O ÔNUS E O BÔNUS DE TER CIRO

Muito influente, senador e presidente do Progressistas é cobiçado por uns e rejeitado por outros (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)

A possibilidade de rompimento do senador Ciro Nogueira (Progressistas) com o governador Wellington Dias (PT) é, volta e meia, assunto na cena política piauiense. Apesar de ambas as partes garantirem que vão estar juntas na eleição, os buchichos de bastidores teimam em insistir na chance do afastamento entre eles. É público e notório que essa relação teve vários estremecimentos nos últimos anos, mas, aos trancos e barrancos, eles permanecem unidos.

O senador é atualmente um dos políticos piauienses mais influentes a nível nacional. Talvez o mais influente! Tê-lo como aliado, somada à grande quantidade de prefeitos que o partido dele tem no Piauí [é o que mais tem gestores], é um trunfo para Wellington Dias, tanto do ponto de vista da governabilidade, uma vez que a influência de Ciro na liberação de empréstimos salvou o governo petista do caos, como do ponto de vista eleitoral no interior.

Mas, e se acontecesse uma saída de Ciro da base do governo? Para a coligação do governador não seria de todo um mal. Numa eventual "perda" do senador, os petistas ganhariam um "excelente adversário" para a campanha. Ainda queixosos e ressentidos com o impeachment de Dilma em 2016, quando Ciro foi grande apoiador, a militância e algumas lideranças do PT não gostam dele. Isso é fato! Somado a isso, Ciro é o mais destacado piauiense nas citações da Lava Jato, outro fato que seria um "prato feito" para a militância petista.

Ocorre que, mesmo não gostando de Ciro, a maioria dos segmentos do PT se vê obrigada a engolir seco as manchas que o senador carrega, afinal, estando no palanque de Wellington, ele se incorpora ao mesmo projeto petista. Serão todos um só! Tendo Ciro abraçado com o governador, a militância não vai poder gritar "golpista" e nem fazer propaganda de que o senador é o piauiense campeão na Lava Jato. Já como adversário, seria perfeito.

Uma coisa não podemos negar: o PT sabe fazer zoada. Num estado onde a maioria da população simpatiza com Lula e tem apego aos feitos sociais do petista, não seria difícil colocar Ciro numa situação complicada perante o eleitorado, repito, principalmente no interior do estado. Ciro é o tipo de figura que o PT adoraria ter como alvo na oposição, para bater sem dó e elencar motivos para atacá-lo. Mas, nesse caso, a figura está do lado de cá.

Quem circula no meio político sabe que grande parte da militância petista não deve votar em Ciro, mesmo ele estando no palanque de Wellington. No entanto, essa será apenas a manifestação enquanto eleitor na cabina de votação, sem prejuízos maiores perante a massa eleitoral. Já se o senador estiver, por exemplo, num palanque tucano durante a campanha, a coisa muda substancialmente. Ciro seria alvo impiedoso e, de tabela, atrapalharia e muito a oposição. Como diz o ditado, ele cairia e ainda derrubava os outros.

Na oposição, também existe essa preocupação. É sempre bom ter aliados, principalmente quando sua vinda representa uma baixa nas trincheiras do oponente. Mas, nesse caso, seria um ganho e uma perda ao mesmo tempo. E o mais grave: ainda não se pode, nesse momento, dimensionar se é maior o ganho ou a perda. Na oposição, há quem defenda que Ciro fique mesmo com Wellington, pois a mancha da Lava Jato estaria toda no palanque do petista.

Diante disso, conclui-se que Ciro é um dilema político. Todos o querem por alguns motivos, mas gostariam de não tê-lo por outros motivos. Com relação ao senador, uns defendem o "venha a nós o vosso reino", já outros preferem o "quem pariu Mateus, que balance Mateus".

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