UM PAÍS PERDENDO A COMPOSTURA

Cresce no Brasil o radicalismo político (Foto: Sérgio Castro/Estadão Conteúdo)

O Brasil é um país cheio de riquezas, de diversidade cultural, de raças, de tradições e com potencial enorme para ser uma grande nação. A maioria dos brasileiros sempre foi conhecida pelo jeito acolhedor, pela simpatia e alegria. Mas nos últimos anos, temos visto um cenário que leva o Brasil para rumos sombrios. O acirramento político crescente provoca fissuras cada vez maiores. E o pior: uma grande parcela da população participa desse precipício.

Desde de 2013, quando se desencadearam os grandes protestos da Jornada de Junho, o país passou a formar um panorama de intensa divisão política, de contestação rasteira ao oponente e dura confrontação político-partidária. Um cenário onde ninguém vê qualidades nos adversários, onde ninguém admite erros e onde o ataque é a principal arma. Uma divisão que se iniciou instigada pelos próprios políticos e se espalhou em boa parte da população.

Atualmente, o que vemos é um cenário onde poucos estão dispostos a ouvir quem diverge, onde atacar é a melhor receita para contestar. Hoje, o país é governado por um presidente de extrema direita, que ataca e também é atacado. A cada dia vemos demonstrações de que a opção de governar pelo confronto dará a tônica. Mas se engana, e se engana muito, quem pensa que apenas um lado é protagonista dessa triste realidade que se avoluma no Brasil.

Nos debates políticos, é comum vermos parlamentares incitarem o povo contra aquilo que não lhes convém politicamente, ainda que seja algo digno de uma discussão justa e séria. Por mera questão partidária e/ou ideológica, muitos são desonestos no debate apenas para colocar a população contra o oponente e causar embaraço. O resultado disso é um país onde as reformas não avançam, onde as burocracias não diminuem e as diferenças só crescem.

O reflexo disso já chegou em muitas famílias, muitos lares, muitas empresas. Nas redes sociais, nem se fala. Elas têm seu lado positivo, mas não se pode negar que são hoje, também, um antro de divisão, ataques e desinformação. Com a ascensão de Jair Bolsonaro à presidência da República, o país se dividiu ainda mais. Não apenas por culpa dele, mas também de uma parcela dos que lideram a oposição. Dos dois lados, o ataque foi a escolha.

É verdade que a responsabilidade maior de tentar promover o diálogo e a união deve ser de quem está no poder, já que o cargo exige característica de estadista e não de um caçador de conversa, como muitas vezes tem se comportado o presidente e alguns membros do governo. No entanto, os que não contribuíram para sua ascensão ao poder não podem rechaçar os que votaram e nem tampouco viver irrestritamente de contestação sem qualquer debate.

Não é abrindo fissuras sociais que uma nação cresce. O Brasil dos últimos anos não compreendeu isso. Um cenário que faz lembrar a música "meu país", de Orlando Tejo, Gilvan Chaves e Livardo Alves, interpretada por Zé Ramalho. "Um país que engoliu a compostura, atendendo a políticos sutis. Que dividem o Brasil em mil Brasis, pra melhor assaltar de ponta a ponta. Pode ser o país do faz-de-conta, mas não é com certeza o meu país".

Se a canção se adequava às características do Brasil de quase 30 anos atrás, quando foi composta, imagine como se adequa hoje. O que está ruim pode sempre piorar, mas temos que manter a esperança em um país onde a divisão e o confronto não sejam protagonistas.

Comente aqui