POR QUE NÃO DEVEMOS COMEMORAR A PRISÃO DE LULA?

Ex-presidente do Brasil deve se entregar à Polícia Federal (Foto: Nelson Almeida/AFP)

Antes de mais nada, preciso destacar que esse texto não entra no mérito se Lula é culpado ou inocente, nem se a decisão que o mandou prender é justa ou injusta e muito menos se o ex-presidente é ou não perseguido. Não se trata disso aqui! O fato é que temos um ex-chefe de Estado condenado pela Justiça do nosso País, com ordem de prisão já expedida. Temos, portanto, um ex-presidente da República entrando na cadeia para cumprir sua pena.

Esse episódio inédito na história do Brasil tem despertado as mais diversas reações país afora: na imprensa, nas rodas de conversa e nas redes sociais. Muitos, inclusive, comemoram a ida de Lula para a cadeia. Em vários lugares, até fogos de artifício são queimados para celebrar o feito. É certo que devemos comemorar quando a Justiça é realizada, afinal, somos um povo sedento demais por justiça. No entanto, essa situação como um todo é para se lamentar. E muito!

Quando um chefe de Estado ou uma grande autoridade pública é presa, temos um claro sinal de que estamos atolados num mar de lama. É óbvio que a punição e o fazer Justiça são caminhos para sair desse atoleiro, mas isso não oculta o tamanho do abismo em que estamos enfiados. Também devemos lamentar quando vemos que o ex-chefe de Estado preso é alguém que um dia já reuniu todas as condições para não protagonizar esse tipo de episódio.

Luiz Inácio Lula da Silva saiu do sertão de Pernambuco, onde passou fome e enfrentou a seca e a pobreza. Como milhares de nordestinos, pegou um pau de arara em busca de melhores condições de vida no Sudeste, região onde galgou espaços com muita luta e resistência até chegar ao mais importante posto da República. No comando do País, ninguém pode negar que ele deu atenção especial aos mais pobres e proporcionou mudança de vida para muita gente.

Fome Zero, Bolsa Família, ascensão dos mais pobres, luz para quem vivia sob o candeeiro, moradias e tantas outras transformações que Lula provocou ao longo dos seus dois mandatos são inapagáveis. A biografia dele, querendo ou não, gostando dele ou não, é uma das mais brilhantes desse país. E é justamente por isso que sua prisão não deve ser comemorada. Porque mesmo que a Justiça tenha sido feita com a mais alta correção [e repito, não entro aqui nesse mérito], a prisão de Lula representa uma decepção no país.

Lula, com sua história, popularidade e seus feitos poderia ter se dado ao luxo de ter sido diferente. Pelo menos em muitos aspectos, não foi. É também por isso que não devemos comemorar. Nesse episódio não se deve usar apenas as palavras justiça, injustiça, perseguição ou golpe. Acima de todas elas, está a decepção. O governo petista como um todo também errou feio, repetiu práticas da política retrógrada que tanto combateu. A prisão de Lula simboliza uma derrocada não só dele, mas uma derrocada de esperança. Por isso, não se deve comemorar!

Comemorar a prisão de Lula ou de qualquer grande autoridade que, no entendimento da Justiça, causou um mal ao país, é o mesmo que comemorar a expulsão de um jogador de futebol por entrada violenta no adversário. A punição todos cobram quando isso acontece e, de fato, o árbitro tem que expulsar. É o correto a se fazer! Está na regra. No entanto, quando um atleta é expulso por ação violenta o jogo perde brio, pois a violência não devia existir ali. Ver um jogador agredindo outro é um fato a se lamentar no futebol. Ver uma autoridade que era esperança ser presa acusada de corrupção é um fato a se lamentar numa Nação.

É por isso que não vejo motivos para se comemorar os passos de ex-presidente rumo à cadeia. Podemos [e devemos] até enaltecer a Justiça por tido a coragem de punir uma figura de tamanha envergadura, algo que não se via antes nesse país acostumado com a impunidade. Mas o contexto geral nos causa mesmo é decepção e vergonha. Será muito melhor o dia em que poderemos comemorar o fato de nossos políticos não serem protagonistas por escândalos de corrupção, por prisões, por mensalões, por helicópteros de cocaína e ou por malas de dinheiro. No dia em que essa mazela política pelo menos diminuir, aí sim, já teremos algo a comemorar.

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