João Vasconcelos, o Theatro sob nova direção

25 de março de 2015, 17h43, entro pela porta da Galeria do Clube dos Diários, tenho uma entrevista marcada com o novo Diretor do Theatro 4 de Setembro, João Vasconcelos, para às 18h. Dois servidores estão na recepção. Cumprimento-os e pergunto se o comandante da casa está. Resposta afirmativa. Ligo para confirmar o encontro e avisar da minha chegada.

Do outro lado da linha, ele confirma o encontro e convida para a sua sala. Desço as escadas ao lado da Sala Torquato Neto (um teatro de bolso do complexo cultural) pela parte interna. Ao sair na área de serviço da casa, um monte de entulhos estão amontoados. É tempo de limpeza. Tira-se a sujeira que ficou pelos cantos. Nova gestão, faxina geral.

Atravesso uma sala ampla com mesa de reuniões, muitas cadeiras, sofás, um ambiente aconchegante. Na sala seguinte, onde está a galeria de ex-diretores, as fotos estão amontoadas aguardando a reforma em andamento. Parede lixada está pronta para ser pintada. Um cheiro de tinta toma conta do espaço. Um pouco mais adiante está uma sala de ensaios que passou uma longa temporada servindo apenas de depósito. Vai voltar ao propósito inicial (detalhes abaixo). É de lá que vem a fragrância de casa nova.

A porta da sala da direção está aberta. Entro no ambiente espaçoso. João está de cabeça baixa em frente a um monte de papéis com teor administrativo. Sentado por trás de uma mesa ampla, manipula um tablet. Em volume suave, um aparelho toca Summer Nigths. John Travolta e Olivia Newton-John cantam um clássico que marcou época. A canção faz parte da trilha sonora do filme Grease.

Com a voz compassada, Vasconcelos convida-me para sentar em uma das cadeiras à frente de sua mesa. Como estou adiantado, falo para ele concluir suas tarefas que estarei aguardando sem pressa. A sala tem uma mesa de mármore que deve servir para reuniões. Está lotada de livros, pastas e outros papéis. Ao centro, uma bomboniere com balinhas envoltas em papel cor de rosa.

Ao lado da mesa de trabalho do diretor, mais de uma dezena de telas estão embaladas por papel e plástico bolha, encostadas na parede. Devem aguardar um lugar para serem expostas. Por toda a extensão do centro cultural, parede é o que não falta.

Quem é João Vasconcelos?

Aos 50 anos, completados no dia 8 de fevereiro, o diretor do 4 de Setembro é casado com Lourdes, com quem tem duas filhas: Priscyla e Vanessa. É avô de Alanna Valentina, recém-nascida com apenas 19 dias. Uma família sólida e muito unida sempre apoiando seu espírito empreendedor.

Em seu perfil no facebook, Vasconcelos informa que seu ensino superior foi desenvolvido na “Escola da Vida”, e completa ironicamente: “Existe outra melhor? Me avisa”. É uma boa pista da personalidade forte que se adensa em seu sobrepeso, mas de leveza e elegância na conduta, fino trato, quando o assunto são negócios.

Quando não, exibe seu humor mordaz e a espirituosidade com tiradas perspicazes. Uma inteligência bem típica entre o pessoal das artes cênicas. Qualidades como pensamento rápido e a mordacidade da argúcia prática. Tudo na hora, na cara, na lata, de improviso, de repente, zás e já foi, meu bem!

O empreendedor

João transita entre os artistas com destreza. A maioria dos que estão em destaque, pelo menos alguma vez já esteve em um de seus bares ou restaurantes. Desde o “Café das Seis”, na esquina das ruas 24 de Janeiro com São Pedro, no Centro. Depois mudou para a São Pedro, próximo ao primeiro endereço. Foi lá que o conheci há uns 20 anos.

Ou então estiveram em apresentações no “Elis Regina”, que marcou época na esquina das ruas David Caldas com Félix Pacheco, também no Centro da capital. Muitos artistas e produtores se iniciaram em um pequeno palco que tinha plateia cativa. A ponto de ebulir e efervescer na virada do milênio. Cantores e outros músicos, poetas e outros escritores, atores e diretores de teatro, bailarinos e coreógrafos, artistas plásticos e outras vertentes de origens apolíneas e dionisíacas deram seus primeiros passos em noites gloriosas. Quem é do métier lembra com saudade.

