REPAROU QUE TÁ TODO MUNDO GRIPADO?

A realização de festividades de réveillon no litoral do Piauí se mostrou um equívoco sanitário em meio à pandemia de Covid-19. Os organizadores insistiram em promovê-las e o Governo do Estado, de quebra, autorizou as festas (Decreto Nº 20.439 de 28 de dezembro de 2021), estimulando aglomerações desnecessárias mesmo com a eminência da variante Ômicron e o surto de Influenza A, que despontava em todo o país ainda no fim de 2021. 

Milhares de pessoas aglomeradas em Barra Grande-PI: é enorme a quantidade de gente que voltou do litoral com sintomas de síndrome gripal após as festas de fim de ano (foto: reprodução)

Tá todo mundo gripado, e não é à toa. A conta pública das festas de fim de ano está chegando e pode sair cara.

EXPLOSÃO DE CASOS

Segundo o Painel Epidemiológico de Covid-19 da própria Secretaria de Saúde o Piauí, o número de novos casos confirmados está numa tendência de alta, mesmo com possibilidade de subnotificação, uma vez que pessoas infectadas pelo coronavírus podem confundir seus sintomas com os de infecção pelo vírus da gripe. 

Nos cinco primeiros dias de 2022, por exemplo, o município de Cajueiro da Praia (onde está localizada a praia de Barra Grande, principal destino turístico do Piauí hoje) já registrava 300 casos positivos para Covid-19. Hoje (10), a Secretaria de Saúde Municipal de lá informa que nas duas últimas semanas já foram registrados mais casos de moradores infectados do que nos anos de 2020 e 2021 juntos


O pior ainda pode estar por vir. Pelo menos é o que diz o infectologista Emídio Matos, doutor em Ciências Biomédicas e membro do Núcleo de Estudos em Saúde Pública da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Para ele, os casos de Covid-19 devem explodir na cidade nas próximas duas semanas em consequência das aglomerações do final do ano. “Daqui a duas semanas teremos um aumento muito grande no número de casos. As próximas duas semanas serão muito críticas em relação aos casos”, afirmou. Não é difícil imaginar que os casos também subam em Teresina, com o retorno de moradores da capital que curtiram as festividades no litoral.

Emídio Matos, infectologista: liberar festas no final do ano foi um erro do governo (foto: Roberta Aline | Cidadeverde)

O estudioso concorda que a autorização para a realização dos eventos ocorreu de forma equivocada, mas pontua que os dados retidos pelo Ministério da Saúde prejudicaram a avaliação do governo.

“Foi um erro, mas precisamos lembrar que tínhamos dados represados. Por um problema no Ministério da Saúde esses dados não estavam disponíveis. Se trabalhou às escuras. Certamente se esses dados estivessem disponíveis esses decretos seriam em outro sentido”, aponta Matos, atenuando o erro do Governo do Piauí.

O que não está sendo considerado nessa avaliação, contudo, é o fator político-eleitoral das decisões do governo.

2022 É ANO DE ELEIÇÃO

Se os critérios utilizados para confeccionar o Decreto Nº 20.439 fossem, de fato, apenas científicos, os mesmos parâmetros utilizados para cancelar os eventos públicos de réveillon deveriam justificar a proibição dos eventos privados. Não parece coisa aleatória que o governador Wellington Dias (PT) tenha utilizado de dois pesos e duas medidas nesse caso.

Proibir festas públicas e liberar festas privadas: na prática, não houve controle sobre aglomerações nas festividades do réveillon no Piauí (foto: Jailson Soares | PD)

Aglomerar, claro, é uma decisão pessoal. E cada um tem a responsabilidade de se proteger e evitar a contaminação de quem está ao seu redor. Por isso mesmo, bancar o isolamento social em Teresina e medias restritivas mais rígidas, vamos lembrar, custou boa parte da derrota do candidato do ex-prefeito Firmino Filho (PSDB) na capital em 2020. 

Mesmo sabendo que colocava em risco a campanha eleitoral de seu grupo político, Firmino manteve medidas restritivas e de isolamento social em 2020 em Teresina (foto: Jailson Soares | PD)

Assim, suspender eventos públicos foi uma tentativa de devolver à gestão de Wellington o discurso de proteção da população em tempo de pandemia após o fiasco da EXPOAPI. Ao mesmo tempo, liberar os eventos privados com um decreto cheio de brechas e sem fiscalização, foi um aceno para o empresariado e para o eleitor cansado das medidas protetivas ou que se posiciona contra elas. 

Malabarismo político é uma arte que o governador Wellington Dias domina.

Agora é esperar para ver como tudo vai estar no Carnaval.


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