TETO QUE NÃO DÁ SOMBRA

Partidos renegam nomes com grande expectativa de votos (Foto: Nelson Jr/TSE)

Que a política é dinâmica, todo mundo sabe. Mas às vezes esse dinamismo leva à situações um tanto embaraçosas e que vão contra a própria lógica da política. Um dos exemplos disso é o tal “teto de votos” que muitos partidos estão levando em conta na hora de montar suas chapas proporcionais. A lógica do teto pode até ser uma estratégia ideal para algumas legendas, mas desprestigia líderes e nivela a política por baixo.

Antes, todo partido queria nomes que fossem bons de voto, figuras de peso capazes de conseguir expressivas votações. Era como um time de futebol que não media esforços para contratar um craque capaz de desequilibrar as partidas de futebol. Na política, a lógica do teto adotada por muitos partidos faz com que os “craques” não tenham valor e sejam preteridos em detrimento de “jogadores medianos” que não desequilibram.

Faltando um ano para as eleições municipais, alguns partidos não aceitam políticos com expectativa de obter grandes votações e muitas vezes adotam como critério uma “previsão de votação” mais ou menos comum para todos seus candidatos. Se um nome de tradição quiser entrar na chapa proporcional, é rejeitado e visto como alguém que vai apenas usar os outros de escada. Quem tem eleição certa não é bem-vindo.

Usando novamente o exemplo do futebol, é como se o craque não fosse bem-vindo porque ele vai fazer todos os gols da partida e os outros jogadores perderiam o protagonismo. Em Teresina, alguns partidos, sobretudo uns pequenos ou medianos, não querem líderes que cheguem com expectativa de votos acima de 4 mil, pois esse iria “papar” uma vaga. Assim, querem formar chapas proporcionais com nomes nivelados, por baixo, diga-se.

Na Câmara de Teresina, alguns vereadores encontram dificuldades para pleitear filiação em determinados partidos (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)

Na política, o comum sempre foi ter um piso e não um teto para se pleitear candidatura. Hoje, essa lógica parece estar invertida. A tal estratégia do teto de votos não só desprestigia líderes com atuação reconhecida como também impede que novas lideranças de peso despontem e façam história na política. Ao nivelar as chapas por baixo e renegar quem tem muito voto, os partidos dificultam a formação de grandes homens públicos.

A lógica do teto é tão controversa que o sujeito que se beneficia dela hoje pode ser penalizado por ela amanhã. Basta refletir: se um político inexpressivo se elege nessa estratégia, faz um grande mandato e se torna um líder de peso na política, é bem capaz de na eleição seguinte ele ser renegado em determinados partidos por ser considerado um “figurão”. Ou seja, a lógica do teto é inimiga de quem já é grande e de quem pode crescer.

Além do mais, cabe chamar atenção para outro ponto nessa história. Se um líder político possui expectativa de obter uma grande votação, é porque, querendo ou não, existe algum reconhecimento pela atuação e pelo trabalho dele. Ao preterir nomes de peso, os partidos que adotam a lógica do teto de votos ignoram esse reconhecimento popular. É como se eles não quisessem lideranças políticas que o povo gostaria de eleger novamente.

É claro que todo partido tem o direito de adotar a estratégia que quiser numa eleição proporcional, mas preterir grandes lideranças por conta de um teto eleitoral é um tanto controverso. Em outros tempos, nomes expressivos eram disputados por todos os partidos. Para os pequenos então, ter figurões era um sonho. Hoje, a realidade é outra. É como se o um clube da segunda divisão do Brasil não quisesse um craque europeu.

A política é mesmo dinâmica.

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