Dilma e PT colecionam dissabores na primeira semana de agosto

Que agosto tem fama de ser o mês do desgosto é fato, mas certamente a presidente Dilma Rousseff e o PT não esperavam experimentar o que há de mais amargo já nos seus primeiros sete dias. Na área econômica, no Congresso, na Justiça, nas pesquisas de opinião, nas ruas e até na relação com aliados, o governo e o seu partido sofreram duras pancadas. Especialmente no Legislativo, a semana, com a retomada dos trabalhos depois do recesso, foi realmente explosiva, como previu o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – um dos responsáveis por jogar ainda mais combustível na crise. Para aumentar o desgosto dos petistas, agosto está só começando.

A sequência de golpes sofridos por Dilma e o PT começou logo na segunda-feira pela manhã, com a prisão do ex-homem forte do PT. José Dirceu, ministro da Casa Civil no início do governo Lula, voltou para a cadeia como principal alvo da 17ª etapa da Operação Lava-Jato. Ele foi levado da sua casa por agentes da Polícia Federal e desde terça-feira está cumprindo a prisão preventiva na carceragem da PF em Curitiba, por determinação do juiz Sérgio Moro.

Mas a prisão de Dirceu foi apenas o início de um calvário, que passou também por importantes derrotas no Congresso, que não se comoveu com os apelos para que fossem rejeitadas propostas que provocam aumento de gastos para os combalidos cofres da União. Não deu nem para respirar. Na terça-feira, primeiro dia da retomada dos trabalhos no Legislativo, Dilma sofreu a primeira derrota da semana no plenário ao ser rejeitado o seu pedido de adiamento na votação de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que vincularia os salários de várias categorias de servidores ao que recebem os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Um prenúncio do que ainda estava por vir. No dia seguinte, a PEC não só foi aceita (veja quadro), mas impôs uma humilhante derrota ao Planalto. A PEC passou com 445 votos a favor, 16 contrários e seis abstenções.

Inferno Não bastasse isso, na economia, ainda na quarta-feira, a estimativa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) apontou para um crescimento do desemprego em julho, com taxa de 7%. O salário médio de admissão caiu também 2% em junho, pior resultado nos últimos 11 anos. Na combalida relação com aliados, outro revés: o PDT e o PTB admitiram oficialmente que deixaram a base de sustentação do governo. Não serão oposição, e sim independentes.

Mas nada disso chegou perto dos desgostos da quinta-feira, ápice do inferno astral de Dilma e seus apoiadores. Já pela manhã, pesquisa do Instituto Datafolha mostrava que a petista entrava para a história com um recorde que nenhum político gostaria de alcançar: o de maior reprovação entre os presidentes eleitos após a redemocratização. Pelos números do instituto, Dilma superou o ex-presidente Fernando Collor de Melo, hoje senador. Nada menos que 71% consideram o governo da presidente “ruim” ou “péssimo”, contra 68% de Collor em setembro de 1992, pouco antes do impeachment.

A partir da constatação do desprestígio da presidente, foi só dor de cabeça. Mais enfraquecidos, PT e governo ainda assistiram imobilizados à instalação de mais três comissões parlamentares de inquérito (CPIs) sob a batuta de Eduardo Cunha – que ainda destila veneno contra o governo depois da abertura de inquérito pela Procuradoria-Geral da República para apurar o recebimento de propina por ele de R$ 3,5 milhões da Petrobras. Oposição e aliados fecharam acordo e deixaram o PT fora do comando das três CPIs. E uma delas tem potencial explosivo como a da petrolífera, a do BNDES, que terá seus empréstimos vasculhados nos últimos sete anos.

Panelaço Para fechar o dia, não faltou nem mesmo o lamento das ruas. Com programa partidário do PT exibido em rede nacional, foi reeditado o panelaço. A peça tinha 10 minutos e, antes mesmo de ir ao ar, o barulho de latas, buzinas e cornetas tomou conta das ruas. Uma resposta ao partido, que ironizou no programa o uso das panelas para protestos. Para o PT, panela é para ser colocada “comida” e “esperança”. O apelo dos petistas à população, para dar mais um crédito ao governo, teve efeito contrário ao desejado.

Na sexta-feira, sem o trabalho no Congresso, a notícia ruim ficou por conta da economia. De acordo com o IBGE, a inflação oficial acumula alta de 9,56% em 12 meses, a maior desde 2003. O índice está bem acima do teto da meta de inflação do Banco Central, que é de 6,5%. Em julho, também os alimentos tiveram os preços reajustados em 0,65%. Na política, “boatos” tomaram conta do país. O principal deles, de que o vice-presidente Michel Temer iria deixar a articulação política do governo. Temer desmentiu, mas foi um estresse para o Planalto e contribuiu para deixar o clima em Brasília ainda mais tenso.

O que deixa os governistas de cabelo em pé é que essa foi apenas a primeira semana de agosto. Já nos próximos dias, o governo Dilma vai enfrentar mais desafios e problemas. Para se ter ideia, no Congresso, poderá ser votada mais uma chamada pauta-bomba para as contas do governo: o projeto de lei que concede uma correção maior dos recursos do FGTS. Além disso, no próximo domingo, deve ser realizado mais um dia de protesto contra a presidente Dilma em diversas capitais do país. E até o fim do mês o aguardado julgamento pelo Tribunal de Contas da União (TCU) das chamadas pedaladas fiscais.

Fonte:  em.com.br

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