sem dimensão em relação a isso”, afirmou.

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