"PRODUTORES TÊM CONDIÇÕES DE FAZEREM AS ESTRADAS"

Um vídeo com um depoimento num tanto “infeliz” proferido pelo deputado estadual Ziza Carvalho (PT) acabou viralizando nas redes sociais nos últimos dias. No vídeo, o parlamentar diz que o Governo do Piauí, que é governado por Wellington Dias (PT), não deveria fazer estradas na região do cerrado piauiense voltadas para exportação de grãos tendo em vista que os grandes produtores têm até aeroportos privados em suas fazendas, deixando a entender que eles próprios deveriam fazer as estradas.

No vídeo, o parlamentar ainda questiona o fato dos investidores desses latifúndios de produção de soja no Sul do Piauí não serem nativos. Logo nessa segunda-feira (23), o parlamentar não pediu desculpas aos grandes empresários e apenas justificou o vídeo como sendo um momento que estava em sua fazenda em Simplício Mendes e que as imagens vazaram de um grupo onde tinha apenas amigos, tendo a conversa sido num momento de discussão particular.

Deputado estadual Ziza Carvalho (PT).

Em um dos trechos do vídeo o deputado fala: “eu conheço fazenda de 50 mil hectares de soja e milho. Eu conheço fazendas que tem aeroporto privado melhor do que aeroportos públicos que a gente pousa aqui em Teresina. E eles estão precisando de estrada? Eles fizeram aeroportos, cabines para receber visitantes no aeroporto. Tem aviões, tem jatos. (…) e estão reclamando de estradas? Que o Governo não faz uma estrada. Governo não tem que fazer estrada ai não (…)”, fala Ziza Carvalho.

O assunto do vídeo foi bastante repercutido no início desta semana na Assembleia Legislativa do Piauí (Alepi) e o próprio Ziza fez questão de procurar a imprensa para falar sobre o ocorrido.

Primeiramente, quero dizer que o vídeo que viralizou era um vídeo num ambiente privado na minha chácara em Simplício Mendes, numa reunião informal entre amigos. Uma confraternização de um grupo privado e enviado apenas num grupo de wasthapp com cerca de 60 pessoas para consumo e debate de seus integrantes. Infelizmente, esse vídeo viralizou e eu como pessoa pública preciso, logicamente, justificar os pensamentos que ali eu falei”, afirma o deputado.

O deputado não pediu desculpas pelas palavras ditas, mas reconheceu que o tom do discurso foi exagerado. “Se fosse num debate público não teria falado naquele tom. No ponto de vista da questão de fundo há determinados exageros que eu falei, mas no contexto que discutimos era as obras de rodovias no Piauí de Norte a Sul e a PP da Transcerrados. Antes, estávamos discutindo isso, porque já foi assinada essa PPP em Junho e é uma rodovia  que tem viabilidade econômica para própria iniciativa privada construir e fazer manutenção e exploração com cobrança de pedágios”, explicou Ziza.

Ainda segundo o deputado, em sua fala no vídeo ele queria destacar a importância de se priorizar outros arranjos produtivos que o pequeno e médio produtor produzem para o Estado. “Temo o mel orgânico, a galinha caipira, a vacaria, a produção leiteira que 50% dos produtores já encerram suas atividades. Tudo isso porque a política econômica do País está focada na exportação de comodis, visto que o dólar tá quase R$ 6 reais e temos um grande produtor altamente beneficiado com essa alta. Já o pequeno que antes, há dois anos, pagava R$ 35 numa saca de milho, mas hoje paga mais de 60 reais. A saca de soja que era 60 hoje é 130, isso mostra como os grandes produtores estão lucrando”, ressalta o deputado.

Para o Parlamentar, a política nacional só está dando lucros ao grande produtor do Cerrado, enquanto isso o pequeno produtor está quebrando. “Uma galinha para engordar você gasta mais de 100 reais de milho, mas você só vende a galinha por R$ 40, onde é que fecha essa conta. Vale lembrar que 70% do alimento na mesa do povo vem do pequeno e médio produtor”, se reexplica o deputado.

O deputado disse ainda que usou termos pesados e fortes, mas isso, segundo ele, foi bom porque fez surgir o debate e ele já deu várias entrevistas sobre o assunto. “O vídeo extrapolou na questão do exagero, talvez tenha usado uma metáfora muito pesada para o debate público, mas é bom que puxou a importância desse debate na sociedade. Já dei três entrevistas e vou ainda pra tv para puxar esse debate da importância do crédito para o pequeno e médio produtor”, se vangloriou Ziza.

