TINHA PACIENTES, MAS FALTOU GESTÃO

Em um vídeo divulgado por sua assessoria de imprensa, o governador Wellington Dias (PT) afirma que governadores fecharam hospitais de campanha por falta de pacientes e alegou que, em determinado momento, também houve escassez de profissionais de Saúde. A fala do petista e a lógica da abertura e fechamento do Hospital do Verdão são contestadas pelo Sindicato dos Médicos do Piauí e pelo Conselho Regional de Medicina. De acordo com as duas entidades, o diagnóstico é de que a gestão de Wellington tem sido negligente não apenas com a vida das pessoas, mas com o dinheiro público também.  

Desmentido pelos médicos: CRM E SIMEPI contrariam a lógica de Wellington Dias e apontam que dinheiro foi mal gasto e fechamento de hospital ocasionou mortes em fila (foto: Jailson Soares | PoliticaDinamica.com)

POLÊMICA: GOVERNADORES X PRESIDENTE

A polêmica TODA gira em torno de um pedido da Procuradoria-Geral da República para que os governos estaduais de todo o país expliquem por qual motivo fecharam os hospitais de campanha após a primeira onda da pandemia de covid-19. Wellington, que representa o Fórum Nacional de Governadores na área de vacinação, reagiu afirmando que ele mesmo fechou hospital "porque não tinha pacientes".

O uso dos recursos para combate à pandemia está no centro de uma polêmica entre o presidente Jair Bolsonaro e governadores representados por Wellington Dias (fotos: Reprodução | Jailson Soares | PoliticaDinamica.com)

Wellington disse ainda que fez um movimento para "dobrar ou triplicar a rede permanente pública de hospitais" e afirmou que o atual colapso da rede de Saúde no Brasil se deve muito mais à falta de profissionais do que de leitos.

O pedido de informações aos governadores acontece no mesmo momento em que se inicia a instalação da CPI da Pandemia no Senado e foi encarado pelos governadores como um ataque do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

HÁ CONTROVÉRSIAS

Para o CRM, fechar o hospital de campanha do Estado foi causa de mortes de paciente por falta de leitos no Piauí. Mas ter investido dinheiro na sua abertura também sacrificou milhões de reais que não serviram para salvar vidas.

Parece contraditório, mas não é.

Veja a nota do CRM na íntegra clicando aqui.Resposta pres. CRM-PI ao jornalista Marcos Melo.docx

O governador encerrou as atividades do Hospital do Verdão em 20 de agosto de 2020, menos de três meses após o início das atividades do local (foto: SESAPI)

Nos cálculos do CRM em documento enviado ao Política Dinâmica, quando Wellington Dias inaugurou o Hospital de Campanha do Verdão, a propaganda oficial era de que haveria ali 103 leitos. Todos eles seriam leitos clínicos, quando na verdade a necessidade era de leitos de UTI, de acordo com o Conselho. Isso foi durante a primeira onda de transmissão acentuada da Covid-19. Logo em seguida, o Hospital do Verdão foi fechado antes das eleições de 2020, num evento que parecia o triunfo sobre pandemia.

Então veio a segunda onda, bem mais significativa e em alguns dias, com uma fração do gasto anterior, Wellington abriu 80 leitos (20 UTIs e 60 leitos clínicos) dentro do Hospital da Polícia Militar.

Ou seja, o Conselho alega que uma estrutura pronta que já existia desde o início da pandemia, "não havendo uma necessidade de investimentos de milhões de reais na criação de um hospital de campanha, que seria desativado em pouco tempo". Assim, o governo de Wellington Dias teria sido negligente e ineficiente, para se dizer o mínimo.

TEM PROFISSIONAL SIM!

O argumento de que faltam profissionais de saúde para atender os pacientes é duvidoso. Vamos tomar os médicos como exemplo. Segundo o SIMEPI, sempre existiu oferta de mão-de-obra para o serviço. Lúcia Santos, diretora do sindicato, alega que "existem sim médicos, e a Prefeitura [de Teresina] e o Governo do Estado e a União tiveram sim à sua disposição contratação de médicos para atender a demanda da covid".

Lucia Santos: diretora do SIMEPI aponta que não faltou profissionais, faltou foi contratação com responsabilidade por parte do governo (foto: ASCOM)

O SIMEPI denuncia ainda que o Estado também não efetuou as contratações durante a primeira onda da pandemia de forma eficiente e isso afastou o interesse de alguns profissionais em trabalhar na linha de frente. "Inclusive o Estado contratou alguns, depois demitiu esses médicos. E em seguida quis realocar médicos de outras especialidades, de forma arbitrária, causando falta de atendimento nessas outras especialidades", revela Lúcia.  

Do ponto de vista do Sindicato, o Governo do Estado aplicou o dinheiro de forma irresponsável e não fez um planejamento sério do combate à pandemia.

Wellington vai precisar se esforçar mais para convencer alguém de que é a sua versão a verdadeira.

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