O “Arte de Comer” veio em seguida, na rua 13 de Maio, ao lado do complexo cultural, sempre no Centro. Sem espaço para apresentações, ainda assim serviu para encontros onde se bolava as futuras produções ou estratégias para ganhar eleição do Sated-PI. João prosseguia como vetor da convergência da produção dos bens culturais, bem como do que se traçava para as políticas públicas do setor.

Ainda esteve em um sobrado anexo a atual ADH, em parceria com o bailarino e coreógrafo Valdemar Santos, que desenvolveu a OPEQ – Organização Ponto de Equilíbrio. Sempre lidando com alimentação, Vasconcelos manteve-se produzindo e atuando em espetáculos.

Finalmente chegou ao histórico Bar do Clube dos Diários. Onde agitou bastante fazendo uma programação intensa durante toda a semana. Após nove meses de abandono e servindo de ponto de encontro de moradores de rua, usuários de drogas e praticantes de pequenos crimes no Centro de Teresina, João trabalhou a revitalização do espaço, do início do governo Wílson Martins até os dias de hoje. A mesma verve se mantém, com a vibe catalizadora e catártica da construção que envolve a arte.

O artista e o produtor

Há 26 anos, João Vasconcelos atua em espetáculos teatrais dos grupos Raízes e Harém. Figurando nos folders de peças, esquetes, performances, musicais e espetáculos de rua que estiveram em destaque aqui ou em tournée por outras praças pelo Brasil afora.

Como produtor, há 19 anos realiza o espetáculo “Elis Vive” – um tributo que celebra a data de nascimento da magistral cantora, por quem João tem uma verdadeira fascinação. Tem todos os livros, todos os discos, tudo o que envolve o nome e a carreira da Pimentinha, Vasconcelos dá conta ou está a procura de saber e ter acesso.

Este ano, com a expectativa de assumir o Theatro, o nascimento da neta e outros percalços simultâneos fizeram com que o produtor não conseguisse realizar o espetáculo musical, que sempre busca inovações na forma como é apresentado a cada edição. Ficou um hiato no calendário dos bens culturais que já estão garantidos em sua agenda de produções.

João tem ainda em sua trajetória o “Mulheres Plurais”, que trouxe interpretações de canções com nomes de mulheres, como: “Luiza, Madalena, Bete Balanço”, entre outras. Um tributo a Torquato Neto também marcou a carreira do produtor. “Louvação” tinha uma caráter lítero-musical, mostrando a obra contida nas letras e poemas do Anjo Torto, com direção do grande maestro Elládio Jardas.

“Abre Alas” foi outra produção que teve a assinatura de João. Totalmente feito por mulheres, desde a banda até a cantora Gabi. A montagem circulou bastante por várias casas da cidade. Finalmente o espetáculo “Ela”, um dos mais primorosos espetáculos de sua lavra. Com múltiplas vertentes, circo, dança e teatro fundiram-se em um dos melhores resultados cênicos realizados pelo artista que acumulou direção e produção.

Dona Genu Moraes foi a grande homenageada do espetáculo que trouxe a mulher desde as mais remotas cavernas até os dias de hoje, independente e autônoma. Uma leitura antropológica e sociológica que foi a fundo na alma feminina. Tive o prazer de assistir a estreia e confesso que fiquei encantado com a força reunida das modalidades cênicas, que fluíram como cachoeira. Uma luz afinada encantadoramente desde a entrada roubou a atenção. A homenageada estava na primeira fila.

A entrevista

17h58, a música suave é interrompida por um: “vamos lá”. Não consegui lembrar o nome da música, mas a voz maviosa é de Nat King Cole, é o fundo musical que inicia a conversa com o comandante do equipamento público cultural mais cobiçado do Piauí. Curioso que o 4 de Setembro nasceu do espírito corajoso e empreendedor de um grupo de mulheres, eis que se encontra nas mãos de um homem que sempre promoveu espetáculos onde a alma feminina sempre foi sua matéria prima de pesquisa e realização.

