TEMPOS DE BELIGERÂNCIA

Mulher agredida por manifestantes em Porto Alegre (Foto: Jefferson Botega/AgenciaRBS)

O Brasil já não é mais o mesmo. Aquele país conhecido pela simpatia do seu povo acolhedor está ficando para trás. Vivemos um tempo de ânimos acirrados, de raiva, de ódio, de total beligerância. Um país com fissuras à mostra e cujas perspectivas não são boas. 

Nessa pandemia do novo coronavírus, considerado o maior desafio do século até aqui, essas fissuras ficaram ainda mais visíveis. O Brasil se mostrou um país que não se une, que politiza uma doença, que não pensa no próximo. Um país dividido como nunca antes.

O cenário é cada vez mais preocupante. O ódio em uma parcela da população parece não ter limites e o fanatismo por falsos messias da política só aumenta. De repente, vemos pessoas que outrora pareciam sensatas e inteligentes se revelando seres inconsequentes, fúteis, frívolos.

Para defender um viés ideológico tacanho, muitas pessoas ignoram a ciência, menosprezam a medicina, atacam profissionais, desacreditam a imprensa e se apropriam de símbolos nacionais não para unir, mas para marcar uma divisão odienta entre os brasileiros.

A cegueira política em defesa de discursos idiotas faz emergir em muitas pessoas a decadência moral, ética e humana. Essa situação não começou com a pandemia da Covid-19, mas a crise de saúde foi o estopim para eclodir no Brasil a derrocada da sensatez.

De repente, vemos cidadãos serem agredidos, instituições democráticas serem ameaçadas e gestores públicos atacados em suas casas, na privacidade das suas famílias. Viramos uma nação em que a figura do adversário está saindo de cena para dar lugar ao inimigo. 

Enquanto milhares de brasileiros perdem a vida e suas famílias choram as perdas, existe gente que prefere atrapalhar os que ainda não foram acometidos pela insanidade ética e moral. Justamente no momento em que o país mais precisa de gente solidária, surgem e se multiplicam os que só sabem ofender e macular a imagem de quem quer salvar vidas.

No meio de tudo, ainda colocam Deus. Enquanto mães choram a perda dos seus filhos e rogam a Ele para aliviar o sofrimento e a dor, hipócritas saem às ruas se dizendo defensores da família e usando o nome de Deus. Quem é contra normas de saúde e ataca os que querem salvar vidas está bem longe dos ensinamentos Divinos.

O egoísmo é outra face que se revela nessa crise. Algumas pessoas que vivem no luxo, no conforto de mansões, com seus bons planos de saúde e seus carrões são as primeiras a defender que trabalhadores pobres, que andam de ônibus e dependem do sistema público de saúde voltem a trabalhar. Essa falta de compaixão é outra atitude que também vai contra os ensinamentos do único e verdadeiro Messias que passou por essa Terra redonda.

Diante desse cenário tenebroso de intolerância, ódio e cegueira política e moral, só nos resta torcer para que, em um futuro não muito distante, o nosso povo seja novamente acolhedor e de paz. Que a nossa bandeira e o nosso hino não sejam sinônimos de selvageria e insanidade política e voltem a ser símbolos de união e confraternização da nossa gente.

Gustavo Almeida, jornalista.

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