ATÉ ONDE VAI O DESLEIXO?

Governador tem sido cobrado por pacientes (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)

Ser governante não é uma tarefa fácil. Qualquer cidadão com um nível mediano de conhecimento sabe que um gestor público esbarra em dificuldades e precisa enfrentar desafios e burocracias. Isso não tira, obviamente, o direito da população de cobrar, e exigir que o Poder Público cumpra com suas obrigações e trabalhe para que existam avanços, melhorias, etc. Apesar de tudo isso, pode-se cravar: governar nem sempre é uma tarefa fácil.

Dito isso, é importante constatar que existe grande diferença entre situações impostas pelas dificuldades e aquelas que são puramente desleixo, descaso e, em muitos casos, até falta de sensibilidade humana. O que mais temos visto são situações aonde não cabe justificativa plausível senão a constatação do desleixo de quem governa. Isso tem acontecido em vários lugares, nas diferentes regiões do país. No Piauí, infelizmente não tem sido diferente.

Aqui, vemos situações que causam indignação e revolta. São casos onde a gente se pergunta: será que isso não toca o coração de quem governa? Esta semana, a Associação dos Diabéticos do Piauí (Adip) denunciou que milhares de diabéticos de todo o estado estão sofrendo com a falta de insulina. Conforme a entidade, o hormônio falta há 40 dias na Farmácia de Medicamentos Excepcionais, para desespero de quem precisa dele para viver.

Numa série de vídeos postados nas redes, pacientes clamam pela regularização da oferta do produto. Em um dos vídeos, a pequena Ana Luísa, de apenas 8 anos, faz um apelo ao governador Wellington Dias (PT). "Insulina é vida. Por favor, governador, do fundo do meu coração, nos dê insulina". A descontinuidade no fornecimento impede que os portadores de diabetes tipo 1 façam o tratamento adequado. No vídeo, a garotinha lembra que muitos pacientes não têm condições de adquirir insulina na rede particular.

Esse desleixo com a vida de quem depende do Poder Público não ganha guarida na alegação de dificuldades, por mais que queiram emplacar essa desculpa. No último dia 18, um idoso morreu no Hospital Tibério Nunes, na cidade de Floriano. Conforme divulgado pela imprensa, ele esperava há 12 dias para fazer um cateterismo. A família tentou de todo modo conseguir o procedimento, mas o idoso só resistiu a 12 dias de descaso e acabou morrendo. Pacientes renais também têm lutado pela vida diante da falta de medicamentos na rede pública.

Situações como essa não podem ser admitidas. Garantir os direitos dessa parcela da sociedade deve ser o mínimo, o trivial de qualquer governante. Quando um gestor postula um cargo público, é preciso compreender que se está postulando cuidar de vidas, de seres humanos. Para esse tipo de situação, a burocracia é a única justificativa que não interessa. Diante de realidades assim, é preciso se antecipar a tudo, porque vidas estão em jogo.

Não fazer o Porto de Luís Correia, apresentar um arremedo de aeroporto internacional ou deixar de concluir uma grande obra de infraestrutura qualquer, ainda que seja uma vergonha, pelo menos não afeta tão direta e decisivamente a vida de uma pessoa. Mas, deixar de ofertar medicamento essencial para quem nem sempre pode comprar na rede privada é uma constatação irrefutável do desleixo e da irresponsabilidade, seja lá quem for o gestor.

Esse desleixo e falta de sensibilidade não pode prosperar em nenhum lugar sério, mas no Piauí, infelizmente, temos visto. Diante disso, só nos resta perguntar: até onde vai o desleixo?

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