"SETUT É QUEM MAIS LUCRA"

A CPI do Transporte Público realizou mais uma audiência nesta quinta-feira (24) desta vez com o depoimento polêmico do empresário Ramon Alves da empresa Timon City, que opera na cidade de Timon (MA), mas que também tem linhas por Teresina (PI) e reclamou que o Sistema da capital é blindado e sofre com os “coyotes”. Além dele, também prestaram depoimento o vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros de Teresina (Setut), Marcelino Lopes, e o dono da empresa Piauiense e representante do Consórcio Poty, Alberlan Euclides Sousa. Esse último já havia prestado depoimento à CPI no último dia 25/05.

De todos os depoimentos, o mais polêmico foi o empresário Ramon Alves, que, curiosamente, não faz parte do Sindicato das Empresas de Ônibus de Teresina (Setut) e diz que o sistema de Transporte de Teresina é blindado. “A licitação feita em 2015 blindou os empresários que operam aqui na capital por 30 anos. Veja que nenhuma empresa de fora conseguiu entrar pela licitação que garantiu as empresas que já operacionalizam por até três décadas e foi dividido o sistema entre os empresários”, ressaltou.

Ainda segundo o empresário, o objetivo da licitação na capital foi apenas para diminuir os custos das empresas. "As empresas dividiram a licitação entre eles em quatro consórcios e observe que as empresas que ficaram em cada consórcio são sediadas nas zonas que operam, evitando assim percorrem grandes distâncias, por exemplo, pra irem e voltarem às garagens", explicou Ramon.

COIOTES DANIFICARAM O SISTEMA

O empresário Ramon Alves ainda reclamou que desde 2015 operacionaliza transporte urbano na cidade vizinha de Timon, que tem linhas por Teresina, mas nunca conseguiu autorização para instalar a bilhetagem eletrônica na sua empresa. “Nunca aceitaram ou me autorizaram a ter a bilhetagem eletrônico, com isso, tive dificuldades no início, mas hoje continuamos fortes. A nossa empresa só recebe em dinheiro e, infelizmente, sem esse sistema não é possível a meia para estudante e outros benefícios aos usuários”, reclamou.

Porém, segundo Ramon, as vans de transporte alternativo na capital têm esse sistema. “O transporte alternativo da capital usa a bilhetagem e estranhamente atendem até 10 vezes mais usuários que os ônibus, que são três vezes maiores que uma van. “O que acontece é que um trabalhador recebe seu vale transporte no cartão e vende todos esses passes para um Coiote. Esse Coiote vende a bilhetagem eletrônica toda para um desses alternativos, sem que o usuário se quer ter usado o serviço. Ou seja, o sistema vende e compra o seu próprio serviço. Como é possível os alternativos terem mais usuários que os ônibus”, explicou Ramon Alves.

Logo em seguida, o representante do Consórcio Poty, empresário Alberlan Euclides Sousa, explicou que o Sindicato das empresas apenas controla a bilhetagem e não sabe se quer o número de alternativos na capital. “O Sindicato só coleta esses dados da bilhetagem, mas não se sabe o número de alternativos na cidade ou tem esse controle total”, justificou Alberlan.

Já em seu depoimento, o vice-presidente do Setut, Marcelino Lopes, esse problema do que chamam de “coiote” sempre existiu e não afeta o sistema. “Eu discordo que isso atrapalhe o sistema, isso é corriqueiro no Brasil inteiro. Eu moro em Teresina há 33 anos e a compra e venda de vales na capital é feito livremente no Centro. A prefeitura, inclusive, tem esse poder de fiscalizar in loco para averiguar qualquer problema que exista”, reforçou.

SUBSÍDIO E DÍVIDA

O vice-presidente do Setut, Marcelino Lopes, destacou que a dívida atual da Prefeitura com as empresas de ônibus é de cerca de R$ 32 milhões referentes a outubro/novembro de 2020 e de janeiro/maio 2021 que não foram repassados pelo subsídio. “Além dessa dívida, a Prefeitura só pagou R$ 5 milhões da dívida de R$ 26 milhões negociadas no período da pandemia do ano passado. Assim, fica difícil o sistema funcionar a contento com uma dívida tão enorme”, ressaltou.

