AGRICULTORES RECUPERAM O MESMO TRECHO DE ESTRADA HÁ QUASE 20 ANOS

Recuperação da PI-392 executada pelos produtores com caminhões e recursos próprios (Foto: Divulgação/Aprosoja)

Assim como esperam a confirmação das previsões de chuva e de produtividade, ano após ano, os produtores de grão do cerrado piauiense, mais especificamente da região da Baixa Grande do Ribeiro, a quase 600 km de Teresina, sabem que também terão que trabalhar e investir do próprio dinheiro para a recuperação de um trecho de estrada por onde passa a super safra de soja, milho e algodão do Piauí. Cabe a eles fazer o que o governo estadual não faz.

Seria apenas mais um dos inúmeros trechos de estrada não concluídas no interior do Piauí se este movimento não existisse há quase 20 anos e se por este trecho não passasse mais de 20% do PIB do Estado. O trecho de 16 km que todo se ano se transforma num gargalo para o produtor é uma obra licitada há pelo menos sete anos e agrava a situação da PI-392, que liga as cidades de Baixa Grande do Ribeiro, Ribeiro Gonçalves, Bom Jesus e Uruçuí.

Em 2020, o trabalho de recuperação do trecho já foi feito. “Todo ano a gente vai se ajudando, às vezes tem ajuda de alguma prefeitura, às vezes não, vai se cotizando e resolvendo os piores problemas. Mas a gente sabe que é dinheiro jogado fora porque é um paliativo. Quando a chuva chega acaba levando embora”, explica Karl Milla produtor que está na região há quase 20 anos.

Fazenda Milla, de Karl Milla, em Baixa Grande do Ribeiro (Foto: Divulgação/Assessoria)

Pelo trecho da PI-392, que sempre tem de ser recuperado por eles entre uma safra e outra, são transportados os insumos e também por onde passa um fluxo de 250 caminhões por dia, segundo dados do próprio Departamento de Estradas de Rodagem do Piauí (DER-PI). “É uma dificuldade tremenda para os caminhoneiros, eles não sabem quando chega, quando vão conseguir sair, ficam presos na estrada e acontecem acidentes”, afirma Karl Milla.

Segundo ele, um terço da produção de grãos do cerrado, que em 2020 ultrapassou as 5 milhões de toneladas, passa por esta estrada. Milla lembra que esteve no evento, há 10 anos, no qual o Governo do Estado anunciou a realização da obra. Nunca saiu do papel.

Mesmo com dificuldades, investimentos na região continuam

A recuperação do trecho contou este ano com a participação de novos investidores da região. Atuando na área de Uruçuí há muitos anos, Gregory Sanders, do projeto Fazenda Progresso, conta que quando o grupo decidiu realizar o plantio na região da Baixa Grande já sabia do problema. O grupo adquiriu nova área em Baixa Grande e decidiu pelo plantio mesmo diante do gargalo. Gregory, que mora desde 2004 em Sebastião Leal, foi um dos produtores que colocou maquinário a disposição da iniciativa para a recuperação do trecho.

“Um doa patrol, outro coloca o carro-pipa, outro se dispõe com a comida, o óleo diesel. Cada um paga e contribui com o que pode”, explica. Ele lembra que a situação faz com que o produtor pague a conta da infraestrutura. “Todos os insumos e toda a produção do agro do Piauí passa por esta estrada e se ficar do jeito que está a gente termina pagando uma conta muito maior”.

Gregory conta que apesar de algumas estruturas da construtora já estarem no local da obra há algum tempo, os trabalhos nunca começaram. Com medo de ver chegar o próximo período chuvoso com a estrada em péssimas condições, os produtores decidiram por mais um ano realizar por conta própria a recuperação do trecho como medida paliativa. 

Empresa responsável pela obra na PI-392 instalou maquinário, mas obra não foi iniciada (Foto: Divulgação/Aprosoja)

Segundo o produtor, a empresa que venceu a licitação, a Terracom, chegou a mobilizar o maquinário para realizar a obra, mas a ordem de serviço não foi dada. A possibilidade de que os produtores deixem a região, apesar das dificuldades, também é rechaçada por Karl Milla.

Segundo a Associação dos Produtores de Soja do Piauí (Aprosoja), o trecho é de grande importância para o avanço do setor e a informação que se tem é que a obra já está licitada.

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