PRESSÃO, PRESTÍGIO E PRESIDÊNCIA: A PPP DE CIRO

Senador Ciro Nogueira, do Progressistas (Foto: Gustavo Almeida/PoliticaDinamica.com)

Até seis meses atrás, o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do Progressistas, figurava entre os políticos mais influentes do país. Os mais audaciosos chegavam a colocá-lo como o senador mais poderoso da República desde que Michel Temer (MDB) assumiu a presidência do Brasil. Na condição de presidente do Progressistas, revolucionou um crescimento do partido e colocou a legenda entre as três maiores do Congresso Nacional.

Daí o poderio político tão atribuído ao senador. Ciro é um político extremamente educado, homem polido, apesar de não ser considerado carismático. Na verdade, poucos são. Costuma responder questionamentos da imprensa até pelo WhatsApp sempre que procurado e em muitas ocasiões responde com áudios. Não é perfil do senador agir com grosseria. Com a mudança de governo, o piauiense viu seu prestígio diminuir bastante no Planalto Central.

Não se trata de mera afirmação. Basta analisar de modo simples: Ciro foi aliado dos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). Indicou nomes para pastas importantes e de gordo orçamento, o que lhe permitiu trâmite e facilidade para, por exemplo, atrair vultosos recursos para prefeituras do Piauí, onde seu partido tem quase 100 prefeitos, a maioria filiada nesse período de bonança. Seus indicados comandaram Ministério da Saúde, Ministério das Cidades, Ministério da Agricultura, Caixa Econômica Federal e por aí vai.

Ciro perdeu indicações no governo federal (Foto: Gustavo Almeida/PoliticaDinamica.com)

Agora, no início da gestão do presidente Jair Bolsonaro (PSL), muito disso ruiu. Pode até ser que em pouco tempo ele recupere o prestígio e passe a ter grande afinidade com o governo central, mas até agora o fato é: ele não tem. A influência como presidente de uma das maiores legendas do Congresso segue com ele, apesar de também ter havido redução dela em alguns aspectos. No entanto, qualquer presidente de um partido com a envergadura do Progressistas tem alguma influência no xadrez político.

Apesar disso, tudo se reduziu e sem o status de "poderoso senador da República", Ciro colocou seus olhos sobre a presidência da Assembleia Legislativa do Piauí. Como já anunciado repetidamente por ele, o Progressistas terá candidato a governador em 2022 e para isso comandar a Alepi seria um importante trampolim. No entanto, parece que Ciro avançou o sinal nesse processo para colocar Hélio Isaías lá. Pode sair vitorioso, já que a eleição ainda está por acontecer, mas cometeu atropelos na caminhada.

O episódio envolvendo o vereador Venâncio Cardoso (Progressistas), filho da deputada Flora Izabel (PT), revela um Ciro que muitos não estavam acostumados a ver. O tom ameaçador e até mesmo grosseiro adotado na "pressão" que deu no parlamentar municipal estranhou muita gente. A atitude, que não foi negada por nenhum dos envolvidos, evidencia que Ciro, de fato, viu seu poder na capital federal ser reduzido com a mudança de governo.

Ciro é conhecido como político educado (Foto: Gustavo Almeida/PoliticaDinamica.com)

Por que um senador tido como o "mais influente da República", com tanto poder no primeiro escalão em Brasília, se ocuparia em fazer tamanha pressão num vereador novato de Teresina a ponto de ameaçá-lo até de expulsão do partido? Certamente, um homem que comanda ministérios e que está entre aqueles que dão as cartas na capital federal não agiria assim.

O ocorrido com Venâncio e as abordagens feitas pelo senador a alguns deputados estaduais demonstram claramente que Ciro perdeu território lá fora e está encontrando dificuldades para conquistar outro aqui dentro. Ciro parece ter colocado como "questão de honra" tomar a presidência da Alepi de Themístocles, mas não tem encontrado vida fácil. Tratar a eleição da Assembleia com essa obsessão toda é sinal de que muita coisa se desgarrou.

Senador quer Alepi com o Progressistas (Foto: Gustavo Almeida/PoliticaDinamica.com)

Conhecendo o histórico de compadrio entre os políticos do Piauí, percebe-se que o educado senador não travaria esse embate direto com Themístocles Filho se tivesse "sobrando" em termos de influência lá fora. Nessa PPP de pressão, prestígio e presidência [da Alepi], Ciro pode até ficar com os dois últimos, mas a pressão para conquistá-los pode lhe deixar menor caso a disputa pela Alepi termine em porca, palavra que, aliás, também inicia com a letra P.

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