"ESTÁ PRONTO PARA EXPLODIR", DIZ SOCIÓLOGA SOBRE SITUAÇÃO DO BRASIL

Professora Valéria defende que impeachment é Golpe. (Fotos: Jailson Soares / Política Dinâmica)

por Francicleiton Cardoso e Marcos Melo

Pós-doutora pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; doutora em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco, a professora de Sociologia da Universidade Federal do Piauí, Marlúcia Valéria da Silva, tem um posicionamento direto sobre a situação instável da política do Brasil. Para ela, o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT) representa uma forte ameaça à Constituição do país, que segundo seu ponto de vista, “está sendo colocada de lado durante todo o processo na Câmara Federal”.

Para professora, Constituição não está valendo no Brasil.

Mas a visão da professora não está na superfície deste conflito, senão na parte mais profunda da questão. Em uma análise histórica, Valéria faz entender que o processo que vivemos hoje no Brasil é uma tentativa de retomada do poder pela elite, que, segundo suas palavras, “é autoritária e fascista. Não suporta a pobreza. É predatória. E não se importa em estar bem, contanto que a pobreza esteja muito mal”.

A professora defende que o contexto de trezentos anos escravistas do Brasil contribuiu para a formação e constante fortalecimento de uma atitude intolerante da sociedade brasileira fazendo com que o “caldeirão estivesse pronto para explodir”. Isso, segundo ela, reflete diretamente na não aceitação da presidenta Dilma Rousseff (PT). Para a professora, a tentativa de visibilidade que o governo do Partido dos Trabalhadores (PT) fez nos últimos anos às classes menos favorecidas da sociedade, foi o que provocou insatisfação nas classes mais ricas do país.

Valéria destaca que elite brasileira tem sido fascista e por isso não apoia governo de Dilma.

“Vivemos por muito tempo a relação de coisificação do outro, de intolerância. Trazendo isso para agora: por que convivemos com o discurso do brasileiro ser um povo pacato, um povo cordial e estávamos indo tão bem e de repente, está tudo tão diferente? Porque esse povo que foi invisibilizado e coisificado não tinha visibilidade. Viviam nos guetos, periferias, comunidades rurais. E as elites vivendo sua vida. Mas tivemos uma mudança pequena no Brasil. Conseguiu-se implantar nos últimos anos no país governos que se preocuparam com esse povo invisibilizado, com políticas, e aí o Brasil descobriu que esse povo existia e tinha voz e consumia. Foi então que a vontade da casa grande veio à tona de novo, de não suportar quem não é da elite”, garante.

"Escravismo lançou nossas bases de convivência social", garante professora.

Além desta questão histórica, a professora destaca que a mudança que o governo do PT fez com relação às políticas internacionais e o distanciamento de países como os Estados Unidos, também contribuiu para a insatisfação de uma parcela da sociedade que não aceita a permanência do PT no poder.

‘“Se discutimos o país na geopolítica do mundo, sabemos que o Brasil passou a se colocar em outro lugar. Ele saiu da submissão dos Estados Unidos para outro eixo. De procurar o mínimo de autonomia. [...] Com isso, o Brasil semeou antipatize entre os poderosos. E isso não fica de graça. Temos uma elite enfezada, porque internamente, ela perdeu a sua distinção. E o problema não é o dinheiro. Nunca um banco ganhou tanto dinheiro como no Governo Lula. É o que as pessoas dizem: ‘não tem mais graça ir em Paris, porque hoje qualquer um pode ir”, afirma Valéria.

Impeachment será o começo de outros grandes problemas, segundo Valéria.

De toda forma, a professora lamenta que o processo de impeachment esteja em um momento tão avançado e tenha desvirtuado questões constitucionais. Para ela, “não temos mais Constituição no Brasil”, o que, ainda em seu ponto de vista, tem agravado a situação de confronto e o sentimento de separação na nação brasileira, o que pode se complicar ainda mais com a saída da presidenta Dilma.

“A saída da Dilma não é o foco. Não é questão principal. Mas os problemas que podem vir disso. A Globo vai parar de falar. A Lava Jato certamente vai parar de funcionar. Tudo isso para camuflar a situação”, finaliza a professora. 

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