Do rádio à nova Bancada Piauí

Quem parar para analisar a origem dos comunicadores que têm alcançado destaque no Piauí nos últimos 50 anos vai notar que, em sua maioria, vieram do rádio. Com o advento da televisão por estas paragens, no início da década de 70, grande parte migrou para a telinha, dando imagem à voz que já era sucesso.

Raros são os casos de comunicadores que foram totalmente forjados na televisão e que tiveram projeção acima da média. Não desmerecendo nenhum deles, mas o celeiro dos grandes jornalistas, apresentadores e repórteres que ultrapassaram o feijão com arroz do cotidiano comunicativo, fizeram do microfone ecoando em amplitude ou frequência modulada a mola que os impulsionou aos holofotes televisivos.

A grande diferença mais visível é a capacidade de improviso que só a escola da radiofonia pode oferecer como adendo primaz na instrução e formação dos grandes comunicadores, deixando claro ao teleprompter a sua função de coadjuvante.

No rádio, a imagética tem que ser construída com palavras, ou seja, aí vem atrelado um elevado nível de conhecimento do vernáculo. Promovendo intimidade com o vocabulário de termos e expressões idiomáticas necessários para auxiliar o que na televisão já está registrado, obviamente, pelas imagens. Legando ao comunicador oriundo da radiodifusão o seu verdadeiro lugar de protagonista.

Antes de enveredar mais a fundo pelo universo televisivo mafrense, vamos notar alguns fatores que servem para a ânima modificadora que galga rapidamente, impondo mudanças na sistemática de fazer TV, renovando-a.

A forma e o conteúdo; o raso e o profundo

A TV aberta está em transformação. Forçada pelos múltiplos instrumentos que possibilitam o acesso às imagens, seja através da social media ou de canais alternativos, fechados ou em novas plataformas superando a teleradiodifusão, urge se reavaliar e se refazer para oferecer algo a mais aos telespectadores.

A forma de fazer televisão vem acrescentando novos elementos para ilustrar a notícia, desde infográficos animados; passando pela reescritura dos scripts com linguagens cada vez mais populares, usando termos que ainda nem foram catalogados pelos enciclopedistas; até a postura que fez com que o âncora levantasse da bancada e transitasse com desenvoltura pelo cenário, cada dia mais funcional.

Sem esquecer que as microcâmeras, os drones e a internet levam links ao local dos fatos quase que simultâneos aos acontecimentos, dando uma sensação cada vez mais próxima da instantaneidade do realismo e um dinamismo que segura quem assiste. Capaz de fidelizar a assistência, se a manutenção da qualidade da produção jornalística não for por arroubos, mas pelo compromisso. O que torna uma redação de televisão algo bem concorrido, o ponto de convergência e difusão da notícia com acabamento diferenciado.

Quem diria que o apresentador do Jornal Nacional trocaria gracejos com a jornalista especialista em meteorologia, a “moça do tempo”, com uma coloquialidade que transmite leveza ao que já foi pesado, duro e quase inexpugnável jornalismo pautado por uma seriedade extrema?

Tudo isto temos visto contemporaneamente nos ajustes aos novos tempos, no que se refere à forma e às adaptações de formatos para aproximar o comunicador de seus clientes e patrocinadores através da informalidade. É um caminho sem volta em busca de acertos, mas, também, de muito experimentalismo. Testando o que pode dar certo para uma comunicação cada vez mais popular. Erros fazem parte do caminho de quem quer acertar.

William Bonner e Maria Júlia Coutinho no Jornal Nacional

Entretanto, mesmo que a forma se permita ser elastecida em suas medidas, há algo que jamais estará em discussão, porque o que é bom não decresce ou sujeita-se à diletância: o conteúdo. No máximo, a abordagem de uma matéria em foco pode receber aprimoramento, mas a essência da matéria prima vai estar sempre ascensa em patamar elevado.

Vejo o conteúdo do que é apresentado ainda pouco valorizado, em detrimento da forma. Quem percebeu e dá prioridade a ele, leva vantagem. E quem consegue enxergar uma fórmula em que os dois estejam em dia com o novo tempo no jornalismo, põe-se à frente dos demais.

O Piauí, acompanhando o momento de metamorfose televisionada mostra em sua tela todas as nuances do que exponho, mas ainda há algo que pode se tornar fator de uma audiência consumidora de notícia cada vez mais exigente. Diferentemente dos programas de entretenimento, o jornalismo que leva em conta os critérios de profundidade dos acontecimentos sai na dianteira para manter o interesse dos que estão do outro lado das câmeras.