Preocupado com o que eu vou perguntar, João quer saber se há um roteiro para se preparar para as respostas. Digo que não, tenho algumas perguntas, mas elas vão fluir durante a conversa. Peço que ele discorra sobre o que quer que seja dito, inicialmente e o que não pode deixar de ser falado, porque as pessoas querem saber.

Esta é a tônica do bate-papo que se desenrolou da forma mais leve possível. Sem limitações ou temas proibidos. Com a liberdade e a transparência necessárias para que os leitores captem a essência do homem que está dirigindo o ponto nevrálgico de toda a circulação do que é produzido com rigor de qualidade e elaboração, aqui e em outras freguesias.

A polêmica sobre o Bar do Clube dos Diários

Vasconcelos escolheu iniciar o papo esclarecendo sobre como se deu sua ida para gerenciar o Bar do Clube dos Diários. A convite da ex-presidente da Fundac, Bid Lima, no governo que sucedeu o segundo mandato do governador Wellington Dias, João foi chamado para resolver uma dor de cabeça que latejava no complexo cultural.

Durante reunião com o staff da fundação, Vasconcelos fechou contrato em termos semelhantes ao do Teatro Maria Bonita, em Floriano, segundo afirma. Seu dever era movimentar o espaço Jornalista Osório Júnior, um anfiteatro por onde circulam variados produtos culturais. Entre eles, o popular “Boca da Noite”, que era a única atividade que acontecia no local, praticamente abandonado por nove meses. O Termo Técnico, em formato de concessão, foi lavrado com a anuência da Assessoria Jurídica da Fundac.

Não havia nenhuma forma de pagamento pela exploração comercial, mas o compromisso de “fazer bombar”, informa João. O produtor estabeleceu uma programação permanente para o espaço, com atividades diárias. Todas as despesas com pagamento de cachês, som e iluminação necessários para as apresentações ficavam por conta dele, afirma.

O bar ganhou grande projeção com a movimentação e pode ter atraído a atenção e a inveja de alguns, supõe o diretor. Os artistas tinham a garantia de fazer circular suas produções e Vasconcelos criou a sua forma de recompensá-los, não havendo nenhuma insatisfação por nenhuma das partes, o sucesso imperou durante todo o governo de Wílson Martins.

João diz não entender muito bem o que aconteceu durante a gestão que sucedeu Bid Lima, pois ficou proibido de realizar alguma atividade que não tivesse a liberação prévia da Fundac. Segundo ele, o espaço ficou engessado, funcionando apenas o bar. Para João Vasconcelos, “o ano de 2014 não existiu para a Cultura do Piauí”. Foi uma sombra que paralisou as produções e que “felizmente passou”. Vira a página.

Sob nova direção

O que pretende o novo diretor para o Theatro 4 de Setembro? Indago. Vasconcelos faz mistério e diz que tudo será revelado nesta sexta-feira, 27, Dia Internacional do Teatro e do Circo. Através de uma ação nominada Ato 27, o novo diretor diz que vai trazer a público suas pretensões como gestor da casa. Mas, com alguma insistência, consigo fazer com que ele revele algumas coisas.

João diz que vem se reunindo com artistas, produtores e técnicos, bem como seus superiores em busca de construir uma gestão harmônica. Reunido com os técnicos, disse que determinou que eles escolhessem entre si o que iria liderá-los, assumindo a Supervisão Técnica do Theatro. Em votação, chegaram ao nome de Samuel Moura Dias. Ponto para a iniciativa democrática.

A Supervisão de Palco ficou com o veterano Antônio José, que segundo o diretor, “sabe de tudo e mais alguma coisa” da casa de espetáculos. Desde abrir a majestosa cortina vermelha, passando pela operação do maquinário cênico, som e luz, “até onde se guarda um parafuso”.

Norma Passos foi mantida na parte administrativa-financeira do Theatro. A Galeria será assumida por Laurenice França, que já estreia com exposição de uma coletânea de pintores e escultores piauienses de renome como: Dora Parentes, Naza, Afrânio, entre outros. As obras estarão disponíveis à visitação entre os dias 2 e 15 de abril. A ExpoPiauí tem curadoria de Carlos de Holanda.

Requalificação e formação de técnicos

Preocupado com o que informamos em matéria publicada neste portal na semana passada, João procurou a Escola de Teatro Gomes Campos onde está alinhavando uma parceria para formação de novos técnicos e requalificação dos que já estão em atividade.

