TUDO COMO DANTES NO QUARTEL DE ABRANTES

Assembleia Legislativa do Piauí (Foto: Jailson Soares | PoliticaDinamica.com)

Nos últimos anos observamos o aprofundamento da crise política no Brasil e as constantes demonstrações de repulsa e indignação contra a corrupção e as velhas práticas dos políticos. Diante desse cenário de “terra arrasada”, criou-se a expectativa de que as eleições de 2018 fossem um divisor de águas. Para muitos, toda a indignação da sociedade brasileira com os representantes políticos resultaria numa varredura no cenário, com o expurgo, através do voto, daquelas velhas raposas que estão no poder há décadas.

É verdade e importante destacar que nem todos que estão há muito tempo na política são desprezíveis ou merecem rejeição. Sobre a expectativa criada para o pleito eleitoral deste ano, ela até pode se concretizar quando as urnas forem abertas, mas a grande tendência é acontecer o contrário e termos exatamente os mesmos resultados tradicionais de outras eleições, caindo por terra o cenário de indignação que temos visto tomar conta do eleitorado.

Faltando menos de 40 dias para a eleição, arrisco-me a dizer que a segunda hipótese é a que vai se concretizar. A grande indignação da sociedade contra os desmandos da classe política não vai ter resultado efetivo nas urnas. No Piauí, passando por municípios do interior, o que vemos são exatamente as mesmas caras adesivadas em carros, pregadas em janelas e paredes. Os mesmos caciques continuam a ser protagonistas como sempre foram, revelando que a indignação de muitos não resiste a um jingle bonito de campanha.

Na eleição para deputado estadual e federal, principalmente, basta sair às ruas ou andar pelos rincões desse Estado para ver que está exatamente tudo como antes. E não vale dizer que a culpa é dos eleitores com pouca instrução. Pelo contrário, boa parte dos que encampam e movimentam as campanhas de políticos tradicionais é composta por jovens com formação, justamente aqueles que vivem criticando os políticos nas redes sociais. Muitos deles são os mais engajados na reeleição de raposas velhas e conhecidas.

Renovação na Assembleia deve ser pequena (Foto: Jailson Soares | PoliticaDinamica.com)

O que se nota é que a influência de líderes políticos nos municípios continua, de certo modo, semelhante ao que sempre foi para os cargos proporcionais. Muitas pessoas vão votar no candidato a deputado do cacique político local. Uma boa parcela de jovens “informados” vai sair da capital e chegar nas suas cidades de origem para votar nos mesmos de sempre, conforme influência de algum político do lugar. Com isso, a revolta que terá reflexo nas urnas será de uma pequena minoria, infelizmente.

Na Assembleia Legislativa do Piauí e na representação do estado na Câmara Federal, a renovação tende a ser muito pequena. E se ela vai ser pequena é porque a maioria vai votar exatamente nos mesmos. Para os cargos de senador e governador, a realidade é um pouco diferente, pois a influência de líderes locais na conquista [e até na compra] de votos para cargos majoritários é bem menor. Para esses cargos, quem é mal visto pela opinião pública não pode contar muito com o socorro de prefeitos, ex-prefeitos ou vereadores.

Plenário da Assembleia Legislativa do Piauí (Foto: Jailson Soares | PoliticaDinamica.com)

O fato é que figuras que fizeram da política uma profissão seguem sendo protagonistas nesta eleição mesmo após a crise de credibilidade que se acometeu sobre a classe política do país. Na prática, a revolta quase que generalizada da população não tem sido sentida na hora mais importante, uma vez que pouquíssimos nomes novos despontam com alguma chance de vitória neste pleito. A maioria da população que diz abominar a corrupção segue rejeitando nomes novos ou pobres. Se for as duas coisas, pior ainda.

Para não ser cético demais, ainda vale alimentar um fio de esperança de que essa percepção se revele equivocada quando as urnas forem abertas no dia 7 de outubro. No entanto, o que se vê claramente é que tudo segue como dantes no quartel de Abrantes.

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