Tratar um assunto com a devida relevância que pode desencadear outros que estão atrelados ou submersos é tarefa de quem não se dá ao desfrute de ser raso. Infelizmente, a investigação e o mergulho em temas que podem promover ações reformadoras e construtivas para a sociedade são relegadas à indolência ou a conveniência, determinadas pelas linhas editoriais que mascaram intenções conservadoras ou retrógradas. Aí, todos perdem.

As redes sociais e o Big Brother

É comum ver-se o não acompanhamento de pautas relevantes, deixando-as envelhecer até caírem no esquecimento. Embora estas atitudes tenham mudado um bocado com o advento das redes sociais, que fazem as vezes de potencializadores da repercussão, obrigando a direção jornalística a rever a importância da relevância pelo interesse e ressonância causada no seio do estrato social.

Noutros tempos, fazia-se ouvido de mercador e ficava por isso mesmo. Sinal dos tempos peneirando as pautas e seus aprofundamentos ao toque de hashtags e postagens insistentes no facebook, twitter (agora com o periscope) e instagram, prioritariamente. Ou ainda na surdina dos grupos de whatsapp, que faz tudo se avolumar rapidamente com o compartilhamento de conteúdos exclusivos, mas que acabam vazando.

Sempre tem alguém com espírito de Robin Hood a partilhar o que se propagava quase que silenciosamente, repassando os prints de grupos fechados. Ganha o jornalismo e a sociedade, se houver chance à apuração. O risco está em fazer de um boato uma quase verdade. Mas, felizmente, o aparelho repressor já tem como identificar de onde parte o ponto difusor das mentiras, também.

Os novos instrumentos facilitadores do jornalismo tornam-no mais fortalecido, fazendo com que hoje em dia seja praticamente impossível que os mistérios e os segredos sejam longevos. Mais cedo ou mais tarde aparece alguma prova, um áudio que vaza, uma foto ou um vídeo que trazem evidências do que se achava que jamais seria descoberto.

O Big Brother, expressão que profetizou e identifica perfeitamente o que vivemos nos dias atuais, surgiu originalmente no romance de George Orwell, 1984. Chegou e veio para ficar, democratizando o atributo divinal da onipresença aos reles mortais. A expressão “Sorria, você está sendo filmado” está em adesivos, principalmente em prédios públicos, mas nem sempre a captura das imagens é anunciada.

Fica o sentimento de que estamos sendo vigiados o tempo todo. E é isso mesmo. De alguma forma, a falta de privacidade acaba forçando as pessoas a terem atitudes mais republicanas, pelo menos nos países democráticos. E, pelo visto (e filmado), a tendência é esta sensação se consolidar.

Parece que ninguém confia mais em ninguém, nem na sombra. Todos somos suspeitos até se provar o contrário? O precedente da inocência foi invertido? Tudo indica que sim. Mas, este é um tema a ser abordado em outro artigo, dada a vastidão a ser posta que nos fez chegar até este desmanche dos valores humanos. Os tempos líquidos, como esclarece o sociólogo Zygmunt Bauman.

A disputa centrada em uma faixa horário

A TV piauiense praticamente elencou um horário para disputar efusivamente a audiência. As emissoras apostam insistentemente no domínio do intervalo que vai do fim da manhã ao meio da tarde.

Como tudo passa pela política, exponencialmente em um Estado pequeno, com poucos recursos ou tímidas ações da iniciativa privada em atividades desenvolvimentistas, a pauta, na maioria das vezes, é política ou sateliza (inventando um verbo) em torno dela. Mostrando as disputas de grupos, os destaques de políticos em suas ações ou especulando seus próximos passos.

Graças ao personalismo de bons comunicadores, o horário tornou-se nobre e atrai anunciantes em grande profusão, que investem alto para estar em evidência. Mas, recentemente, as mudanças vêm acontecendo com a troca de apresentadores e a disputa pela audiência, necessariamente, tinha que se mostrar na reacomodação com os substitutos.

Claro que não é fácil a troca nem a adaptação dos novos apresentadores, principalmente quando se trata de campeões de audiência que construíram sua excelente receptividade com a força de seus truques personalísticos. Uma frase de efeito, a eloquência, os bordões ou um mise-en-scène bem recebidos pelos espectadores não se refaz da noite pro dia.

As alterações entre os protagonistas deixou um hiato, que mesmo com as tentativas buscadas pelos substitutos em manter a audiência deixou os consumidores do horário “soltos”. A fidelização dos espectadores estava a aguardar alguém com a ambição de lhes prender a atenção.

