O CAVALO VAI PASSAR SELADO

O procurador-geral do Município de Teresina estava com os dias contados na função. A saída do advogado Aurélio Lobão era dada como certa após sucessivos impasses com o vice-prefeito Robert Rios (PSB). Mas um grupo de advogados não quer o nome de Aurélio disponível para a disputa pela vaga do Quinto Constitucional do Tribunal de Justiça do Piauí e isso deve lhe dar vida extra na Prefeitura. Não por muito tempo.

Favorzinho: segurar o procurador-geral no cargo até ele perder o prazo de concorrer ao TJPI; quem negaria um pedido vindo do grupo de amigos dos amigos de um ministro do STF? (foto: Ascom PMT)

Aurélio Lobão foi indicado pela atual gestão da OAB-PI para o cargo de procurador-geral. A indicação deixou insatisfeito o grupo do advogado Chico Lucas, que atualmente é presidente do Instituto de Terras do Piauí (INTERPI), no Governo do Estado.

PRA ENTENDER

A turma de Chico Lucas, que tem hoje vários contratos dentro da gestão de Doutor Pessoa (a exemplo dos advogados Lucimar Santos, Rodrigo Castelo Branco, Talmy Tércio e Diogo Caldas), acompanha Doutor Pessoa desde as eleições de 2016. É fato.

Aurélio contrariou em pareceres técnicos quem manda de verdade na PMT e passou a ser "fritado" no cargo de procurador-geral do Município; maior divergência teria sido sobre os contratos entre a PMT e as empresas que fazem parte do SETUT (foto: Ascom PMT)

A história vai ficando interessante quando se mistura política eleitoral com a política de classe. Ambos pertencentes aos quadros da Procuradoria do Estado, Celso Barros e Chico Lucas estavam juntos na eleição de 2015, quando, juntos, derrotaram o grupo de William Guimarães e Raimundo Júnior.

DESATANDO O NÓ

Já em 2018. Celso se apartou de Chico quando viu que não seria o candidato dele à sucessão. E virou presidente da OAB-PI com a ajuda de William Guimarães e Raimundo Júnior.

Tempos depois, precisando que as contas de sua gestão fossem aprovadas, Chico Lucas voltou a fumar o cachimbo da paz com Celso, que temia que a influência do antecessor junto ao presidente nacional da Ordem, Felipe Santa Cruz, pudesse prejudicar repasses de verbas para socorrer a OAB-PI.

Com as contas aprovadas, Chico Lucas se juntou com Raimundo Júnior e os dois viraram "oposição" a Celso, não por serem diferentes em relação à (falta de) representação da classe de advogados, mas por terem interesses específicos diferentes sobre a indicação para as próximas vagas de desembargador no Tribunal de Justiça do Piauí e no Tribunal Regional do Trabalho, que deverão ser ocupadas por meio do Quinto Constitucional.

O ACORDÃO

Até meses atrás, quando todo mundo estava junto, falava-se nos bastidores que Chico Lucas e Raimundo Júnior dariam apoio à reeleição de Celso, desde que Celso garantisse o nome do advogado Agrimar Rodrigues na lista sêxtupla a ser enviada ao TJPI para a vaga disponível após a aposentadoria do desembargador Luiz Gonzaga Brandão em outubro deste ano.

Os próximos desembargadores: dentro do grupo de Raimundo Junior, Zé Wilson vai primeiro, depois é Agrimar Rodrigues; o voto para o Quinto Constitucional já está sendo pedido junto com o da OAB-PI (fotos: Jailson Soares | Política Dinâmica)

Em seguida, ano que vem, com a aposentadoria do desembargador Paes Landim, seria a vez que Celso, reeleito, garantir o nome do advogado Zé Wilson na lista sêxtupla. “Todo mundo” sairia ganhando. 

MUDOU TUDO

Mas sem que ninguém esperasse, o piauiense Kássio Nunes Marques virou ministro do Supremo Tribunal Federal. Ocupando o topo da cadeia alimentar do Judiciário pelos próximos 27 anos, então, o grupo de Raimundo Júnior decidiu modificar o acordo: Zé Wilson, que já foi sócio de Nunes Marques, iria passar à frente de Agrimar, que tem no desembargador Erivan Lopes seu principal apoiador.

O sorriso no rosto de quem pode alinhar a influência da OAB-PI com o trânsito amplo dentro do TJPI e o poder de uma grande amizade no STF; mas o que sobra para os advogados que não são amigos ou sócios dele? (foto: Instagram)

A ordem dos fatores nem iria mudar tanto assim o resultado, mas o grupo de Nunes Marques entendeu que era forte o suficiente para passar o rolo compressor por cima de qualquer adversário e vencer a eleição da OAB-PI sem Celso e sem precisar fazer concessões para outras vagas de Quinto Constitucional que podem ser criadas no futuro breve. Foi quando lançaram o nome de Raimundo Júnior para presidente e arrastaram a turma de Chico Lucas, que gosta de sombra grande.

SEM COMPROMISSO

Com Chico e Raimundo na oposição e acordo quebrado, Celso teria se desapegado do compromisso de sustentar a indicação de Zé Wilson, um nome pouco popular entre os advogados, principalmente no meio da jovem advocacia.

Mesmo sem muito apoio para reeleição, a condição de presidente da Ordem dá ao procurador Celso Barros a condição de articular junto ao Conselho Seccional o corte de adversários da lista sêxtupla; lembrando aqui que a votação é secreta (foto: Jailson Soares | Política Dinâmica)

E é aqui que Aurélio entra na história.

Zé Wilson e Agrimar Rodrigues possuem essa dificuldade de “conexão” com o eleitorado amplo. Por outro lado, Aurélio Lobão, que é jovem, professor e comanda a Escola Superior de Advocacia da OAB-PI é bastante conhecido.

Após diversas divergências com o vice-prefeito (segundo fonte, Robert não gosta de pareceres jurídicos que discordam de seu entendimento pessoal), Aurélio já estava de saída da PMT. E sem essa função na Prefeitura, poderia ser o candidato de Celso para o Quinto do TJPI.

TIRO NO PÉ

Alguém acordou para esse fato e é por isso que bateu o desespero no grupo de Raimundo Junior. A votação que elimina nomes após a votação dos advogados é feita por um conselho onde o voto é secreto e pouquíssima gente quer ver tanto poder concentrado em um grupo só de advogados que, aliás, já tem o seu próprio ministro do STF.

Aurélio tem chance de ser o mais votado entre os advogados, e Zé Wilson corre o sério risco de ser cortado no Conselho Seccional. O grupo de Raimundo Júnior quer tudo, mas pode ficar sem nada: nem OAB-PI, nem TJPI.

Correndo por fora: de repente, Aurélio Lobão se tornou uma alternativa perigosa contra os planos de concentrar o Poder Judiciário em um único grupo de advogados (foto: Ascom OAB-PI)

Neste momento, o prefeito Doutor Pessoa tem sido pressionado a manter a PGM sem alterações, ainda que a contragosto de Robert Rios.

O cavalo selado está passando para Aurélio. 

Na PMT, de todo modo, ele só fica seguro até perder o prazo de concorrer ao Quinto.

Comente aqui