​O Valor das Instituições Democráticas

O País tem assistido a cada semana a ação da Justiça, especialmente do juiz Sérgio Moro, capitaneada pelo trabalho desenvolvido pelo Ministério Público em conjunto com a Polícia Federal, com a ajuda inclusive da Receita Federal. Em face disso, têm sido apresentadas denúncias contra dirigentes e donos das mais poderosas empreiteiras nacionais, que mantêm relação incestuosa com o poder central. Os procuradores da República reunidos na sede regional da Procuradoria da República no Paraná, deram uma coletiva à imprensa e apresentaram, de forma detalhada, todos os dados, indícios e provas que acompanham as denúncias apresentadas à Justiça Federal de primeiro grau. Ao final da exposição lia-se: “uma realidade, um sonho...”. Certamente, um sonho de um País decente hoje partilhado com todo o conjunto da sociedade e deixado esperançosos brasileiros de norte a sul, fartos de tanta corrupção nas entranhas do poder e envergonhados com a ideia repassada despudoradamente para o mundo de que vivemos numa Nação de corruptos e ladrões. Por outro lado, antes do recesso parlamentar, foi determinada a busca e apreensão na residência de três senadores da República e pedida a abertura de investigação criminal contra o presidente da Câmara dos Deputados, enfim se viu uma sucessão de atos que evidentemente mexe com toda a estrutura de poder da República. E vemos que a cada semana se desencadeia uma nova operação para prender envolvidos no maior assalto aos cofres de uma empresa no Brasil. E as delações se sucedem também como nunca dantes visto no País.     

O que tem chamado a atenção de todos é a forma como têm agido autoridades do mais alto coturno da República, apontando seus discursos raivosos e ações contra as instituições democráticas do País, buscando enfraquecê-las e desacreditá-las perante a sociedade em face do trabalho que realizam. São senadores e deputados que lançam seus veementes ataques à ação da Polícia Federal, do Ministério Público e da própria Justiça, como se tais instituições não estivessem a cumprir o seu papel constitucional. O mais intrigante e surpreendente é que pairam sobre todos eles alguma denúncia ou suspeita de envolvimento com o que foi denominado de “Petrolão”. Até a Presidente da República, num lapso de retórica fez ferrenha crítica aos acordos de delação realizados pelo Ministério Público e ratificados pela Justiça, estabelecendo uma esdrúxula comparação com a tortura no regime militar, esquecendo-se ela que foi a própria que sancionou a lei ora em vigor e que, diga-se de passagem, fez o País avançar no combate às organizações criminosas.

Na referida coletiva dos procuradores da República, se tomou conhecimento que oitocentos e setenta milhões foram até agora efetivamente recuperados, sendo um fato demonstrador da importância da ação desenvolvida em conjunto pelas instituições já apontadas, que contou inclusive com o suporte e colaboração do Ministérios Públicos da Suíça e de Portugal. Há assim uma evidência de que o processo de globalização também chegou às instituições democráticas e que a reação de suspeitos e denunciados servem em verdade para fortalecê-las, dado que cada vez mais ganham apoio popular. Com isso, por via de consequência, a democracia brasileira ganha musculatura. Por tudo isso se ver que o essencial para o País é a solidez das instituições, a despeito de quem as atacam e trabalham para torná-las frágeis, porque como costumeiramente se diz “os homens passam, mas as instituições ficam”. E são elas que estão fazendo a diferença nesse mar de lama que está metido o Brasil.

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