A nova Bancada Piauí

A TV Antena 10 entrou na disputa com mais avidez desde o último dia 3 de agosto. Aí, chama-se a atenção para um grande nome que adianta-se e procura estar atualizado com o mercado e seus consumidores, Tony Trindade.

Mesmo estando nos bastidores nos últimos anos, fez de seu espírito empreendedor uma marca por onde passa. Seja na construção de programação com caráter educativo e cultural, além de político, no caso da TV Assembleia. Seja na construção de uma programação variada no canal 10.

Até quando os recursos são parcos, a criatividade faz a diferença. Em sua passagem, deixa um legado incontestável, pelo sucesso obtido nos resultados. Menos à louvação, mais ao reconhecimento aos méritos e conquistas que fizeram com que apurasse um poder de obter êxito.

E isso vai além da confecção de uma grade, mas da capacidade de agregar nomes com habilidades diferenciadas e extraindo deles o melhor que possuem. Afora o domínio administrativo da máquina, afim de fazê-la funcionar com resolutividade fora do comum.

Não bastasse todos estes predicados, o comunicador resolveu entrar na disputa e chamar para si a responsabilidade de segurar a massa ávida pela notícia com aprimoramento diferenciado. Depois de um longo inverno, voltou ao vídeo com sua notória agilidade. Como diz o ditado: “a pessoa é para o que nasce”. Por sinal, há um documentário fascinante com este título, do diretor Roberto Beliner (#ficadica).

Em pouco mais de uma semana, já mostrou a que veio. Pautando os demais veículos com seu olhar arguto e abordagem de profundo conhecedor do meio político e da sociedade mafrense como um todo, trouxe à berlinda temas e matérias que vê-se repercutir avolumadamente.

Amadurecido, o tempo ausente do vídeo no jornalismo ancorador apurou a eficiência do comunicador sênior. Vê-se uma precisão na comunicação, sem excessos, econômica e direto ao ponto, do jeito que o telespectador gosta.

Tony Trindade, Feitosa Costa e Pedro Alcântara

Ombreado pelos decanos Pedro Alcântara e Feitosa Costa, que falam com propriedade dos temas abordados, chancelando com sua vivência ao tecer comentários abalizados e pertinentes. Para balancear, no meio das feras, a bela Sayuri Sato, não menos competente, soma um fragor feminino ao compor o quarteto que já está fazendo a diferença no horário onde ocorrem as maiores batalhas por audiência da televisão mafrense.

Lamentavelmente, o espaço de tempo que ocupam é pequeno. Cerca de uma hora passa super-rápido, mas percebe-se o aproveitamento eficaz. E, talvez, estrategicamente, deixa o “gostinho de quero mais”. Incentivando os espectadores a fazerem-se sintonizados no dia seguinte para receber mais uma intensa programação diferenciada das demais.

Pela forma avassaladora com que chegaram à disputa, já fazem trocadilhos querendo renomear o programa para “Pancada Piauí”. Não há nenhum exagero, a notar-se que a mexida deve ter ligado o sinal de alerta nas demais emissoras, que se não se movimentarem rapidamente, devem sentir o impacto da readequação da audiência no horário.

Para tornar tudo mais envolvente, a TV Antena 10 é a que possui a maior capilaridade no Piauí, estando praticamente na totalidade dos 224 municípios. Nos próximos dias, é provável que vejamos o acirramento da peleja pela atenção da assistência, que há de se configurar apropriadamente nos números estatísticos dos institutos de pesquisa.

O papel social da comunicação

A função social da comunicação tem sido o motor de transformação que auxilia a democracia a se estabelecer. Juntamente com a Justiça, faz o par que põe a sociedade iluminada, apontando para caminhos onde todos podem compartilhar dos avanços garantidos com maior equidade e com menor disritimia, que envolve a síncope das diferenças submetidas pelos excessos do poderio econômico e político.

Os comunicadores comprometidos com sua verdadeira missão e não cooptados pelos modismos ou pela tirania de outros fatores menos mencionáveis, cumprem seu mister que é ser um elemento de evolução de uma sociedade.

Vejo com bom olhos a chegada do apresentador e sua equipe, que não precisa provar mais nada a ninguém, como um fator preponderante na garantia desta estabilidade tão buscada por uma sociedade mais justa. À procura da verdade que se faz necessária para os avanços e crescimento de um povo, ganham todos. A sintonia está afinada na emissora. E se for para dar nota, claro que é 10. Congratulações!

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