Fábio, o novo na cultura piauiense

A partir desta segunda-feira, 29, finalmente a Cultura do Piauí vai tomar um rumo. Um bom caminho, pelo ponto de vista político. Depois de seis meses de reveses onde a chefia de quem devia cuidar de políticas públicas para o segmento estava como um barco sem direção, em meio ao mar bravio e sob uma intensa tempestade de incertezas, eis que uma luz emerge com boas condições de colocar as coisas no prumo.

Às 11h, no Palácio de Karnak, sede do governo estadual, é empossado como Secretário de Cultura, o deputado Fábio Núñez Novo (PT). Após uma intensa negociação que se arrastou desde quando perdeu a eleição à presidência da Alepi, o parlamentar amadureceu as condições para aceitar o convite do governador Wellington Dias.

O martelo foi batido no último dia 19, quando o tribuno e o chefe do Estado finalizaram os termos do acordo, que se deu em uma viagem para o sul do Piauí. É do sul que vêm os ventos alvissareiros que enfunam as velas da embarcação, trazendo boas novas à combalida cultura estadual. Com o sepultamento da Fundac e o nascimento da Secult – a sigla é por minha conta – Fábio simboliza a esperança de vida para bombear o coração do órgão que já teve momentos brilhantes.

Um secretário que ama a cultura

Um breve histórico dos primeiros seis meses do governo Wellington Dias no segmento, como o tribuno recebe a pasta, como repercutiu a chegada de Novo nos bastidores da classe artística, as limitações que vai encontrar, o diagnóstico da problemática e os possíveis prognósticos para um terreno delicado e de uma força potencial tão portentosa, que nenhum governante se atentou ao tesouro que é, vamos discorrer nas próximas linhas sobre este universo pouco conhecido por dentro.

A cultura do balcão de negócios

A sensação da maioria dos que transitam pelo universo cultural mafrense é que os primeiros seis meses foram de intensa sofreguidão. A indefinição de um nome com habilidade e conhecimento da pasta encheu de ansiedade artistas, produtores e militantes com a instabilidade gerada pela assinatura de contratos com finalidades duvidosas e pouco republicanas, em favor de empresas sem intimidade com políticas públicas para o setor.

O gabinete da presidência do órgão foi tomado pela avidez de prefeituras em busca de financiar seus eventos travestidos de culturais para colher dividendos políticos e, possivelmente, eleitorais, em detrimento de ações que dessem sustentação a um projeto que viabilizasse o atendimento de demandas postergadas historicamente pela politicagem.

A profusão de eminências pardas avessas à cultura e notórios predadores de bens públicos foi contestada insistentemente em forma de denúncias dos descaminhos de verbas públicas para fins suspeitos. A desesperança abateu a classe de vez quando notou-se a transformação do acesso ao parco subsídio para promover bens culturais tornar-se um sumidouro a escoar os sonhos de centenas sem a menor cerimônia.

A extinta Fundac simbolizou durante os primeiros 180 dias deste governo a organicidade da rapina propalada caricatamente por todos que perderam sua fé na probidade da aplicação dos já minimizados recursos. No ceticismo de uma reversão a curto prazo que pudesse parar a sangria, restava fazer anedotas com a descrença da integridade de uma administração engajada em fomentar negociatas. A perspectiva de um cenário auspicioso se distanciava da realidade e passava ao mundo da ficção.

O Sistema de Incentivo à Cultura, nome pomposo, estava a incentivar a iniciativa privada e desviando sua finalidade, que é dar provimento à produção cultural de artistas e grupos totalmente dedicados ao mister. Apesar da legalidade, o tom farsesco com que foi utilizado é de causar inveja até nos melhores dramaturgos especializados no gênero.

Foi esta a grande visibilidade que construiu a equipe que, em curtíssimo espaço de tempo, leva com todos os méritos o troféu da competência em piorar o que já estava muito ruim. Vão sem deixar um pingo de saudade em quem realmente ama o circuito cultural mafrense. E serão lembrados como exemplo referencial de como não se fazer política cultural. Vira a página deste compêndio dramático.

Terra arrasada é pouco

O deputado Fábio Novo assume a secretaria com milhões de reais empenhados sob suspeição, casos denunciados pela imprensa de pagamentos indevidos e com o descrédito de uma classe cansada e desiludida pelas gestões malfadadas. Entretanto, com uma só tacada, pode reverter em benefício positivo todas as traquinices de seus antecessores.

Suspensão e revisão imediata de tudo o que foi contratado, empenhado e ainda não pago, averiguação pericial das acusações que pesam em situações de desvios e a abertura do diálogo com os operários dos bens culturais são medidas básicas para edificar uma relação de confiança com o setor.

