PUXADINHO DO KARNAK

A intromissão escancarada do governador na eleição para conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Piauí (TCE-PI), ocorrida ontem (16) na Assembleia Legislativa do Piauí (ALEPI), mostrou que os poderes no Piauí não são tão independentes como deveriam. Na verdade, o Executivo é quem costuma ditar as regras e o governador não faz questão de esconder essa situação. Mas desta vez, o “jogo” feito por Wellington Dias (PT) para eleger a deputada Flora Isabel (PT) para o cargo "foi uma vergonha", no entendimento de muitos parlamentares.

Oposição ficou descontente com "manobra" do governador minutos antes da eleição (foto: Jailson Soares | PD)

Em entrevista, o deputado Júlio Arcoverde (PP) disse ser um dia muito ruim para Assembleia. “Vejo isso com muita tristeza. Foi notória a grande interferência do governador nesta eleição que deveria ser uma escolha dos deputados. Já era esperado, mas hoje foi a maior de todas [as interferências] num processo que deveria ser da Assembleia Legislativa”, destacou. 

A deputada Teresa Brito (PV) foi ainda mais direta e disse que o resultado da eleição demonstra que quem manda em tudo é o governador. “O Governo do Estado mandou mesmo e toda sua base obedeceu", reclamou.

Para o deputado Wilson Brandão, que concorreu a vaga de conselheiro, a disputa foi marcada pela opressão do governo. "Vejo o resultado com muita tranquilidade, muita serenidade, e só lamento muito que a Assembleia Legislativa escreve em seus anais uma página triste da sua história, quando a democracia perde a luta para a pressão e para a opressão”, criticou o Brandão.

A intromissão de Wellington demonstra que a oposição ao governador ainda é tímida e que, mesmo a contragosto, alguns parlamentares vão ficar ao seu lado até as vésperas da eleição de 2022, para não perder o osso que roem no governo.

Deputado Flávio também retirou candidatura, mas não declarou apoio à outro candidato (foto: Jailson Soares | PD)

O deputado Hélio Isaías (PP), por exemplo, se mostrou corajoso ao pedir exoneração da secretaria de Transportes para poder votar na eleição pra Conselheiro, inclusive declarando voto num candidato que não o de Wellington Dias. Deu a entender que sua decisão teria contrariado a do governador, que pediu a que ele não saísse do cargo e deixasse um suplente votar em Flora Izabel. 

Mesmo com o apelo, deixou a pasta e pareceu que seria mais um a cortar os laços políticos com o PT. Engano. Foi para mais uma reunião com o governador e voltou de lá realinhado com o governo, anunciando a desistência do seu candidato, Zé Santana (MDB), e declarando apoio a candidata da base, Flora Izabel. 

Vale lembrar que Hélio é do partido do ministro Ciro Nogueira, presidente do principal partido de oposição ao governo. Preferiu não apoiar o candidato do seu partido e votar no PT e garantir a volta ao cargo de secretário.

Outro da oposição que avaliou o processo foi o deputado Gustavo Neiva (PSB). Para ele, a intromissão do Executivo dentro do Legislativo é comum, mas dessa vez foi além do que se vê. “Isso faz parte do jogo. Os trinta deputados escolheram livremente a deputada Flora. Parabéns à deputada e espero que ela desempenhe o papel à altura das demandas e da importância que tem o Tribunal de Contas do Estado", frisou, jogando a responsabilidade, também, na beneficiada direta da movimentação de Wellington.

Suplente de deputado, Ziza Carvalho comemora mais uma vitória do seu partido, o PT (foto: Jailson Soares | PD)

De todo modo, a vitória de Flora Isabel revigorou os ânimos dos petistas mais ferrenhos da Assembleia. O deputado Ziza Carvaho (PT) -- que também planejou sua candidatura, mas retirou antes mesmo do início das inscrições -- vibrou ao ser anunciado o resultado da eleição que deu vitória à Flora. O deputado Franzé Silva (PT) fez questão de enaltecer a contestável intromissão do governador na decisão dos parlamentares. “O governador foi o grande vencedor do pleito. Com muita maestria, ele conseguiu trazer a base de volta para um processo que era importante”, avaliou.

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