PORQUE A CARAVANA DE LULA CAUSA TANTO REBULIÇO?

Na despedida de Pernambuco, Lula usa o chapéu do caboclo-de-lança do Maracatu Rural, em visita a Usina Maravilha, em Goiana, PE (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

Por Ananda Oliveira

Observando a movimentação nas redes sociais e repercussão da vinda do ex-presidente Lula nas conversas familiares, rodas de amigos ou no trabalho, é bastante fácil constatar que, assim como muitos outros temas do terreno político no Brasil, a viagem dele pela região divide opiniões. Com o título de Caravana Lula Pelo Brasil, o petista já percorreu até agora os estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Na sexta-feira (1) ele chega ao Piauí, onde vai visitar os municípios de Marcolândia, Picos, Altos e Teresina, além de rápidas passagens por cidades vizinhas a estas.

Outros políticos presidenciáveis tem se comportado de maneira semelhante. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) é presença constante não só em palestras em diversos estados como na mídia – ele tem dado entrevistas a diversos veículos de comunicação e feito análises sobre a conjuntura política atual no país. O prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) também demonstra interesse no Planalto e tem viajado o Brasil para fortalecer seu nome em uma possível disputa.

Em abril, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC) esteve em Teresina e Parnaíba e, apesar de não se colocar diretamente como candidato, falou em planos para a presidência. Saindo da corrida pela presidência, em nível local, o ex-ministro João Henrique Sousa (PMDB) tem feito caravanas pelo interior do Piauí, levando debates e ideias de oposição ao atual governo estadual. Ele quer disputar o governo no próximo no ano, mas encontra resistência do seu partido.

Em suma, é uma atitude ilegal se escancarada como campanha antecipada, mas como tais candidaturas não são colocadas de forma direta, fica o dito pelo não dito e a coisa vai seguindo. A partir disso tudo, uma questão se coloca de maneira insistente: porque, então, a visita de Lula gera tamanho incômodo? Mais do que responder a essa pergunta, é necessário olhar todo o contexto de forma crítica e não se contentar com respostas fáceis. Até porque parece igualmente simples constatar que a razão do rebuliço é a alta popularidade do líder petista, mesmo após denúncias que o levaram a condição de réu por seis vezes, até agora.

Nos locais por onde já passou desde o início da “expedição”, Lula tem atraído não só a militância do PT e simpatizantes do seu governo, mas a ira da ala antipetista e, de modo mais específico, anti-lulista. É aquele FlaXFlu político de que já falamos em outra ocasião e que também se aplica a este caso.

Com adereços indígenas, Lula reinventa imagem de político próximo do povo (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

Apesar de percorrer sua região de nascimento, que ele conhece muito bem, Lula age como um desbravador, atento e curioso pelas coisas do povo. Se é performance ou um ato genuíno, cabe ao tempo dizer. Por hora, basta destacar o que salta aos olhos: ele usa de toda a retórica e postura que observamos nos políticos, sejam de direita, esquerda ou centro, quando se aproxima o período eleitoral: é exatamente aí que o povo têm seus líderes mais perto do “chão da fábrica”.

Gostando ou não, é inegável a liderança carismática que Lula exerce e que é caracterizada justamente por essa atração que ele gera sobre as massas, a mobilização que é capaz de fazer em torno dos seus discursos, fazendo dele líder de muitos seguidores. Já tivemos outros desse tipo ao longo da história, tão controversos quanto.

O QUE PESA, NEGATIVAMENTE, SOBRE LULA
O ex-presidente tem um currículo vasto, tanto em pontos positivos como negativos. Antes de chegar à presidência, em 2003, Lula tentou repetidas vezes alcançar o posto mais alto do país. Enfrentou ideias opostas, suavizou sua imagem e se aliou a quem defendia estas mesmas ideias opostas que enfrentou, em nome da governabilidade.

Essa contradição – infelizmente normal quando o governo é de coalizão – não é perdoada pelos críticos de Lula.

Na última semana, ele foi recepcionado pelo senador Renan Calheiros (PMDB) e pelo filho dele, o governador de Alagoas, Renan Filho, também do PMDB. Aquele, do presidente Michel Temer, o “golpista” que tirou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) da presidência. Isto foi alvo de críticas. Na ocasião, os ressentimentos foram aparentemente esquecidos (Renan votou pelo impeachment de Dilma). Lula aprendeu, com todos os embates ainda dos anos 1980 e 1990, que se isolar não é o caminho. É o vale-tudo da política.

Além disso, Lula responde no momento a seis processos, além de ter sido condenado a 9 anos e seis meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro, em julho. A ação que tramitava na JFPR (Justiça Federal do Paraná) em que era acusado de ter recebido R$ 3,7 milhões em propina por conta de três contratos entre a OAS e a Petrobrás, cujo pagamento teria sido feito por meio do tríplex do Guarujá, litoral de São Paulo. A defesa ainda recorre da decisão e ele só será preso caso seja condenado em instâncias superiores.

O QUE PESA, POSITIVAMENTE, SOBRE LULA
O governo do petista é considerado por muitos – até por críticos – como uma administração que olhou para as classes desfavorecidas. Ele foi responsável pela universalização do ensino superior no país e também é atribuído a ele a evidente redução na desigualdade social antes observada no país.

Lula visita Nova Palmeira, na Paraíba (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

Lula é um dos presidentes mais populares que o Brasil já teve. Ao deixar o Planalto e ser sucedido pela companheira de partido, Dilma Rousseff, ele tinha 87% de aprovação, de acordo com levantamento realizado pela Confederação Nacional dos Transportes/Sensus. O mesmo índice foi apontado por pesquisa do Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

"Lula deixa o governo no próximo dia 31 com recorde mundial de popularidade", comentou o presidente da CNT Clésio Andrade, em dezembro de 2010, quando o petista se preparava para deixar o governo, reportou o Estadão na época.

O Instituto Datafolha também trouxe o ex-presidente bem posicionado: 83% dos brasileiros adultos avaliavam a gestão como boa ou ótima, enquanto apenas 4% consideravam seu governo ruim ou péssimo.

Essa boa avaliação é importante para a mobilização que Lula tem feito e ainda reverbera na atitude anti da oposição, que rechaça a caravana petista. Ele chega a Teresina no sábado (2) e é difícil prever o comportamento do piauiense em relação a isso, embora se saiba que tanto atitudes pró quanto contra poderão ser vistas.


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