O sucessor de Levy

Desde que ficou acertada esta semana a saída de Joaquim Levy do primeiro escalão, a presidente Dilma Rousseff iniciou um processo de consulta a assessores e aliados em busca de um nome para comandar o Ministério da Fazenda.

Diante da dificuldade para atrair alguém de fora para o governo, a opção pode ser por uma "solução doméstica": o deslocamento do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, para a Fazenda; e no Planejamento, um nome político, como o do senador Romero Jucá (PMDB-RR).

Também frequentam a lista de Dilma para a Fazenda nomes como o do ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, e até Alexandre Tombini, do Banco Central.

Luciano Coutinho, que na avaliação de assessores do Palácio do Planalto tem as credenciais para o cargo, estaria fora da lista porque alguns consideram que ele está "cansado", depois de tantos anos à frente do BNDES.

De fora do governo, entram na lista Henrique Meirelles (a resistência de Dilma a ele já teria diminuído); Otaviano Canuto, que chegou a ser sondado, mas recursou; e até o ex-ministro Delfim Netto, como um nome de referência, que poderia montar uma "tremenda equipe", na avaliação de um auxiliar da presidente.

O Planalto avalia que está ultrapassando o pior momento da crise política depois que o STF definiu o rito do processo de impeachment com um protagonismo maior do Senado, onde tem situação mais confortável e, no momento, bom relacionamento com o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Mas, no período da crise, percebeu a importância de ter na equipe econômica alguém com bom relacionamento político e que conheça o funcionamento do Congresso.

Daí surgiu a ideia de levar Romero Jucá para suceder Nelson Barbosa no Planejamento. Dilma e Jucá já se estranharam e a presidente o destituiu do cargo de líder do governo no Senado.

O senador de Roraima esteve alinhado com Michel Temer e ajudou na elaboração do programa "Uma ponte para o futuro", lançado pelo PMDB, que representa crítica à política econômica de Dilma e Levy.

Jucá esteve no Palácio do Planalto nesta semana e elogiou o trabalho de Nelson Barbosa na elaboração do Orçamento de 2016.

O desgaste de Joaquim Levy acabou precipitando a troca que, inicialmente, estava prevista para o começo do ano que vem. Nesta quinta-feira (17), no final da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), Levy se despediu dos participantes e disse que não estaria na próxima reunião, no fim de janeiro.

A declaração foi interpretada como a senha pública de que tem pressa de sair. O governo considerou uma imprudência tal despedida feita diante de dezenas de assessores da área econômica.

Na substituição de Joaquim Levy, que chegou ao governo para dar o aval de uma política fiscal equilibrada, a presidente Dilma quer mostrar que tal compromisso é dela, e não apenas do ministro da Fazenda. Com Nelson Barbosa na Fazenda, nada iria mudar, disse um auxiliar.

"Quem foi que brigou com o PT para fazer essa política econômica", questiona um petista próximo à presidente, para dizer que Dilma enfrentou o PT, discordou do ex-presidente Lula e fez prevalecer sua decisão de cortar gastos e buscar o equilíbrio fiscal.

Mas tudo isso, que o governo considera "grande esforço fiscal", não foi suficiente para Joaquim Levy. Ele discordou da meta de superávit aceita pelo governo, de 0,5% do PIB, e abreviou sua permanência no cargo– como, aliás, vinha publicamente avisando.

"A diferença entre o remédio e o veneno é a dose", diz outro ministro, tentando explicar o ponto de vista dos petistas.

"O ajuste fiscal é necessário, mas, se houver uma catástrofe, uma epidemia ou alguma coisa parecida, é preciso compreender; entre ficar temporariamente com a conta no vermelho ou deixar pessoas morrerem, é melhor ficar no vermelho e depois corrigir mais adiante", explicou esse auxiliar da presidente da República.

Para o núcleo do governo, Joaquim Levy, além da pouca experiência política e da dificuldade de relacionamento, "é muito dogmático" – não faz concessões e não flexibiliza nem mesmo diante de um cenário de recessão como o que vive o Brasil.

Na troca de comando no Ministério da Fazenda, o governo Dilma quer, ao mesmo tempo, declarar seu compromisso com a preservação da política fiscal e adotar medidas de estímulo à economia. Combinação que Levy não viu possibilidade de acontecer.

Fonte: Blog da Cristina Lobo/G1

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