Se permitir-se a sondar entre artistas, produtores e técnicos a quantas andam a falta de credibilidade estatal na mudança para um horizonte pródigo, Novo não terá nenhuma surpresa se deparar-se com índices rentes ao chão. Não há nenhum exagero em afirmar que o emblema da terra arrasada é pouco para a sensação que permeia o seio cultural.

Entretanto, só em frear a trágica rota de colisão que estava encaminhada a gestão cultural, o novo secretário pode prover-se de alguma leniência da classe para investir em reversão dos descaminhos que se materializaram até agora. O terreno também é favorável para semear esperança e colher um voto de confiança em forma de prazo para respostas assertivas, porque pior do que está não pode ficar.

A imagem de FN no mundo cultural

O deputado adentra à gestão da cultura com o peso notório em desfavor da administração setorial que ainda não viu configuração de benesses duradouras, mas, sem a rejeição específica ao seu nome. Nos corredores da cultura, a expectativa é de mudança para melhor, dada a sensibilidade que carrega por fazer parte das artes cênicas.

Fábio Novo atuando em encenação da Paixão de Cristo

Na manhã da última sexta-feira, 26, quando seu nome foi divulgado oficialmente como secretário, apesar da desilusão de alguns, outra parte mostrava-se confiante na expectativa de um cenário favorável para um novo tempo, menos danoso aos interesses dos que militam empunhando a bandeira da cultura. Paira no ar dos que respiram os universos apolíneos e dionisíacos, a chance de uma transmutação de uma gestão desastrosa para outra, no mínimo, mais organizativa.

É a oportunidade de dar uma visão mais aplicada à adoção de políticas públicas eficientes. É a chance de construir um fórum permanente para a audição dos anseios que emanam dos que fazem a cultura estadual, com o intuito de erigir um sistema administrativo menos verticalizado, quando as ações são implementadas de cima para baixo, distanciadas do que almejam os maiores interessados.

Ao ouvir o que querem os que fazem a cultura, Fábio tem a grande aura de realizar uma gestão proativa. Mostrando o que é e o que não é possível se fazer. Comprometendo-se com as prioridades emergentes e deixando de lado o que é apenas decorativo. Agindo dentro destas condições, facilmente vai sedimentar um vínculo de confiança com toda a numerosa trupe que reside e resiste em promover melhores dias no terreno cultural.

Acertaria no milhar se pusesse para funcionar o Fundo Estadual de Cultura, ponto nevrálgico para o fomento maciço de bens culturais e sua circulação pelo equipamento público, indo ao encontro do povo, o ponto final do consumo. Poder de articulação e força política, Novo tem de sobra para referendar a entrada do capital empresarial por meio da lei de renúncia fiscal em benefício de transformar a realidade de uma classe tão oprimida. É ocasião primaz para reescrever a história e marcar seu nome à posteridade da melhor forma possível.

Equipe de guerreiros aponta para vitória

Sabe-se de um comportamento pouco admirável de gente que já teve oportunidade na administração cultural em desestabilizar e inviabilizar os que estão postos. O queixume apresenta um laconismo que beira a interpretação de desvios de caráter. Felizmente, Novo já se afastou de alguns indivíduos que nunca viram o bem coletivo como determinante em suas condutas. Ao contrário, agiram em benefício próprio e hoje estão relegados a um plano de antipatia com os que ficaram.

Além de João Vasconcelos, que já é indicação de Novo para o Theatro 4 de Setembro, a atriz Bid Lima (ex-secretária) deve ocupar um posto relevante na missão que é reformar o ambiente cultural, expurgando o que for pernicioso. Não há espaço nem tempo para dar colher de chá a quem já se mostrou adverso aos padrões razoáveis de um construtivismo no segmento.

Não há necessidade de citar nomes. Quem está por dentro da ciranda sabe muito bem que o movimento não quer gente que não enxerga distante de seu próprio umbigo. Novo tem que cercar-se de competência e bom trânsito com os fazedores de cultura em nível estadual para modificar e ampliar as relações com sua clientela.

Como signatário do Sistema Nacional de Cultura, o Piauí tem que correr atrás do prejuízo por estar a passos de tartaruga na implementação de sua harmonia em nível nacional com as políticas culturais. É hora de arregaçar as mangas e mãos à obra, com o carinho e respeito que a cultura merece e exige. Daqui, permanecemos em vigília, acompanhando o desenrolar dos acontecimentos e desejando boa sorte para que Fábio realmente represente e faça acontecer o novo na cultura piauiense.   

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