A FALTA DE CORAGEM NUNCA GANHOU UMA ELEIÇÃO

Chegar ao governo depende de coragem (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)

No ano de 2017, o assunto mais comentado no meio político foi a eleição de 2018. Falou-se bastante sobre os possíveis candidatos, sobre montagem das chapas, a reeleição do governador e as alianças visando o pleito do próximo ano. Do lado do governo, uma verdadeira "Arca de Noé" carregada de aliados que se agarram no poder. Do lado da oposição, um grupo mais reduzido que começou a fazer barulho no segundo semestre.

O terceiro governo de Wellington Dias (PT) não teve o mesmo rendimento dos dois primeiros, quando administrou alinhado com o governo federal. O petista enfrenta dificuldades e tem feito mais política do que gestão. A crise que atinge o país, com queda de repasses para estados e municípios também o prejudicou. Como resultado, um governo de poucas obras e sem nenhuma grande novidade. Do ponto de vista político, esse fator seria [e na verdade, é] um ponto positivo para a oposição.

No entanto, o modo de se fazer política parece ter mudado nos últimos anos, principalmente no Piauí. Hoje em dia, as lideranças que despontam como possíveis nomes para uma eventual disputa só aceitam o desafio se for numa chapa considerada fortíssima, com o peso de grandes nomes e com pesquisas extremamente favoráveis. O que se nota claramente é que falta coragem para desbravar uma campanha. Se o sujeito está 20 pontos atrás nas pesquisas, ele desiste de entrar na disputa.

Dessa forma, dificilmente um governo, seja de onde for, será derrotado. A política carece de homens e mulheres de coragem, que entrem numa disputa para fazer acontecer, para tentar reverter situações, para mostrar a existência do oposto. Com um sistema político de barganhas, uso desenfreado da máquina pública e distribuição de cargos a aliados, todo governo se faz forte politicamente. Para enfrentá-lo, é preciso ter coragem e não necessariamente uma chapa que já nasça equivalente à sua força.

Mão Santa saiu vitorioso em 1994 (Foto: Gustavo Almeida/PoliticaDinamica.com)

No próprio estado do Piauí, se não fosse a audácia de certos personagens, nunca teríamos tido surpresas eleitorais. Em 1994, o quase desconhecido Mão Santa derrotou um grupo considerado imbatível, onde estavam os mais expressivos caciques da política piauiense. Se naquele ano ele tivesse levado em conta o cenário e as pesquisas eleitorais para balizar o lançamento da sua candidatura, certamente teria "corrido com a sela". Mas a audácia e a coragem o fez sair vitorioso numa eleição que entrou para a história.

Dos 148 prefeitos piauienses da época, Mão Santa iniciou a campanha com o apoio de apenas três. Átila Lira, seu oponente, era o candidato do governo. Ainda assim, Mão Santa saiu vitorioso! Seu grupo era considerado tão inferior que a coligação dele só elegeu dois dos 10 deputados federais e seis dos 30 deputados estaduais. Nos tempos atuais, a maioria das lideranças políticas é adepta dos famigerados “blocões”. Só entram numa disputa se for com o apoio de um forte leque de aliados que lhe dão sustentação.

Wellington também venceu eleição improvável (Foto: Gustavo Almeida/PoliticaDinamica)

O próprio Wellington Dias (PT) também é fruto da coragem. Numa situação um pouco mais favorável politicamente do que a campanha de Mão Santa em 1994, o petista aceitou enfrentar Hugo Napoleão em 2002 contra uma Arca de Noé ainda maior do que a que ele dirige atualmente. Poucos acreditavam no sucesso dele, que iniciou a campanha muito atrás nas pesquisas e com tacanho apoio político. Ao final, derrotou o então governador em primeiro turno em mais uma eleição que entraria para a história.

O último exemplo em solo piauiense é o do atual senador Elmano Férrer (PMDB). Em 2014, a disputa envolvia uma única vaga para o Senado e o franco favorito era o então governador Wilson Martins (PSB), que deixou o cargo para concorrer a senador. Todos esperavam que Wilson ia “tratorar” o veín, mas o cenário foi virando aos poucos e Elmano conseguiu uma vitória épica, fazendo seu adversário entrar para a história como o primeiro governador a deixar o cargo e não se eleger senador logo em seguida.

Elmano Férrer na campanha de 2014 (Foto: Gustavo Almeida/PoliticaDinamica.com)

Os exemplos acima nos mostram que em política nem sempre um candidato tem que começar a disputa equiparado à força do seu adversário, mas que precisa iniciar com coragem. Político que só aceita concorrer se estiver colado com o seu oponente nas pesquisas, dificilmente chegará a algum lugar. A política é, acima de tudo, a arte de ter coragem, esperança, vigor e determinação para mudar situações e reverter cenários, inclusive os mais adversos.

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