Há uma semana foram divulgadas informações sobre a morte de 6 detentos da Cadeia Pública de Altos (CPA) ano passado. Segundo revelou o ELPaís Brasil no último dia 2 de abril, uma perícia do Ministério da Saúde aponta que eles definharam até morte por desnutrição. E isso levanta uma outra questão: quanto custa uma quentinha para o sistema prisional do Piauí?
MERECEM SOFRER?
Antes que indignação social do leitor dê voz à uma ideia distorcida de que presos precisam ser punidos e não merecem ser bem alimentados, não vamos abordar direitos humanos aqui. Apenas levantar uma questão: afinal, se tinha dinheiro pra comida e esse pessoal todo estava desnutrido, para onde é que esse dinheiro estaria indo de verdade?
Alguma coisa está errada!
O Política Dinâmica perguntou à SEJUS quanto custa alimentar cada detento do Piauí por dia, mês e ano. O calado foi a resposta até aqui. Não constam nos murais de licitação e contratos do Tribunal de Contas do Estado valores de licitações de refeições e quentinhas, como era feito até algum tempo atrás. Estão disponíveis apenas três contratos já executados entre fevereiro de 2019 e fevereiro de 2020.
SENTE SÓ O CHEIRO!
Nesse intervalo de 1 ano, a SEJUS comprou R$ 28 milhões de comida para 4.700 presos. Biscoitos, frutas, carnes... Nos contratos não falta nem tempero. Isso dá, em média, R$ 16,30 de comida por dia para cada um deles. Sem contar os custos de preparação -- gastos com energia, gás, embalagens, mão de obra.
Na Zona Leste de Teresina, é possível encontrar restaurantes que fornecem quentinhas a R$ 12,00 e não cobram a entrega se foram mais de 10 quentinhas no pedido.
Entre os meses de março e maio de 2020, aproximadamente 200 dos 656 presos da CPA precisaram de atendimento médico. E pelo menos 56 deles precisaram ser internados em hospitais de Teresina.
GESTÃO DA SEJUS É SUSPEITA
Em nota a SEJUS esclareceu ter dado assistência aos detentos, que chegou a limpar as instalações da cadeia e que redobrou a atenção com a saúde dos presos. Mas não fala sobre alimentação.
Procurado pelo Política Dinâmica, o Departamento de Nutrição da Cadeia de Altos ficou em silêncio por determinação do secretário Carlos Edilson. Ele é o mesmo secretário suspeito de participar do desvio de recursos públicos junto a empresas que fazem parte do esquema de aluguel de carros investigado pela Operação Topique.
VÃO ABAFAR?
A Defensoria Pública do Piauí, por meio de sua Diretoria Criminal, confirmou que buscará reparação em relação às mortes ocorridas na Cadeia Pública de Altos. Segundo o defensor público Dárcio Rufino de Holanda, existe um inquérito civil aberto onde já foi anexado o relatório sobre a desnutrição que levou os presos à morte.
A reportagem do portal Política Dinâmica também entrou em contato com a Ordem dos Advogados do Brasil no Piauí. A assessoria de comunicação prometeu uma manifestação da Comissão de Direitos Penitenciários e dos Direitos Humanos sobre o caso. A redação da nota, segundo a OAB-PI seria do advogado Lúcio Tadeu, mas uma semana depois, nada foi enviado.
Por mais estranho que pareça, estão cozinhando o assunto.
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