EM BRASÍLIA E NO SERTÃO: DUAS FILAS DIFERENTES

Fila de sertanejos dobrou quarteirão no interior do Piauí (Foto: Manoel de Sá)

Por Gustavo Almeida

Os últimos meses na capital federal têm sido de muita turbulência. Sai presidente, entra presidente. Assumem ministros, caem ministros. A fila tem andado bastante pelas bandas do Planalto Central e o povo assiste, parte incrédula, outra não, a agonia que vive a nação.

Enquanto o ritmo é frenético em Brasília, filas que também deveriam andar rápido, ou nem existir, caminham devagar aonde o povo mais precisa: nos rincões do país. Longe da celeuma da capital federal, na manhã de uma sexta-feira, 25 de novembro de 2016, centenas de sertanejos não tiveram tempo de assistir aos noticiários que mostravam a queda do ministro Geddel. Pelo menos naquela manhã não! É provável que viram de tardezinha ou já à noite.

Enquanto políticos inescrupulosos, movimentos partidários disfarçados de populares e Poderes se engalfinham, existe gente que precisa viver, batalhar e enfrentar o sol abrasador do sertão em busca do pouco, mas necessário. Longe dos milhões do Petrolão, dos rios de dinheiro do metrô paulista e das fartas contas da distante Suíça, há quem lute pelo pouco após ter perdido o pouco que tinha.

A fila da foto acima se formou nesta sexta (25) na pacata cidade de Dom Inocêncio, semiárido do Piauí. O motivo: sertanejos que perderam o plantio foram pegar o boleto para pagarem, na Caixa Econômica Federal, R$ 17,00 da contrapartida do Garantia Safra 2016/2017. É dando que se recebe. Nesse caso, pagando! O sofrimento no sol e a fila gigantesca é para que eles possam receber o irrisório valor de R$ 850 dividido em cinco parcelas, por conta da perda de pelo menos 50% de tudo o que plantaram na esperança de colher.

Não houve tempo para discutir as intenções do Calero ao entrar num gabinete e gravar conversas com ministros e o presidente da República. Não houve tempo de perguntar sobre as joias da mulher do Cabral e nem mesmo para se questionar a legalidade da prisão do Garotinho. Nos confins de um país combalido pela corrupção, há prioridades como a de encarar o sol para buscar o pouco, antes que alguém lhes tirem esse pouco também.

Há quem possa me questionar: mas eles não se preocupam com os rumos do país? Não discutem a atual situação? Discutem sim, se preocupam sim (talvez até mais do que muitos “politizados” que erguem cartazes por aí). Mas antes de somente berrar contra os saqueadores da República, eles precisam tocar a vida honesta, limpa e dura que encaram nas brenhas do sertão. Porque para o trabalhador desse país a fila anda em ritmo devagar e tempo é o que não se pode perder.

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