O parlamentar fez ainda uma ressalva, dizendo que o grande produtor latifundiário é importante para o estado, mas que o Estado deve optar por PPPs sempre que possível. “O Estado deve fazer PPPs, como essa da Transcerrados, porque lá se mantem, a quantidade de escoamento que tem da produção é alta e os próprios produtores podem com esses lucros manterem as estradas”, garantiu. 

Foto das condições da rodovia Transcerrados no Piauí. (imagem: Aprosoja)

Ziza Carvalho disse ainda que sua fala não tem nada haver com a opinião do seu partido ou colegas da Alepi. “Minha fala não foi um debate público, mas como viralizou digo aqui que é uma opinião única e exclusivamente minha e respondo pelos meus atos. A posição quem responde sou eu, não é o governo”, reforça.

O político disse ainda que é preciso debater e normatizar a produção de grãos no Sul do Estado tem em vista que esse monopólio de monocultura pode se expandir e prejudicar outros arranjos produtivos também importantes para o Piauí. “Daqui um tempo vão estar plantando soja até na areia da praia. O mundo, lá a China, não quer saber como o produtor produz, se usa agrotóxicos, desmata, agride a natureza, eles querem é o produto. Por isso, é preciso regular isso para que o agrotóxico usado na soja não chegue até a produção de mel e destrua as abelhas, não chegue até o pequeno produtor que também movem a economia do Piauí”, pondera Ziza.

Questionado se havia ingerido bebida alcóolica quando gravou o vídeo, o deputado disse que sim, mas nada além da conta. “Sou um caro exagerado e polêmico, tava bebendo vinho sim, mas controladamente; o exagero ali e a eloquência não foi por isso não, sou um cara assim nas minhas opiniões”, retrucou Ziza Carvalho.

A FALA DO DEPUTADO CAUSOU INDIGNAÇÃO AOS PRODUTORES DE SOJA

NOTA DA APROSOJA

Não há de fato muitos piauienses que plantam soja nos nossos cerrados, se de forma míope entendermos que piauiense é aquele que nasceu neste estado. Não houve interesse no cerrado por nenhum dos nativos que aqui passaram também. Os índios e seus ancestrais sequer repararam as pobres terras secas do cerrado. Desde os tempos pré-coloniais nunca houve maiores interesses no cerrado. Neste entendimento, os Silva, Santos, Sousa e Carvalhos, elite europeia vinda de Portugal que nasceram nestas terras também não tiveram este interesse em produzir. Verdade que há uma certa vocação do povo sulista para tornar terras praticamente inférteis em solos de cultura.

Mas a discussão míope que adorna este cenário é de uma flacidez estonteante. Justificar a falta de infraestrutura devido ao fato de a região crescer pelas mãos de “imigrantes”, que trouxeram riquezas e criaram suas famílias nestes solos, é no mínimo desconhecer a história do próprio povo. Felizmente, nota-se que a classe política está compreendendo que a vocação do Brasil, do Piauí é o agro. Isso ficou ficou muito evidente durante essa pandemia, já que o #agronaopara, ao contrário de alguns mandatários que, eleitos pelo povo, deveriam trabalhar pelo povo e pelo seu estado, mas preferiram se isolar e, enebriados, expõem uma visão pequena que, nem de longe, reflete a grandeza do Estado do Piauí, que é acolhedor e cresce, ao padrão chinês, graças ao agro.

Imigrantes sempre foram estigmatizados mundo a fora. E as figuras mais preconceituosas os marginalizam. Mas a grandeza deste povo que vem e enfrenta as dificuldades de abrir um novo começo e propiciar aos antes pobres municípios, hoje serem os municípios mais ricos do estado com o menor investimento público. Lamentável a visão tacanha de alguns. Temos certeza que não representa a visão da maioria. Viva o agro piauiense, viva seu povo e sua ousadia.

Poderíamos em números rápidos mostrar o que estes “forasteiros” colocam nas mesas de todos sejam brasileiros ou chinesas. A soja que alimenta os rebanhos, que produz o óleo, que faz a maionese, que gera o biocombustível, que muda rotas, que engorda o gado, o frango, suíno e peixe. São mais 2,6 milhões de toneladas, que multiplicam riquezas e movimentam a economia. Que permite uma mercearia no interior do Piauí vender mais, e contratar mais pessoas, que permite um piauiense do semi árido comprar um milho mais barato e um pernambucano servir um prato feito para um caminhoneiro paraibano que leva uma carrada de farelo de soja para a granja no seu estado tudo isto sem preconceito.

Viva o agro piauiense. Viva a diversidade!

Alzir Pimentel Aguiar Neto – Presidente da APROSOJA PIAUÍ

NOTA ABRASEL


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