QUANTITATIVAS RUINS; QUALITATIVAS PÉSSIMAS

É provável que em breve a advogada Alynne Patrício permaneça por alguns dias como presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Piauí. O movimento é um apelo de advogados no entorno do procurador Celso Barros Neto, atual presidente da OAB-PI, para tentar salvar a viabilidade de uma reeleição este ano.Expectativa: para criar narrativa de campanha eleitoral, Celso deve abrir espaço para a advogada Alynne Patrício assumir presidência da OAB-PI por uma semana (foto: Instagram)

MOTIVAÇÃO BASEADA EM PESQUISAS

Várias pesquisas sobre o pleito futuro têm sido realizadas nos dois últimos dois meses tanto por quem está na oposição, quanto por quem está na situação. No início de novembro de 2020, foi feita a primeira pesquisa do grupo de Celso Barros. Um desastre: a rejeição ao nome do presidente já estaria alcançando quase o dobro das intenções de voto nele, que não alcançou 20%. Nenhum nome de oposição pontuou com mais de 6%. Em 2018, Celso foi eleito com 41% dos votos válidos.

Do ponto de vista qualitativo, a avaliação da gestão tinha soma maior de ruim e péssimo do que bom e ótimo. A aprovação estava um pouco acima dos 60%. Um terço dos que disseram aprovar a gestão de Celso, não souberam dizer o motivo da aprovação.

Tá cada vez pior: pesquisas apontam um cenário muito ruim para Celso tentar reeleição (foto: Jailson Soares | PoliticaDinamica.com)

Fica pior. Quase a totalidade dos que reprovam a gestão, foram direto em três pontos: falta de independência da Ordem, falta de apoio ao advogado e – olha a bronca! – gestão machista.  

QUALITATIVA

Os entrevistados citaram que a OAB-PI tem sido muito acanhada em cobrar do Tribunal de Justiça mais produtividade (principalmente durante a pandemia) e se queixaram sobre gastos feitos pela gestão de Celso com recursos enviados pela OAB Nacional, que ao invés de beneficiar diretamente advogados mais prejudicados com a falta de renda por conta da pandemia, terminou por bancar pós-graduações online desnecessárias no período.

O espanto veio no cruzamento de dados entre o perfil dos entrevistados e as respostas que apontavam a gestão como machista. Tanto advogados quanto advogadas possuíam a mesma percepção, o resultado foi quase meio a meio, ou seja, essa queixa estaria longe de poder ser encarada como um “mi mi mi”. O problema é real. Motivado, talvez, por relatos, prints e áudios que se espalham em grupos de advogados em Whatsapp e Telegram, dando conta de que o presidente e alguns de seus mais próximos diretores engrossam a voz e sobem o tom quando confrontados por advogadas. Piadas e ironias também seriam mais frequentes sobre o comportamento de advogadas, quase nunca de advogados. 

DISCURSO VAZIO

Celso foi, então, orientado pelos mais próximos a fazer dois movimentos para dispersar a visão machista de sua gestão: primeiro, votar a favor da paridade de gênero durante o Colégio de Presidentes da OAB em 14 de dezembro. Foi o que ele fez. A paridade, aliás, foi aprovada por unanimidade.

Em segundo lugar, ele tiraria alguns dias de folga da OAB e deixaria Alynne Patrício por pelo menos uma semana no cargo. Seria algo como fez e faz o governador Wellington Dias (PT), tanto quando a advogada Margarete Coelho (PP) era sua vice-governador, quanto agora, com sua atual vice Regina Sousa (PT). Wellington Dias entregou o comando do Governo do Estado do Piauí a Margarete 7 meses após assumir em 2015. Regina despachou como governadora em exercício 16 dias após ser eleita vice.

Só para se ter noção do apego de Celso ao cargo: Alyne é a vice-presidente da OAB e não ocupou a presidência por nenhum dia nos últimos 2 anos. Celso avaliou que sua postura na votação já estaria de bom tamanho e que, talvez, ele pudesse fazer esse gesto de deixar uma mulher assumir a OAB durante uma semana no mês de março de 2021, o “mês da mulher”. Essa postura fala por si.

Interesses pessoais: enquanto se movimentava para emplacar Aurélio no primeiro escalão de Doutro Pessoa, a rejeição ao presidente da OAB-PI crescia junto com os rumores de que ele estava trabalhando para abafar polêmica em Parnaíba (foto: Reprodução)

A preocupação de Celso, naquele momento, era confirmar a indicação do advogado Aurélio Lobão para Procuradoria-Geral do Município de Teresina, o que foi acompanhado pelo Política Dinâmica e confirmado em seguida pelo prefeito Doutor Pessoa (MDB).

ASSÉDIO 

Veio então a segunda pesquisa, feita entre os dias 21 e 23 de dezembro. E que deveria trazer uma melhora nessa avaliação machista da gestão de Celso, não fosse um imprevisto: se espalhou na classe de advogados a informação de que Celso Barros Neto estaria trabalhando para abafar o caso de assédio sexual sofrido por uma advogada em favor do agressor, que é presidente da subseção da OAB-PI em Parnaíba. O caso corre em sigilo de Justiça.

O retrato da "paridade": grupo de Celso Neto fez pose para foto em festa patrocinada pelo advogado Raimundo Júnior, uma semana antes da votação por igualdade de gênero na OAB (foto: reprodução)

Os poucos – e conhecidos – advogados que restam ao lado de Celso, voltaram a recomendar que Celso fizesse um gesto público de dar destaque a uma mulher em sua gestão. Agora não apenas Alynne, mas recrutar quem ainda estiver por ali para pautas positivas. O que não deve ser muita fácil de acontecer, afinal, a gestão de Celso também ficou marcada pelo grande número de mulheres se vendo obrigadas a entregar seus cargos, sendo a vítima de abuso sexual em Parnaíba uma delas.

Celso está quase convencido de que deve fazer mesmo alguma coisa. Neste domingo, ele recebe o resultado da pesquisa deste mês de janeiro.

A depender do resultado, talvez comece a procurar outro nome para apoiar. 

Comente aqui