Segundo o diretor, os novos aprendizes de caixa cênica, som e iluminação já serão apresentados nesta sexta-feira, 27. Vasconcelos quer que a Escola de Teatro amplie suas disciplinas e inclua o processo de formação, também, de técnicos. Aliás, participei do momento em que desencadeou a Escola Gomes Campos, inclusive o nome foi uma luta particular minha. Mas, deixemos esta história para outra oportunidade.

Importante é mencionar que havia a previsão de que houvesse formação de novos técnicos. Teresina conta com várias casas de espetáculos e, em sua maioria, as pessoas que assumiram as funções mais específicas da caixa cênica tiveram uma formação incipiente, mesmo que talentosos. A escola tem que fazer o seu papel. A esperança é que também se avance nesta área.

A volta da Oficina Procópio Ferreira

Uma das gratas surpresas compartilhadas em primeira mão por Vasconcelos foi o retorno da oficina permanente de formação de atores. Com o advento da Escola Gomes Campos, ela foi relegada a um segundo plano e acabou adormecendo, mas ainda vigorava nos sonhos de João.

Responsável pela formação de vários artistas que estão em cena, a Procópio Ferreira, que já teve a ilustre filha do ator, Bibi Ferreira, descerrando placa, em 1998, inaugurando e nominando a sala (no sótão do Theatro) onde ela teve um status privilegiado e áureo, com montagens que registraram momentos sublimes do teatro mafrense.

Iniciada em 1980 com a montagem de “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare, sob a batuta do diretor Arimatan Martins, muitos atores e atrizes vieram à cena e brilharam nas ribaltas. O retorno está em andamento e deve trazer o diretor Luciano Brandão, atualmente em Fortaleza, para comandá-la novamente. Mais um ponto para a nova direção.

O que é o Ato 27?

O novo diretor do Theatro 4 de Setembro aproveitou o simbolismo da data, especialmente para quem milita no mundo das artes cênicas para apresentar seu projeto de gestão, bem como realizar o cerimonial de sua posse. Uma extensa programação promete movimentar todo o centro cultural, a partir das 6h30 da manhã até às 22h.

Teatro de rua na praça Pedro II, abre as atividades que vão passar pelo bar, sala Procópio Ferreira, sala Torquato Neto, Salão Nobre Chico Pereira, Galeria de Artes, espaço Osório Júnior e palco do Theatro. Aula de dança, oficinas de fotografia e teatro, exibição de filme, show musical e espetáculos teatrais vão percorrer todos os espaços.

Vasconcelos mostra a sua força de articulação e prestígio com os artistas. Em pouquíssimo tempo conseguiu reunir vários segmentos para realizar intensa atividade, trazendo vida à casa de circulação da produção cultural. É típico dele, que sabe muito bem se relacionar com todas as vertentes políticas, grupos e suas ideologias, além de movimentar a cena como ator e produtor/empreendedor.

Destaco a homenagem que vai fazer para a ex-camareira Rosalina Silva, a dona Rosa, a tia Rosa, a querida e amada por várias gerações de artistas que conviveram com sua cativante alegria. Sabiamente, João une a classe artística em torno de um nome de consenso, admirada e respeitada por todos, nomeando a sala de ensaio que fica abaixo do Bar do Clube.

O ator Wilson Gomes vai interpretar no espaço, durante a inauguração, o espetáculo “O Diário de uma Camareira”, de Carlos B. Filho e direção de Cláudia Santos. A homenageada estará presente e vai receber os abraços. Na programação, o ato está previsto para acontecer às 11h.

Posse e surpresas

Foi o que consegui que João revelasse. Segundo ele, “o melhor está guardado para às 19h (cerimonial de posse) e às 21h30, no espaço Osório Júnior. As surpresas serão reveladas e projetos apresentados para que todos tenham acesso ao que ele pretende para a sua gestão.

O diretor fez questão que fosse registrado nesta reportagem seu agradecimento a todos os artistas, técnicos e produtores que participam do Ato 27, pois tudo é feito com o espírito de doação e voluntariado. Só ele mesmo para conseguir com que todos viessem para dentro do circuito cultural, oferecendo a sua mais valia, seus talentos, seu tempo e seu empenho com um altruísmo cada vez mais raro.

