UM ESTADO REFÉM DA INOPERÂNCIA

Drama causado pela seca é uma sina no PI (Foto: Gustavo Almeida/PoliticaDinamica)

Chegamos a mais um período de campanha. O assunto da vez é tão somente a eleição que vai eleger nossos próximos representantes a nível de estado e de país. Nos programas jornalísticos, nas redes sociais e nas rodas de conversa, a disputa eleitoral é o tema principal. Candidatos de toda espécie, como de praxe, se apresentam aos montes, andam pelos interiores, vestem roupas de vaqueiro e tentam se passar por redentores de um estado que nunca conseguiu deixar as primeiras colocações nos índices de pobreza no Brasil.

No entanto, chega eleição e passa eleição e o Piauí segue sendo um estado refém da falta de compromisso, porque não dizer da irresponsabilidade, de grande parte da classe política, principalmente dos que passaram pelo Poder Executivo. Nos rincões desta terra querida, ainda reinam atrasos seculares que os governantes nunca conseguiram, ou melhor, nunca fizeram um esforço verdadeiro para resolver. Nesse artigo, chamo atenção para a problemática decorrente da seca no semiárido piauiense.

Historicamente, nosso estado ganhou destaque na mídia nacional com cenas dramáticas de sertanejos sofrendo com escassez de água. Ano após ano, as cenas se repetem. As dificuldades impostas pela seca são um dos problemas mais graves do Piauí. E a pergunta que se faz é: por que nunca se resolveu um dos mais graves gargalos que trava o desenvolvimento do estado e inferioriza a qualidade de vida dos nossos irmãos do semiárido?

É óbvio que houve avanços, afinal, não podemos comparar a realidade atual com aquela dos anos 50, quando a presença do estado nas brenhas do sertão era quase nula. No entanto, é inadmissível que um estado ainda abasteça boa parte de sua gente à base de carros-pipa. É mais inadmissível ainda que se faça propaganda dos feitos de uma Operação Pipa ou de ações emergenciais, como se essas saídas paliativas da qual nunca conseguimos nos desvencilhar fossem motivo para vanglórias.

Em qualquer lugar sério do mundo, uma terra como o Piauí não conviveria secularmente com esse drama. Temos um dos mais ricos lençóis freáticos e, além disso, rios imponentes que passam bem perto de regiões onde o sertanejo sofre para ter água. O desprestígio nosso na cena nacional tem sido tão grande que canais da transposição do rio São Francisco rasgam o sertão nordestino por centenas de quilômetros até a Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Enquanto isso, cidades do Piauí a pouco mais de 80 km do rio vivem com pouca água.

O município de Dom Inocêncio, por exemplo, fica a pouco mais de 80 km do maior manancial da América Latina, a barragem de Sobradinho-BA, que represa na vizinha cidade de Remanso. No entanto, é um dos municípios mais castigados pela seca no Piauí, onde até mesmo a zona urbana depende do abastecimento feito por carros-pipa. É revoltante saber que sertanejos nascem e morrem convivendo com a dificuldade de conseguir água e não se tenha no Piauí governos sérios, que pensem grande e sem complexo de vira lata.

Moradores ainda sofrem no semiárido (Foto: Francisco Gilásio/Diário do Povo)

Se os governantes desse estado tivessem a bravura dos rurícolas que trabalham de sol a sol no sertão, certamente viveríamos num Piauí mais digno. Infelizmente, temos tido gestores que não assumem o poder pensando em mudar, pra valer, a nossa realidade. A pequenez é tamanha que ser vice-campeão em pobreza é visto como troféu pelo fato de termos conseguido deixar a última colocação. Já diz o ditado: ser melhor do que zero, basta ser um.

Nesse tempo de eleição, aparecem candidatos prometendo coisas que, se formos avaliar ao pé da letra, não vão tirar o Piauí do atraso histórico, nem mesmo se forem totalmente cumpridas. É preciso atacar os grandes problemas, mexer com coisas grandiosas, ter vontade de entrar para a história como alguém que causou impacto num Piauí historicamente ridicularizado. Não queremos gestores que se acham habilidosos por conseguirem pagar salário de servidor público ou por aumentarem um dígito no índice do Ideb.

Queremos gestores que sejam capazes de colocar o Piauí entre os grandes e que façam esse estado dar um salto, não apenas para deixar de passar vergonha, mas para ser orgulho. Queremos gestores que solucionem o drama secular de abastecimento no semiárido. Muitas vezes, é fácil para um comissionado, para um jornalista chapa branca ou outro ser qualquer puxar o saco de um governo com uma opinião enfincada na capital. Difícil é conhecer os rincões desse estado, suas peculiaridades e os dramas da sua gente.

Quem conhece sabe que ainda somos reféns da inoperância daqueles que tem governado o Piauí ao longo dos anos. E dessa inoperância histórica, todos nós somos vítimas. Infelizmente!

Comente aqui