O PADRE E A EMERGÊNCIA

Padre Geraldo Gereon tem atuação reconhecida no Piauí (Foto: Reprodução/TV Globo)

Nesse tempo de pandemia do novo coronavírus, os decretos de emergência nos estados e nos municípios se tornaram ainda mais corriqueiros. A decretação, como todos sabem, facilita a adoção de medidas de forma mais rápida e com menos burocracia, mas por outro lado também torna mais fácil as falcatruas por parte de gestores públicos mal intencionados.

No entanto, essa história de decretos de emergência não se resume apenas à pandemia. Muitos gestores usam desse artifício em outras situações, como a seca, por exemplo. E muitas vezes, a decretação chama bastante atenção. Foi o que aconteceu em maio deste ano no município de São Francisco de Assis do Piauí, a 490 km de Teresina, no semiárido do Estado.

Lá, o padre alemão naturalizado brasileiro Geraldo Gereon, que há mais de 50 anos atua no Piauí e desenvolve ações de auxílio aos sertanejos contra os efeitos da estiagem, achou estranho um decreto de emergência assinado pelo prefeito Josimar João de Oliveira (PP).

O gestor decretou emergência alegando que esse ano choveu muito pouco em São Francisco de Assis e por isso houve redução drástica nos mananciais da região. Segundo o decreto, a água acumulada este ano é insuficiente para atender a demanda das famílias.

O prefeito ainda alega que o período chuvoso muito fraco causou danos humanos, ambientais, econômicos e sociais em todo o município. Ele diz que os recursos financeiros à disposição da prefeitura são insuficientes para prestar socorro aos moradores.

Porém, padre Geraldo contesta as afirmações. Em áudio que circulou na região, o religioso diz que o período chuvoso de 2020 em São Francisco de Assis do Piauí foi um dos melhores dos últimos 20 anos. Caiu tanta água que os pequenos produtores rurais colheram bastante e todos os mananciais transbordaram. Teve açude que se rompeu.

Para mostrar que o inverno foi bom, o padre citou como exemplo a barragem de Pedra Redonda, que fica na região. O açude com capacidade para 216 milhões de metros cúbicos de água sangrou pela terceira vez em 20 anos, o que demonstra que o período chuvoso de 2020 foi um dos mais intensos. Ainda conforme o sacerdote, choveu na região até o começo de junho.

Mas quem lê o decreto assinado pelo prefeito imagina uma realidade totalmente diferente. Na condição de religioso, o padre advertiu que o santo São Francisco de Assis não está satisfeito com essa atitude. Em vez de agradecer ao santo pelo bom período chuvoso de 2020, o gestor fez foi decretar emergência alegando uma seca que não existiu.

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