Teremos um novo presidente em 15 dias?

Duas semanas - é o que se vislumbra para a votação do impeachment da presidente Dilma Vana Rousseff na Câmara Federal, segundo a agenda da comissão que trata do processo. Um domingo que há de ser tenso. Muito tenso. Vivido segundo a segundo, com transmissões ao vivo por inúmeros veículos de comunicação do Brasil e do mundo.

Com a intensidade do mundo contemporâneo, que repercute os grandes fatos instantaneamente, o planeta estará de olho na Pindorama. É fácil prever que as redes sociais estarão pululando com as torcidas adversárias mostrando sua força, entoando seus gritos de ordem e compartilhando imagens históricas indexadas por hashtags marcantes.

Segundo o Mapa do Impeachment, do movimento Vem Pra Rua, a tendência é que a primeira mulher a ocupar o mais alto cargo da República Federativa do Brasil seja a segunda ocupante a deixar o posto de forma mais abrupta. O então presidente, eleito pelo PRN, atualmente senador pelo PTC, Fernando Collor, sentiu o gosto amargo de descer a rampa do Palácio do Planalto em 29 de dezembro de 1992.

Palácio do Planalto (Márcio Cabral/VEJA)

Maktub?

A motivação para o pedido da saída da presidente está e sempre estará nas discussões se são ou não justas, em debates acalorados protagonizados principalmente por juristas. A força da fundamentação é uma peça que pouco vai fazer diferença neste estágio. Célere, a tramitação não perde um segundo sequer, dando pistas de que foi traçada com muita precisão.

Desde a emblemática "Carta do Temer", enviada pelo vice-presidente em 7 de dezembro do ano passado, já desconfiava que havia algo em curso que pode culminar no próximo dia 17 de abril. "Verba volant, scripta manent" (As palavras voam, os escritos permanecem), começava a missiva repleta de queixas nas entrelinhas e explicitamente enumeradas até 11, destilando os argumentos de um afastamento estratégico. Era o começo do fim.

A saída oficial do PMDB na última segunda-feira, 28 de março, num anúncio de moção que durou cerca de 3 minutos, foi a sentença curta e grossa de que o rompimento chegara ao seu clímax. Não havendo possibilidade de retorno, o partido de maior número de congressistas comanda a articulação a toque de caixa de guerra para o desembarque, mas de olho para um retorno triunfante a partir da segunda-feira, 18. A votação deve entrar pela madrugada.

Michel Temer e Dilma Rousseff, no desfile de 7 de Setembro de 2015 (André Coelho/Agência O Globo)

O rito do impeachment deve prosseguir, com o processo sendo encaminhado para o Senado, mas Rousseff tem que deixar o Palácio do Planalto. Na Câmara Alta, os números são menos favoráveis ainda. Dependendo da quantidade de votos da primeira votação e do clamor das ruas no domingo, 17, pode ser tão ágil quanto a tramitação da Câmara Baixa. Se não houver nenhum atropelo, Michel Miguel Elias Temer Lulia, advogado, doutor em Direito, presidente do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, assume o comando da nação.

E se...

Mas ainda existem outros caminhos. A renúncia da presidente não está descartada. Embora a cogitação mais faça parte das possibilidades do que a concretização efetiva. Uma outra tem ganhado maiores proporções nos últimos dias, a renúncia conjunta de Dilma e Temer e a convocação de eleições para executivos e parlamentares federais em até 90 dias. Também creio que é pouco provável. Mas no terreno instável da política brasileira e na crise em que está mergulhado, tudo é possível acontecer, inclusive nada.

E se a presidente conseguir mais de 171 votos, 1/3 dos deputados federais, como fica? Continua presidente, lógico, mas numa situação calamitosa. Sem maioria no Congresso, com a economia em frangalhos, com a Operação Lava Jato a todo vapor e o altíssimo índice de rejeição da população, o Brasil ficaria praticamente ingovernável. Mais do que especulações, tudo o que está escrito está concorrendo com o realismo, reforçado pelo editorial da Folha de São Paulo de ontem, 2, que pediu a renúncia da presidente e do vice, como um ato de dignidade, pelo bem do país.

Perguntar não ofende

Estamos testemunhando fatos que vão para os livros de história e serão questões formuladas em provas. Mas algo me faz pensar e sempre retorno a questionar: será que a governante não percebeu que tudo isso poderia ocorrer? Será que desdenhou da habilidade de seus, até bem pouco tempo, aliados em colocá-la nesta situação encurralada? Será que vai enfrentar a forma mais vexatória de sair de um governo central, apeada, sem se permitir cogitar o ato digno da renúncia? Ou será que ela tem uma carta na manga? Todas estas indagações serão pulverizadas nos próximos dias. E que a pátria amada, idolatrada, Brasil, volte a deitar em berço esplêndido. "E diga o verde-louro dessa flâmula - "Paz no futuro e glória no passado."

Faixa Presidencial - com quem ficará? (reprodução/internet)

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