Ainda segundo Marcelino, atualmente, o Setut mantém cerca de 140 ônibus circulando na capital. “A única saída que temos para contornar essa situação é o pagamento da dívida da Prefeitura. Mensalmente o prejuízo das empresas chega a R$ 2 milhões, isso sem falar das gratuidades e do 1/3 pago pela tarifa dos estudantes que não entram nessa conta. Se não houvesse esse subsídio contratual, a tarifa chegaria a R$ 6 reais, e o problema seria o mesmo do atual, visto que a população não iria optar pelo transporte público”, reforçou.

SETUT É EMPRESA QUE MAIS LUCRA 

O empresário Ramon Alves destacou que opera em Timon sem nenhum subsídio. “Eu consigo lá, porque aqui não conseguem. O Setut é a empresa que mais lucra no Piauí, as empresas de ônibus repassam 8% da renda bruta para o Sindicato, são ai mais de 500 mil mês para uma empresa pequena como é o Sindicato. A minha empresa em Timon, sem subsídio, tenho uma tarifa menor, uma frota mais nova e com ar condicionado, consigo ainda renovar minha frota, porque eles daqui de Teresina não conseguem”, indagou Ramon Alves.


Para o empresário, com o dinheiro que é gasto pela Prefeitura com as empresas de Teresina daria até para custear um transporte gratuito do Centro aos Terminais. “Com o dinheiro que é gasto a prefeitura poderia ter uma empresa municipal para fazer o transporte do Centro para capital com ônibus articulados e maiores levando a população até os terminais ou mesmo terceirizar para uma empresa e subsidiar só esse transporte. Já as empresas atuais poderiam fazer o transporte dos usuários dos terminais até os bairros, assim, eles teriam menos custo e a tarifa seria bem menor”, propôs o empresário Ramon.

O último a depor na CPI foi o vice-presidente do Setut, Marcelino Lopes, que rebateu as críticas de Ramon. “O empresário da Timon City disse que havia comprado 22 ônibus novos em 2015 e, mesmo assim, não quis concorrer na licitação que aconteceu aqui em Teresina, estanhamos isso, sobre o sistema da bilhetagem eletrônica, ele não pode usar porque o sistema é unicamente municipal e não interestadual”, finalizou.

REPACTUAR OU EXTINGUIR LICITAÇÃO

O relator da Cpi, vereador Enzo Samuel (PDT), disse que agora que está terminando a primeira etapa da CPI. “Aqui já ouvimos procuradores e ex-procuradores, empresários, funcionários do sistema, o Setut e devemos findar essa primeira etapa ouvindo a Strans. Depois disso, vamos analisar tudo, checar os dados e informações obtidas, se preciso ouvir novamente os depoentes ou mesmo convocar novos, para em seguida apresentarmos uma solução para esse problema do transporte público na capital. A CPI tem 120 dias, podendo prorrogar por mais 60, mas nós queremos terminar os trabalhos bem antes disso, porque tem também o recesso”, responde Enzo.

Questionado se o melhor é extinguir ou repactuar a atual licitação, o parlamentar reforça que o diálogo é a melhor solução. “Já pensou se extinguir uma licitação quem vai operacionalizar o sistema que já está ruim, será um caos ainda maior, teríamos desemprego em massa, a possibilidade de uma indenização volumosa a ser paga pela Prefeitura que demoraria anos na Justiça e afundamento ainda mais o sistema. Então, o melhor é apontar soluções como a CPI busca fazer e resolver através do diálogo”, afirmou Enzo.  

CÂMARA VAZIA

A Sessão desta quinta-feira (24) prevista para iniciar as 9h15, acabou com um atraso de pouco mais de 30 minutos para o primeiro depoimento. Porém, isso não foi o maior problema, mas sim o desprestígio dos principais ouvintes desses depoimentos que não compareceram à quase totalidade do primeiro depoimento. No plenário, estavam presentes apenas o presidente da CPI, vereador Dudu (PT), e o vereador Aluísio Sampaio (PP). Um bom tempo depois se fez presente no plenário os parlamentares Enzo Samuel (PDT), tendo dado uma passadinha por lá também o vereador Edson Melo (PSDB), mas apenas para cumprimentos e saiu, o mesmo fez o parlamentar Evandro Hidd (PDT). Já os outros 24 vereadores não deram as caras. 

Assista a sessão desta quinta-feira (24/06):


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