O SILÊNCIO DA DESESPERANÇA

Há pouco tormento para aqueles que não despertam. É uma verdade, que para tantos soa perigosa e até mesquinha, mas é o que é, de fato. E toco nesse assunto, porque a goela já não suporta engolir as pedras dos que não querem ver com os olhos bem abertos a realidade das coisas. Não há direcionamento nisso. É apenas uma análise copiosa, sorrateira e muito, muito infeliz de quem, como observador e praticante escravo de um sistema medonho, resolveu falar.

Cena do filme O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, reflexão cabível nos dias de hoje e compatível com este texto. (Fonte: Divulgação)

Tem sido a causa de uma depressão quase coletiva, de surtos de ansiedade pelo mundo inteiro, de desenfreados problemas sociais, físicos e mentais. Tem arrancado de perto de mim os que eu amo, desde pequeno. Me afastado dos meus pais, dilacerado minhas tripas. Mas agora, foi demais. Foi para além do suportável ver serem ceifadas, em um único mês, três vidas inocentes. Companheiras de batente na labuta diária contra estas coisas todas do mundo.

Há pouco tormento para os que permanecem cegos para todas estas coisas. Afinal, é muito mais fácil, suportável, e até agradável, ter uma vida pautada nas jaulas que estão sendo impostas há séculos. É muito mais agradável estar dentro de uma lógica excludente, preconceituosa, que diz não para tudo aquilo que não a engrandece.

Cena de O Menino e o Mundo, de Alê Abreu. (Fonte: Divulgação)

Estar fora dela, significa ser forte o bastante para viver percebendo, analisando e presenciando a lama, ansiando desesperadamente o nascer da lótus. E não é todo mundo que sustenta o peso da esperança. Da longa esperança. Por isso, colegas todos, não é a homofobia, problemas com a família, a dificuldade da profissão, angústias financeiras ou de qualquer outro tipo que fizeram nossos três lindos jovens partirem neste mês no céu de Teresina. Foi o engasgo, o medo, a não vontade de falar de uma angústia gigante que cerca o mundo. É dela que saem todas essas coisas. E permanecer podando a árvore, talvez não seja mais a saída. Desejamos arrancar suas raízes. É preciso declarar o que não se suporta. Deixar claro que a motivação da nossa geração é outra.

Isso implica em novas formas de ver a realidade. Novas maneiras de tratar as coisas. Mais verdade nas relações, mais sorrisos sinceros e por motivos cada vez mais nobres. Mais abraços e mais compreensão daquilo que somos, essencialmente. Visto assim, pode até parecer muito utópico. Mas note que não é. Sinta que não é. Nenhum sistema, por mais implacavelmente hermético que seja, está blindado contra os sentimentos mais puros que carregamos. Não dar voz a essas nossas emoções, é limitar nosso cérebro. É negar que somos humanos.

Cena de O Menino e o Mundo, de Alê Abreu. (Fonte: Divulgação)

Temos muitas limitações. Somos e nos tornamos cada dia mais frágeis. Estamos sendo treinados para isso. A nossa juventude, que busca ansiosamente uma solução para algumas destas coisas, se perde nas veias envenenadas de tudo isso, e, contra seus próprios propósitos, encurtam suas vidas. Seja de uma vez por todas, seja diariamente. Procurando uma fuga, que sabemos, tão cedo não existirá. É preciso ser forte pela esperança, essa palavra engavetada já há algum tempo no pensamento coletivo desta pós-modernidade. 

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