Durante a conversa, João citou muitas vezes o verbo “ampliar”. Em várias conjugações de tempo, mas, sempre no plural. Percebi que seu desejo é tecer uma nova teia onde a circulação e produção de espetáculos locais ocupem o Theatro em harmonia com as produções nacionais dos grande eixos culturais. Mas as pretensões vão se expandir, como sinônimo do verbo ampliar para além do Theatro.

“Vai vingar, enfim...”

João compreende que não está navegando em um mar de unanimidade, mas tem a humildade para pedir um crédito aos mais distantes que se aproximem, que se permitam a somar, multiplicar, numa equação onde o resultado seja o crescimento exponencial da cultura, que beneficia a todos: artistas, produtores, gestores, autoridades políticas e a população.

Que ele tenha êxito em seus propósitos. É fácil decifrar o quanto está imbuído de boas intenções, de como seus olhos brilham quando declara seus anseios formatando um sonho que começa a ser realizado. Com toda a sinceridade, declarou em suas tiradas bem humoradas, “aproveitando que o período da semana santa está próximo, queria que você não deixasse de publicar aí uma frase”. Aquiesci. Ele completou: “que atire a primeira pedra quem nunca desejou dirigir o Theatro”. Rimos.

Realmente. Muitos tem este desejo. Mas, agora, a vez é do João Vasconcelos. Um homem maduro, que batalhou a vida toda para estar onde está. Chegou por seus méritos, com a ajuda exclusiva de sua dedicação e capricho de anos a fio produzindo, tirando o máximo do mínimo, malhando em ferro frio, carregando caixas, madrugando para preparar o alimento que encheu a barriga de muitos, andando de bicicleta na chuva, amealhando sucessos e insucessos e aprendendo com eles, colhendo o que tem plantado insistentemente.

Dono de expressões que fazem ecos pela classe artística, empresto duas de suas mais conhecidas, que estão sempre escapando de seus lábios quando quer exaltar um triunfo ou encerrar um assunto. Chegou a sua oportunidade de mostrar a todos o seu repertório acumulado nesta longa estrada, afinal, o João “é produção que vinga!”. “Enfim...”

Portas abertas

Durante todo o período em que estive sentado conversando com Vasconcelos, a porta de sua sala esteve aberta. É mais que um estilo. É um recado. É uma mensagem do que busca e pretende o novo diretor. Abrir portas e receber de portas abertas. “Venha ao Theatro 4 de Setembro. Ele é todo seu!” – assina o folder do Ato 27.

Uma funcionária da casa entrou, sem pedir licença, pegou o que precisava e saiu silenciosamente. Um produtor veio conversar com o diretor, vendo que estávamos em entrevista, cumprimentou-nos e retirou-se, aguardando sua vez. Outra funcionária precisava de chaves para abrir a casa, afim de liberar o acesso ao público do espetáculo onde ia se apresentar a talentosíssima bailarina, Anne Jullieth. Pegou o que necessitava e saiu, sem mesuras nem protocolos. Com a simplicidade que creio que vai se tornar mais perceptível com o passar dos dias.

A Fundac, repleta de gestores que ainda não têm muita intimidade com o meio, vai precisar muito de Vasconcelos, que pode servir como grande articulador, pacificador e moderador no trato com artistas, técnicos e produtores. Mostram inteligência se repararem para esta qualidade de public relations que João faz, independente do cargo que ocupa.

18h57, encerramos nosso papo. O diretor oferece um copo d’água. Bebo dois. Oferta uma balinha da bomboniere. Aceito, várias. Pensei que fossem doce, mas são de menta. As cores às vezes surpreendem. Outro produtor adentra na sala e nos cumprimenta efusivamente. Há tempos não nos encontrávamos.

Sarah Vaughan, está arrasando no som. Interpreta Bridges. Foi como nominou Travessia, de Mílton Nascimento, com quem divide a versão em inglês. Numa magnífica produção, com a aura classuda da soul music norte-americana. Registre-se que a versão de Elis para a mesma canção é irrepreensível.

Ah, avisem a todos que o cachet da “Batalha do Jenipapo” está na conta. Parabéns a todos os que fazem as Artes Cênicas! Evoé!!!

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