UMA FOTO, UMA REFLEXÃO

Francimar Pereira posa para foto com Ciro e aliados (Foto: Reprodução/Instagram)

Na última sexta-feira (4), o senador Ciro Nogueira (Progressistas) postou fotos recebendo lideranças do interior do Piauí em sua casa na capital Teresina. Seria uma foto normal se não fosse uma presença que chamou atenção. Entre as lideranças abraçadas com o senador mais poderoso da República estava José Francimar Pereira, ex-vice-prefeito da cidade de São Julião. O blog Código do Poder, do jornalista Aquiles Nairó, foi o primeiro a observar esse detalhe.

Francimar Pereira é apontado pela polícia como mandante de um dos crimes políticos mais bárbaros que o Piauí já presenciou. Em 2013, segundo concluíram as investigações, ele mandou assassinar de forma brutal o ex-vereador Emídio Reis (MDB), que havia perdido a eleição para prefeito da cidade de São Julião em 2012. Emídio foi sequestrado, torturado e enterrado vivo no meio do mato. O corpo só foi encontrado cinco dias depois porque uma mão ficou de fora e a movimentação de urubus chamou a atenção de um vaqueiro.

Conforme a polícia, Francimar Pereira pagou R$ 15 mil para pistoleiros ceifarem a vida do adversário. O crime comoveu todo o Piauí. A defesa de Francimar diz que ele é inocente. Emídio Reis havia movido uma ação na Justiça Eleitoral para cassar os mandatos do então prefeito José Neci e de Francimar Pereira, que foi preso em 15 de março de 2013 na Operação Mandacaru, da Polícia Civil do Piauí. Mais tarde, já com Emídio debaixo da terra, a ação foi julgada procedente no Tribunal Regional Eleitoral do Piauí (TRE-PI).

Emídio foi brutalmente assassinado em 2013 (Foto: Reprodução/TV Record)

Em 2015, a Rede Record produziu uma série de reportagens especiais sobre crimes políticos no Brasil. O caso de Emídio Reis abriu a série e mostrou para todo o país a morte brutal ocorrida no sertão do Piauí. Veja aqui a reportagem! Mandante do crime, segundo aponta a polícia, José Francimar ficou na cadeia até julho de 2016 quando foi posto em liberdade e aguarda o julgamento. Parentes, amigos e eleitores de Emídio clamam por justiça.

A FOTO COM O EX-VICE-PREFEITO
A foto do senador abraçado com Francimar nos põe a refletir sobre porque a política [e os políticos] andam tão desacreditados. Nos faz pensar como vale tudo para conseguir votos. Uma figura como Francimar, ainda que pendente de um julgamento final na Justiça, do ponto de vista racional, não deveria fazer parte da vida pública. Seu apoio tinha que ser renegado. Enquanto a família de Emídio chora sua morte, o mandante, conforme sustenta a polícia, posa com a casta influente do Estado e mostra plena atividade política, jogo do qual ele é acusado de ter tirado de forma covarde um dos seus adversários.

Rejeitar uma figura como Francimar do meio político, já que a Justiça até agora não o fez, deveria, minimamente, ser uma tarefa de quem milita no segmento. É inadmissível que um homem acusado formalmente de mandar assassinar um adversário esteja fazendo política tranquilamente pouco mais de cinco anos depois do crime. Quando a própria classe não exclui figuras como essa, ela mostra o quão “atolada” se encontra. Além de Ciro, também aparece com Francimar na mesma foto o deputado estadual Nerinho (PTB).

A atividade política não pode ser apenas “política por política”. É preciso ter um limite para determinadas circunstâncias. Maior do que um capital eleitoral, deve estar o sentimento de humanidade. Situações como essa tiram a grandeza de uma atividade que deve ser exercida com nobreza. Ainda que seja um acusado, já que a Justiça não deu a sentença final, Francimar deveria ser evitado. O crime que ceifou de forma covarde a vida de Emídio Reis foi um atentado contra o sistema democrático e contra a classe política. Justamente por isso, os responsáveis deveriam ser amplamente rejeitados por qualquer membro deste segmento.

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