QUANDO A CONTRADIÇÃO ENFRAQUECE A RENOVAÇÃO

Ciro, Assis, Hélio e Júlio pregam renovação (Fotos: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)

Ao longo do processo eleitoral para a mesa diretora da Assembleia Legislativa do Piauí, temos visto deputados e líderes políticos que defendem o nome de Hélio Isaías (Progressistas) falarem exaustivamente na necessidade de renovação e de alternância no poder. Argumentam que o atual presidente e candidato à reeleição Themístocles Filho (MDB) está no posto há 14 anos, ou seja, são sete mandatos consecutivos como presidente daquela casa.

De fato, a sociedade brasileira [e aqui me incluo] cobra renovação e alternância de poder. Também avalio que não é razoável um único deputado ficar tanto tempo no comando da Assembleia, mas é preciso chamar atenção para um fato. Quando eu e grande parte da sociedade defendemos alternância de poder, creio que o fazemos para todas as esferas. Logo, não é o caso dos políticos apoiadores do simpático e sorridente deputado Hélio Isaías.

O grupo que defende e briga pelo nome de Hélio como presidente da Assembleia é o mesmo que integrou o gigantesco bloco de apoio à reeleição do governador Wellington Dias (PT), dando a ele o quarto mandato como chefe do Executivo estadual e permitindo que o petista governe o Piauí pelo período de 16 anos. Ou seja, os que tanto cobram renovação porque Themístocles comanda a Alepi há 14 anos deram a Wellington dois anos mais que isso.

É verdade que quem consagrou Wellington nas urnas por quatro vezes como governador foi também a maioria do povo do Piauí, eleitores que votaram e exerceram sua condição cidadã. Logo, da mesma forma, os eleitores da Alepi [deputados] têm votado e elegido Themístocles seguidamente. A alternância de poder, repito, é necessária na democracia, mas os deputados que defendem Hélio Isaías talvez sejam os menos adequados para usar esse argumento.

Themístocles comanda a Alepi há 14 anos (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)

O Piauí possui obras paradas ainda da primeira gestão de Wellington Dias. No ano eleitoral, operações policiais escancararam problemas graves no estado, entre eles desvios superiores a R$ 120 milhões no transporte escolar enquanto milhares de crianças não podiam frequentar as aulas no interior do Piauí. Houve até morte de servidor público que teve atendimento negado porque o plano de saúde do estado estava com repasse atrasado.

Apesar disso, os defensores da alternância de poder e da renovação reverberaram de norte a sul que Wellington tinha que ficar mais quatro anos no poder. Opções para mudar? Tínhamos! Tinha ex-juiz, tinha advogado, tinha médico, tinha publicitário, tinha professor, tinha engenheiro agrônomo. Mas os que hoje defendem a alternância de poder na Assembleia Legislativa escolheram continuar com o mesmo modelo testado desde 2003.

Não estou julgando a gestão do governador Wellington Dias, um ícone da política piauiense, quatro vezes eleito legitimamente no primeiro turno, um sujeito de habilidade política incomum. Suas gestões tiveram muitos feitos positivos, sim! O que quero é tão somente dizer que o discurso da alternância de poder como maior trunfo para derrotar Themístocles é bastante contraditório para uma parcela daqueles que o fazem. A disputa na Alepi é salutar [eis aqui um cara que desconfia de consensos], mas ver esse discurso é algo desarrazoado.

Assis é o maior defensor de Hélio Isaías (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)

A contradição é tamanha que acontece numa mesma entrevista. Por exemplo: o deputado federal e presidente do PT, Assis Carvalho, diz que é inaceitável Themístocles querer ficar mais dois anos no comando da Alepi depois de 14 anos na presidência. Em seguida, defende o nome de Hélio e argumenta que ele sempre foi aliado de Wellington Dias, tendo ficado ao lado do petista nesses últimos 16 anos em que ele reinou na política piauiense. Perceberam?

A conclusão a que se chega é que o discurso dos políticos que defendem Hélio Isaías precisa mudar para não configurar um contrassenso. Eles devem atacar pontos das gestões de Themístocles, apontar falhas [elas existem aos montes] e apresentar propostas de melhorias para o parlamento. Mas deixem que o cidadão comum fale de renovação e alternância de poder, porque vocês, nesse contexto, não são os mais adequados para falar disso.

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