Brasil pode ser o próximo a ter a nota de crédito rebaixada

 O rebaixamento da nota de crédito da Petrobras pela agência Moody's aumenta ainda mais a expectativa de que a nota do Brasil também possa ser alternada. Segundo analistas, além da frágil situação fiscal do país, as projeções de crescimento podem ser afetadas pela atual situação da estatal, maior empresa brasileira e que costuma liderar os investimentos.

Não há uma relação direta, mas a Petrobras é a maior empresa do Brasil e grande parte do investimento do país passa pela estatal. Com menor capacidade de captação e custos maiores, a Petrobras vai reduzir os projetos, e isso vai afetar o nível de investimento do Brasil e as projeções de crescimento — avalia Marco Aurélio Barbosa, analista da CM Capital Markets.

Para os analistas do Bank of America Merril Lynch, o rebaixamento da Petrobras eleva o risco de rebaixamento da nota do Brasil. “Dada a importância da Petrobras para a economia brasileira, nós acreditamos que o risco de um rebaixamento da nota soberana pela Moody’s parece mais provável, mas com o Brasil ainda mantendo o grau de investimento”, afirmaram, em relatório, Anne Milne, David Beker e Juan Andres Dukevic.

A nota da Petrobras foi rebaixada, na terça-feira à noite, pela Moody's em dois níveis, de Baa3 para "Ba2", saindo do grau de investimento para o chamado grau especulativo. A nota do Brasil é de Baa2, com perspectiva negativa, o penúltimo nível do grau de investimento. Já na Fitch, a nota é de BBB, também a duas notas de perder o grau de investimento. Já na Standard & Poor's, a nota dada ao Brasil e da Petrobras é de BBB-, apenas um grau acima do especulativo.

Um dos fatores que as agências de classificação de risco olham na hora de determinar se um país merece ser grau de investimento, atraindo assim mais recursos para o país, é a relação entre dívida e Produto Interno Bruto (PIB). O menor crescimento da atividade econômica e as contas públicas deterioradas, com as despesas crescendo mais que as receitas, pioram essa relação. A relação entre dívida bruta e PIB do brasil era de 63,4% em dezembro do ano passado, acima dos 56,7% registrados 12 meses antes.

O analista sênior da Moody's para risco soberano, Mauro Leos, explicou que, embora a agência acredite em uma melhora da política fiscal no Brasil, continuará atento aos níveis de dívida em relação ao PIB. "O rating e a perspectiva atual do Brasil refletem nossa avaliação de diversos cenários possíveis, incluindo os mais adversos que incluem alguma forma de suporte financeiro para a Petrobras. em nenhum desses cenário o nível de dívida do Brasil excederia os 70% do PIB", afirmou Leos, em nota.

No entanto, ele alerta que, embora confie na capacidade do governo em fazer uma melhoria fiscal, a nota pode ser alterada caso a dívida ultrapasse esse teto. Um choque para cima desse nível certamento colocaria uma pressão adicional sobre o governo e, portanto, sobre a nota Baa2", disse.

Leos afirmou ainda que a avaliação de forma de crédito da Moody's continuará a ser guiada pela "avaliação de credibilidade dos planos do governo e das perspectivas de crescimento econômico e fiscal no médio prazo".

RISCO DE CONTÁGIO

O analista Raphael Figueredo, da Clear Corretora, vê que há uma grande preocupação em relação ao risco de contágio da Petrobras em outras empresas, em especial as estatais, como o Banco do Brasil, e também na nota soberana do país.

— O rating do Brasil também está sob ameaça de ser levado ao nível especulativo ("junk"). A Petrobras é o principal ativo brasileiro e por isso essa relação, mesmo que indireta — avaliou.

Já Jankiel Santos, economista-chefe do BES (Banco Espírito Santo) Investimentos, a relação de fato não é direta, mas que de fato a situação fiscal do país inspira cuidados e pode gerarl alguma mudança.

— O governo vai sofrer mais pressão para mostrar melhores resultados. Vai ter que admitir que houve erros de administração no passado e que agora estão sendo corrigidos. Vai ter que provar a todo instante — disse.

Fonte: O Globo

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