É PRECISO APRENDER COM AS TRAGÉDIAS

Cenário de destruição no Parque Rodoviário (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)

Teresina amanheceu entristecida nesta sexta-feira (5) com a enxurrada que deixou duas pessoas mortas, outras feridas e dezenas de famílias desabrigadas no Parque Rodoviário, uma comunidade carente da Zona Sul. Em todo canto, não se fala em outra coisa senão nas cenas de destruição e tristeza deixadas pela força da água no local. Com chuvas acima da média na cidade, um ponto que barrava água se rompeu e provocou essa triste situação.

Depois da tragédia, surgem os mais variados comentários, suspeitas, conjecturas, as promessas, a presença de vários políticos, a solidariedade e a assistência. Surge também, por parte de muitos, a responsabilização primária do poder público. Quando se trata de uma tragédia alimentada por intempéries é preciso ter cuidado ao apontar o dedo, no entanto, essa cautela não pode ser motivo de se fazer vistas grossas para omissões e negligências.

Esse tipo de acontecimento, na maioria das vezes, atinge comunidades carentes e os penalizados com a "perda de tudo" são, quase sempre, aqueles que já não têm “quase nada”. As condições muitas vezes precárias de moradia em zonas menos privilegiadas costumam passar despercebidas durante todo o tempo. Essa “vista grossa” só é interrompida justamente quando acontecem tragédias como a que ocorreu no Parque Rodoviário.

Rastro de destruição e mortes no local (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)

Independentemente das responsabilidades [que precisam ser apuradas], é preciso que se aprenda com as tragédias. O poder público não pode somar esforços e formar forças-tarefa apenas após os acontecimentos. É preciso agir e ser inteligente para garantir que cenas fatídicas como essas não se repitam. Tão importante quanto botar o pé na lama para ver rastros de tragédias, é tirar a bunda dos gabinetes antes mesmo que elas aconteçam.

É óbvio que no momento da calamidade, o mais importante é a união de esforços e a determinação, por parte das autoridades e da própria sociedade, em oferecer a assistência necessária. Mas, apesar da triste lembrança, a tragédia do Parque Rodoviário vai passar e as perguntas que ficam são: E as próximas? Onde vão acontecer? Como vão acontecer? Por que vão acontecer? Para todos que se entristecem hoje, é preciso refletir sobre isso amanhã.

O que o Piauí aprendeu com a tragédia de Algodões, ocorrida há 10 anos no município de Cocal? É verdade que chuvaradas acima da média ou mesmo secas severas provocam danos que estão além da capacidade humana de impedir, mas muitas tragédias e sofrimentos a que nosso povo carente está sujeito podem ser evitados ou, pelo menos, minimizados. Em muitas delas, pode até não haver culpados, mas omissão e negligência deixam suas pegadas.

Rastro de destruição deixado pela água (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)

As condições precárias de determinadas áreas periféricas ou em zonas rurais país afora só costumam ser vistas em épocas de eleição, quando políticos aparecem para pedir voto, ou em tempos de tragédia e sofrimento, quando vão prestar solidariedade e anunciar assistência. Repito: é essencial que os representantes do poder público deem as caras nesses momentos de aflição, mas não devem, jamais, aparecer somente nessas ocasiões.

O poder público precisa entender que, quando acontece uma tragédia, ele ganha mais de um problema, pois, além de agir diante dela, ele precisará evitar que outras também aconteçam. Garantir boas condições de moradia, levar infraestrutura adequada e traçar medidas eficazes para melhorar a vida das pessoas já seria um bom começo para evitar muitas das fatalidades que temos visto, não apenas no Piauí, mas em diferentes partes do Brasil.

Moradores procuram objetos nos escombros (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)

Sabe-se, também, que a população precisa colaborar e evitar a formação de certos cenários propícios à ocorrência de tragédias. No entanto, cabe ao Poder Público oferecer meios para que essa colaboração seja viável para todas as pessoas, principalmente aquelas que vivem em condições de pobreza nas zonas mais desfavorecidas. O que se nota é que pouco temos aprendido com as tragédias e, enquanto não aprendermos, vamos continuar a conviver com elas. Isso, definitivamente, não é o que queremos!

Comente aqui