SEM BAIXARIAS, MAS COM EXPLICAÇÕES

Governador criticou opositores após acusações (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica)

O assunto mais comentado no meio político do Piauí na última semana foi a polêmica envolvendo a aplicação de R$ 307 milhões da primeira parcela do empréstimo de R$ 600 milhões do governo do Piauí junto à Caixa Econômica Federal. Com a publicação de um relatório de auditoria feito por técnicos do Tribunal de Contas do Estado (TCE) apontando grave desvio de finalidade no uso do dinheiro, a oposição foi pra cima do governo.

Conforme o relatório, o governador Wellington Dias (PT) e sua equipe cometeram atos ilegais ao transferirem o dinheiro da conta específica do empréstimo para a conta única do estado, o que feriu uma cláusula contratual, e ao fazerem o reempenho de despesas de obras realizadas e que já haviam sido concluídas antes mesmo da assinatura do contrato de empréstimo. O caso ainda será analisado pelos conselheiros no Plenário do TCE-PI.

Diante da repercussão que as conclusões da auditoria tiveram, o governador Wellington Dias se mostrou, como poucas vezes, visivelmente incomodado com a situação. O petista, conhecido pelo jeito gentil e pela forma sempre serena com que recebe críticas dos seus opositores, subiu o tom contra as acusações feitas pela oposição baseados no resultado da auditoria do TCE.

Na quinta-feira (15), publicou um texto em suas redes sociais reagindo ao que classificou como baixarias e desespero. Na sexta (17), na cidade de Demerval Lobão, ele e a primeira-dama Rejane Dias, ao discursarem, mencionaram as acusações e afirmaram que existem segmentos [da oposição] querendo atrapalhar a vinda de recursos para o Piauí. Wellington chegou a comparar os adversários com urubus que vivem agourando para as coisas darem errado.

A reação incomum do governador sinaliza, querendo ou não, para uma gravidade dos fatos. Não falo aqui, nesse momento, da gravidade das acusações em si, mas da proporção que a coisa ganhou. Além do mais, são conclusões de uma auditoria, feita por um tribunal e não apenas denúncias levantadas numa tribuna por deputados de oposição. Pelo contrário, elas acabam corroborando afirmações que os opositores já vinham fazendo, mas que até aqui não despertavam tamanha reação do governo.

A mobilização de aliados fazendo tour por veículos de comunicação nos dias seguintes à publicação do relatório também traduz a sensação de que o fato causou estremecimento. No entanto, ainda não se viu uma explicação concreta do governo. O discurso de que a oposição trabalha contra a vinda de recursos e de que tudo foi feito dentro da legalidade não é suficiente. O governo precisa explicar com clareza cada ponto em que lhe são atribuídos atos ilegais e dizer por que os técnicos do TCE estão errados. Além disso, deve mostrar as obras executadas.

É preciso [e importante] destacar que o relatório de auditoria do TCE não é uma sentença condenatória. O governo irá prestar seus esclarecimentos e apresentar sua defesa, podendo, quem sabe, enfraquecer as conclusões contidas no documento. Ademais, nem sempre o plenário do TCE-PI acata ao que pede os auditores do tribunal. Não que eles não tenham razão em muitos casos, mas porque os conselheiros “pensam” diferente e vez ou outra adotam decisões em sentido contrário ao que indica a equipe técnica.

No entanto, esses fatores não tiram a necessidade do governo vir a público e explicar com mais clareza a situação. Na lógica do cidadão comum é bem mais fácil achar que o governo tem culpa no cartório, haja vista que o dinheiro da primeira parcela caiu na conta, a maior parte das obras não foi realizada, o dinheiro saiu da conta e ainda por cima uma auditoria vem e aponta uma série de irregularidades. Não basta dizer que é zoada da oposição. E mesmo se for, essa zoada já ecoou muito longe. De qualquer jeito, é hora de explicar!

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